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Você sabe o que é a Síndrome Alcoólica Fetal?

Consumo de álcool durante a gravidez pode levar à SFA, ocasionando problemas desde comportamentais até má-formações cardíacas, renais e musculoesqueléticas.

Por Alice Arnoldi
Atualizado em 10 set 2021, 11h45 - Publicado em 9 set 2021, 15h35
Mulher grávida segurando taça
 (Arte: Bebê.com.br / Foto: Space_Cat/Getty Images)
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“É só uma cervejinha!”. Se esta frase parece inofensiva em uma sexta-feira acalorada, após o trabalho, ela ganha outro peso quando estamos falando do consumo de álcool por gestantes, independente da fase da gravidez. Isso ocorre porque, mesmo em baixa quantidade, a substância é capaz de ultrapassar a placenta, chegar até o feto e ocasionar a chamada Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) – condição que acomete de seis a nove bebês entre 1000 nascidos, de acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

“É um conjunto de sinais que ocorre com o bebê de uma mãe que consumiu álcool durante a gestação”, explica a ginecologista e obstetra Mariana Rosario, membro da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (SOGESP). Para a gestante, não há nenhuma consequência visível da SAF, entretanto, não se pode dizer o mesmo sobre o feto em desenvolvimento.

Cabe ao obstetra sinalizar para a mulher a respeito da ingestão de bebidas alcoólicas durante a gravidez e notificá-la em relação ao crescimento do bebê, umas das maiores preocupações deste período. “Quando pequenos, em mães que consomem álcool, temos que pensar que essa Síndrome está se desenvolvendo”, ressalta a obstetra.

Sinais após o nascimento do bebê 

Mariana ainda pontua que a SAF, assim como outras condições, possui espectros. “O que significa que nem sempre o bebê tem todas as alterações causadas por ela. Ele pode ter pequenas mudanças, que vão ser descobertas apenas depois do seu nascimento, por exemplo”, completa a especialista.

Nos casos mais graves, a pediatra Jacqueline Padovesi, especialista em pneumologia pediátrica pela USP, cita as principais alterações causadas pela condição. “Elas englobam aspectos comportamentais, de memória, aprendizado, atraso de fala, alterações da face, além de mudanças cardíacas, renais e musculoesqueléticas“, esclarece a médica.

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A pediatra ainda reforça que os cuidados com o recém-nascido, em caso de Síndrome Alcoólica Fetal, precisam ser redobrados. Normalmente, devido a restrição de crescimento durante a gestação, ele tende a ser um bebê PIG, isto, é, pequeno para idade gestacional. As consequências disso podem gerar problemas como hipotermia e hipoglicemia, além das advindas da reprogramação metabólica que o feto sofre devido à SAF.

“Isso propicia maiores chances de diabetes, hipertensão e obesidade no futuro, visto que ele viveu em um regime de restrição dentro do útero e, por isso, o corpo dele está preparado para armazenar”, detalha Jacqueline.

E ainda que no ultrassom morfológico realizado na gestação seja possível observar as mudanças que vão desde os problemas cardíacos até os renais, os sinais faciais da SAF ficam mais visíveis após o nascimento do bebê. A pediatra Conceição Segre, do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool, exemplifica: “Pálpebras pequenas, a porção vermelha do lábio superior é muito estreita, a base do nariz é achatada e as orelhas têm implantações baixas”.

O desafio do diagnóstico 

Como as três especialistas adiantam, não existe um teste pedido para a gestante para verificar a SAF. O quadro baseia-se na honestidade de relatar o consumo de álcool na gravidez e, a partir disso, o olhar atento do profissional para possíveis alterações nos exames rotineiros.

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“O ultrassom morfológico pode detectar algumas alterações que estão associadas à Síndrome Alcoólica Fetal. Só que são mudanças que não são patognomônicas da SAF, isto é, elas não estão presentes apenas neste síndrome, podem acontecer de forma isolada ou em outras condições. Portanto, o conjunto das alterações associado ao consumo de álcool na gestação é o que fecha o diagnóstico e não apenas os achados do exame”, esclarece Jacqueline.

Assim, Conceição lembra que não há uma dose segura de álcool que a gestante pode ingerir, sem que isso possa colocar o bebê em risco. “Em questão de duas horas, o sangue fetal já tem concentrações de álcool semelhantes as da mãe. Fora isso, o feto não tem enzimas que metabolizam o álcool em nível adequado, portanto, a substância é eliminada pelo líquido amniótico, o qual vira uma verdadeira piscina alcoólica em que o bebê fica mergulhado durante muito tempo”, pontua a especialista.

Quando a mulher deve parar de ingerir álcool?

Mariana orienta que as mulheres parem de consumir bebidas alcoólicas três meses antes de iniciar as tentativas de engravidar, já que os óvulos começam a ser recrutados neste intervalo antes da ovulação em si.

Já para as mulheres que engravidaram sem planejamento, o consumo de álcool até a descoberta pode trazer os mesmos prejuízos para o feto. Neste caso, é importante que o obstetra seja alertado sobre o ocorrido para que ele monitore com mais cautela o crescimento do bebê durante a gravidez e, caso perceba alguma alteração no pequeno após seu nascimento, ele seja encaminhado para o pediatra com todas as ressalvas.

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