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Cardiopatia congênita: tudo sobre sintomas, diagnóstico e tratamento

As doenças cardíacas inatas são mais frequente do que se imagina, mas, ainda bem, é possível tratá-las na grande maioria dos casos. Entenda!

Por Chloé Pinheiro
29 jun 2018, 11h34
Cardiopatia congênita: tudo sobre sintomas, diagnóstico e tratamento
 (Ulza/Thinkstock/Getty Images)
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Um em cada 100 bebês nascidos vivos é portador de alguma cardiopatia, nome técnico para defeitos no funcionamento do coração. “É a anomalia congênita mais comum no país e são mais de quarenta tipos de cardiopatia, com subtipos que variam em sua gravidade”, explica Sandra Pereira, cardiologista pediátrica da clínica Perinatal, no Rio de Janeiro.

Receber um diagnóstico desses pode assustar os pais, mas não há motivo para pânico. Primeiro porque a maior porção das cardiopatias é leve. Ou seja, não oferece grandes riscos aos pequenos. “Para se ter ideia, a válvula aórtica bicúspide, que é a mais comum das cardiopatias, é muito benigna e não exige intervenções, apenas acompanhamento”, aponta José Cícero Stocco Guilhen, cirurgião cardíaco pediátrico do Hospital e Maternidade Santa Joana, de São Paulo.

Depois, porque hoje em dia mesmo as mais complexas são corrigíveis. “Na maioria dos casos a criança chega à adolescência e vive uma vida praticamente normal”, tranquiliza Guilhen. Mas, para que isso aconteça, é preciso identificar e tratar logo o problema. E esse é o principal desafio no combate das cardiopatias no país e no mundo.

“Trata-se de uma área com poucos médicos especialistas e vagas na UTI neonatal, assim como centros de referência para o tratamento”, destaca Cristiane Binotto, cardiologista pediátrica do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba. Para melhorar esse cenário, é preciso também aumentar a comunicação sobre as cardiopatias. Por isso, apresentaremos mais sobre elas abaixo.

Os tipos

Durante a gravidez, o sangue que o bebê recebe é transmitido pelo cordão umbilical e oxigenado pelos pulmões da mãe. O coração tem um pequeno desvio que impede que o sangue chegue aos pulmões ainda em desenvolvimento do bebê, o canal arterial. Quando o pequeno deixa a barriga da mãe e passa a respirar por conta própria, o canal deve se fechar e o coração começa a funcionar livremente e é a partir daí que a cardiopatia pode ameaçar de fato o bebê.

Por conta disso, em poucos casos é preciso fazer algum tratamento ainda no útero. “Só costumamos fazer isso quando há uma obstrução séria na aorta, condição rara que prejudica o crescimento do coração, pois nesse caso o risco de complicações da doença é maior do que o risco da cirurgia”, aponta Cristiane.

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Fora esses casos mais sérios, que são raros, 40% dos pequenos cardiopatas são portadores de CIV (Comunicação Interventricular), quadro em que existe uma espécie de buraco entre os dois lados do coração. “Assim, o pulmão recebe o sangue oxigenado que deveria ir para o resto do corpo e fica sobrecarregado”, explica Sandra. O espaço tende a diminuir sozinho com o tempo, mas às vezes é preciso fazer a correção pela cirurgia.

No oposto do estímulo excessivo do pulmão, está o baixo uso dele. É o caso das cardiopatias cianóticas, que tem esse nome por conta da cianose, processo que tinge os lábios e pele de tons de azul e roxo. “O lado direito do coração, que deveria mandar o sangue para ser oxigenado no pulmão, não funciona como deveria então há pouco fluxo para o órgão”, detalha Guilhen.

O sangue que o bebê recebe, que deveria ser arterial, abastecido de oxigênio nos pulmões, acaba sendo misturado ao venoso e, assim, a cor arroxeada aparece. Desse conjunto de doenças, a mais comum é a Tetralogia de Fallot, que apresenta diferentes graus de obstrução. E ainda existem as malformações, arritmias, síndromes…  Ufa! O panorama é extenso, mas só 2% dos casos são considerados muito graves.

Fatores de risco

Embora ter um filho cardiopata aumente as chances de que o próximo tenha a mesma condição, as cardiopatias não são hereditárias. “Geralmente, ocorre uma mutação aleatória nos genes que provoca o defeito”, aponta Guilhen. Mas há síndromes cromossômicas que aumentam o risco de uma doença do tipo – até 30% dos portadores de Síndrome de Down é cardiopata. O uso de álcool e de certos medicamentos pela mãe durante a gravidez e a presença de doenças como a rubéola congênita também estão associados a alterações cardíacas.

O coração do prematuro

A prematuridade não está ligada a uma cardiopatia, mas sim ao canal arterial, que ainda não está pronto para começar a fechar quando o bebê nasce antes da hora. “Esperamos o canal fechar espontaneamente, mas nem sempre isso ocorre no prematuro”, comenta Guilhen. Nessa situação, os médicos tentam primeiro acelerar o fechamento com remédios e, se não der certo, é preciso fazer uma cirurgia.

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Como é feito o diagnóstico

O ideal é que ele seja feito ainda na gestação, com o ecocardiograma fetal, ultrassom feito por um especialista em cardiologia pediátrica. Ele deveria ser parte da rotina do pré-natal, mas costuma ser solicitado hoje somente quando alguma alteração suspeita no funcionamento ou formato do coração aparece no ultrassom morfológico, que é feito a partir da 23ª semana de gravidez.

Algumas doenças já são flagradas nesta fase, mas, como o pulmão ainda encontra-se “desativado”, outras só chamarão a atenção depois do nascimento. “Por isso, o importante é que se faça o teste do coraçãozinho em todas as maternidades”, destaca Sandra. O procedimento, obrigatório no SUS (Sistema Único de Saúde) desde 2014, coloca um medidor de oxigenação no pé e outro na mão da criança.

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“Se ela estiver abaixo de 95%, o exame é repetido uma hora depois e, caso o índice continue baixo, o bebê só recebe alta depois de ser examinado por um cardiologista pediátrico, pois há a suspeita de que pode existir uma cardiopatia”, orienta Sandra. O teste deve ser cobrado pelos pais e é fundamental, pois algumas doenças, como o canal arterial ainda está aberto, só se manifestarão depois, quando o bebê tiver alta.

Como deve ser feito o parto

Nada impede o parto normal – que, aliás, indica que o bebê estará mais preparado para suportar uma possível cirurgia. Mas, como o nascimento deve ser feito em um centro de referência, com infraestrutura adequada para complicações e realizar os procedimento necessários, que são complexos, os partos costumam ser programados. Isso porque a intervenção cirúrgica é comum. “E, se o bebê precisar de transferência, podemos ter problemas de instabilidade”, comenta Guilhen.

Fique de olho

Nem sempre a cardiopatia será flagrada logo cedo. Por isso, dê atenção à a sinais como cansaço e dificuldade para respirar entre as mamadas e dificuldade de ganho de peso, que costumam aparecer perto do primeiro mês de vida. Nas crianças mais velhas, as infecções respiratórias persistentes, desmaios pele pálida, sensação de coração acelerado e cansaço durante a realização de atividades rotineiras também podem ser sintoma de algum problema no peito que passou batido no início da vida. Caso perceba algo do tipo, vale consultar um especialista.

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