O sono do bebê é um dos principais desafios nos primeiros anos de vida, por isso, é natural que não faltem dicas, técnicas e relatos infalíveis de como colocar o pequeno para dormir. O problema é que, entre muitos conselhos inofensivos, há aqueles que podem trazer perigos consideráveis: nos últimos anos, casos de intoxicação de crianças por remédios para dar um empurrãozinho no sono ficaram cada vez mais frequentes.
“Os dados dos Estados Unidos mostram um aumento de intoxicação por melatonina na última década – foram 260.000 casos”, destaca o pediatra Paulo Telles. Ele se refere a um estudo do Hospital Infantil de Michigan que analisa os números de 2012 a 2021 e aponta um crescimento de 530% nesse período.
A melatonina é um hormônio natural do corpo que pode ser usado de forma suplementar, para auxiliar na indução do sono – a questão é que seu uso precisa ser prescrito e acompanhado por um médico, justamente para que seja benéfico e não leve à intoxicação. Para se ter uma ideia, o estudo citado apontou a sonolência excessiva como principal sintoma, mas relatou cinco casos de crianças que precisaram usar ventiladores para respirar, além de duas que morreram.
Além da melatonina
Paulo Telles ressalta que, embora a melatonina esteja na ordem do dia, não é o único recurso buscado por alguns pais e cuidadores. “O uso de antialérgicos, remédios para vômitos, anticonvulsivantes, ansiolíticos e antidepressivos tem sido cada vez maior, infelizmente”, relata. São medicamentos que têm a sonolência como efeito colateral conhecido.
Nas redes sociais, receitas para a chamada “mamadeira nocaute” viralizaram em 2020 a partir do post de uma mãe de Nova York que compartilhou seu “truque” para fazer o filho dormir a noite toda. Apesar do perigo, até hoje a informação circula em grupos da internet. “O conceito é fazer uma mamadeira com leite preparado a partir de fórmula, cereais e até medicamento para febre e dor, e medicação para dormir. Um absurdo sem nenhuma base científica e que acaba sendo divulgado de forma equivocada’, alerta Telles.
Certamente, esse é um comportamento arriscadíssimo, já que coloca a vida da criança em perigo, podendo, em casos extremos, levar ao coma e até à morte. “Medicar um bebê sem orientações médicas para que ele durma mais é criminoso, uma forma inadequada e simplista de resolver uma situação que é absolutamente desafiadora e esperada nos primeiros anos de vida da criança”, o pediatra chama a atenção. “Não existe fórmula mágica. Devemos cada vez mais trazer boas informações, orientar as famílias de forma correta para que consigam ajustar a rotina da casa e do bebê e, aos poucos, todos possam dormir bem“, finaliza.