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Setembro amarelo: 5 frases para não dizer a uma mãe com depressão

Ainda que elas sejam ditas com boas intenções, essas frases podem acabar invalidando os sentimentos da figura materna e trazendo ainda mais culpa.

Por Alice Arnoldi
Atualizado em 11 set 2020, 09h33 - Publicado em 10 set 2020, 18h07

Descobrir que um bebê está a caminho e poder segurá-lo pela primeira vez são momentos carregados de emoções singulares para cada mãe. Só que a romantização que ainda existe sobre a maternidade acaba fazendo com que as mulheres não se sintam confortáveis para conversar sobre sentimentos conflitantes que o período traz. Junto a outras questões emocionais, o resultado pode ser o desenvolvimento de um quadro de depressão.

Como explica a psiquiatra Denise Gobo, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), mães podem ser acometidas pelo quadro que é chamado de depressão puerperal. Ele recebe este nome por englobar episódios da doença durante e após a gestação, como o baby blues e a depressão pós-parto (que sim, são diferentes. Entenda aqui!).

O baby blues é um transtorno que pode se mostrar presente a partir do primeiro dia após o nascimento do bebê estendendo-se até quatro ou seis semanas depois do parto. “A mãe entra em um estado de melancolia, tristeza, e com grandes oscilações de humor. Ele acomete até 80% das mulheres e está relacionado a esta fase de adaptação física e emocional”.

 

Caso esse quadro não melhore, Denise pontua que mãe pode vir a desenvolver a depressão pós-parto, que normalmente se inicia um mês após o nascimento do bebê e pode durar de um até dois anos. “Junto com os sintomas do baby blues, a paciente apresenta choro fácil, ansiedade, desinteresse pelo bebê, vontade de fazer mal a ele, irritabilidade, perda ou aumento significativo de peso, cansaço extremo e insônia”.

Ao perceber-se imersa em tais emoções, mães podem ser atingidas em cheio pela culpa avassaladora de que estão sendo ingratas ou completamente diferentes do restante do mundo por não sentirem a felicidade que a sociedade insiste em dizer que elas deveriam viver. Neste cenário, é essencial que a mulher se sinta acolhida e validada perante as próprias emoções para que ela consiga buscar por ajuda profissional.

Para que esse auto julgamento possa dar lugar à empatia e ao autoconhecimento, é necessário que a rede de apoio e outras pessoas que estão no entorno desta mulher fiquem atentas ao que estão repercutindo para que o quadro não piore. Por isso, listamos cinco frases que podem ser ditas com o intuito de ajudar a mãe, mas que acabam reforçando o julgamento e aumentando a culpa – então, evite dizer, ok?

1. “Você deveria estar feliz com o seu filho!”

Gabriela Malzyner, psicóloga e psicanalista pelo Instituto Sedes Sapientiae, reforça que a maternidade é uma experiência que traz momentos de felicidade para a mãe, mas é uma vivência que se estende para além disso.

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“É verdade que nos alegramos com a maternidade, mas é verdade também que a gente se angustia, responsabiliza, culpabiliza, revive experiências afetivas anteriores primitivas, e conflitivas. Sempre que dialogamos com ideais, não estamos falando com o sujeito a nossa frente. Mas com os aspectos imaginários que nós mesmos criamos desse lugar fantasioso da maternidade”, esclarece a especialista.

 

Esse processo pode levar mães a lugares nunca antes visitados emocionalmente, o que pode ser extremamente desafiador. Gabriela detalha que o nascimento do bebê é marcado pelas vivências do puerpério, a tomada de consciência do que é tornar-se responsável por alguém, o rompimento das expectativas do que era ter o filho nos braços, e até mesmo a retomada das suas próprias memórias pessoais da infância.

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2. “O bebê vai acabar traumatizado desse jeito”

Quando as pessoas próximas as mães repetem essa frase, Patrícia Guillon Ribeiro, professora do curso de Psicologia da PUCPR e mestre em Psicologia da Infância e Adolescência, explica que existe um motivo por trás dela. 

Ao ver a mãe fragilizada pelo transtorno psicológico, não é incomum que o outro demonstre receio sobre os prejuízos para a saúde do bebê já que estamos falando de um período que a relação mãe-filho é essencial para o desenvolvimento dele. Entretanto, o que lembra a especialista é que a mulher não pode ser descartada da equação.

“Essa relação é o primeiro passo para o desenvolvimento emocional do bebê. Só que se essa mãe não consegue estar para o filho, nós precisamos olhar para ela enquanto mãe e mulher, enquanto alguém que é cuidadora, mas que também precisa de cuidados”, enfatiza Patrícia. Portanto, é essencial que esta pessoa seja acolhida para que, com a melhora do quadro, ela também possa atender as necessidades do filho.

3. “Você não precisa de ajuda profissional. É só se distrair!”

Ao demonstrar sinais como vontade constante de ficar na cama, por faltar forças para conseguir fazer o mínimo por si e pelo filho, as pessoas têm em seu imaginário pessoal que o problema seria facilmente resolvido com uma boa dose de diversão. Mas não é assim que funciona com a depressão.

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“O distrair-se é uma coisa muito momentânea, e essa emoção da depressão é uma tristeza profunda, sentida como algo muito maior do que ela mesma. A mulher com depressão não consegue nem sequer pensar em levantar da cama, tomar um banho, e se arrumar para se distrair. Ela pode até tentar, mas ela não vai ver graça. Porque a depressão pinta a realidade de preto e branco”, explica Patrícia.

A especialista cita o exemplo de quando a mãe é convidada pelo parceiro para sair para jantar. Ela até mesmo tenta ir, fazendo o básico para que a noite seja agradável. Mas dentro de si, não sente nenhum prazer e não consegue de fato se distrair. Isso acaba retornando à mulher como uma avalanche de culpa.

Esse tipo de frase também é prejudicial por subestimar a importância de procurar por ajuda especializada, como terapeutas e psiquiatras. “Essa mulher precisa ser ouvida na sua intimidade, nos aspectos que estão mobilizados, nas suas angústias, tristezas, alegrias, e dar voz às suas emoções, porque é nessa possibilidade de dizer de si mesma, que vamos nos deparando com os elementos que acarretam ou desenvolvem os mal-estares persistentes”, explica Gabriela.

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4. “Isso que você está sentindo é falta de Deus”

Em um país majoritariamente cristão, não é incomum que as pessoas associem os sintomas dos transtornos psicológicos com demonstrações de que a religiosidade da mulher não está fortalecida. Entretanto, como lembra Gabriela, a própria desesperança é um sinal da depressão.

Por isso, é importante que haja acolhimento quando a mãe sinaliza que está sem esperança sobre o futuro. “Dizer que alguém está sem esperança não é uma acusação. É um reconhecimento de um lugar de que tem um pedido de ajuda posto e nós precisamos ouvi-lo, valorizá-lo, incentivá-lo para que ele aconteça e que façamos um direcionamento adequado”, reforça a especialista.

Patrícia também pontua que caso a mulher ouça essa frase de um líder religioso, a tendência é que ela deixe de frequentar a comunidade por se sentir envergonhada e até mesmo culpada. E esse isolamento tende a ser mais um agravante do quadro depressivo.

5. “Já tive filhos e isso nunca aconteceu comigo”

A comparação nunca é um caminho saudável para lidar com qualquer emoção que seja, especialmente em casos de transtornos psicológicos. Ela acaba invalidando os sentimentos das mães e resultam em mais culpa, já que a própria mulher não gostaria de estar naquela situação.

Por isso, o reforço é de que o caminho para ajudá-la precisa ser o oposto. “As mulheres nessa fase precisam ser acolhidas e validadas. Elas precisam que alguém reconheça a emoção estão sentindo naquele período como autêntica e diga que elas estão precisando de ajuda”, detalha Patrícia.

Neste cenário, Denise pontua que é necessário que a rede de apoio seja proativa com esta mãe. Mais do que perguntar se ela precisa de ajuda, é importante partir para como essa mulher quer ser ajudada. Além de dividir as tarefas domésticas e os cuidados com o bebê, pais precisam ser escutas ativas de como a parceira está se sentindo e até mesmo um meio de campo para marcar consultas com profissionais da saúde a fim de que a mãe receba ajuda adequada.

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