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Piscina segura: o que prestar atenção para evitar o afogamento infantil

O colete salva-vidas é o item de piscina mais seguro para as crianças, mas nada substitui a supervisão de um adulto

Por Manuela Macagnan
30 dez 2021, 10h00

A cada três dias, uma criança morre afogada em casa, no Brasil. O dado alarmante é da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa) e busca chamar a atenção de pais e cuidadores para que as crianças não fiquem na água sem supervisão. Não, nem usando boia! Não, nem por um segundo!

“O melhor item de segurança é ter os pais ou responsáveis supervisionando a criança à distância de um braço em 100% do tempo. Essa é a melhor medida de todas”, enfatiza David Szpilman, secretário-geral da Sobrasa.

Outro dado chocante é da ONG Criança Segura, que aponta que os afogamentos são a principal causa de morte de crianças de 1 a 4 anos e ocorrem de maneira rápida e silenciosa. “Em apenas dois minutos submersa, a criança perde a consciência. Após quatro minutos, danos irreversíveis ao cérebro podem ocorrer”, alerta as medidas preventivas da ONG, que ainda ressalta que os acidentes não acontecem apenas em piscinas, mar, lagos e rios, mas também em banheiras e baldes. 

Roberta Virna, pediatra da Vibe Saúde, em São Paulo, diz que o ideal é que, até os 4 anos, a criança tenha acesso apenas à área mais rasa da piscina e sempre com um adulto supervisionando. “Essa faixa etária também deve usar colete salva-vidas, que são mais seguros do que as boias, pois não permitem que eles fiquem com a cabeça dentro d’água. E mesmo crianças que sabem nadar, que estejam com o colete e na área rasa da piscina, devem ser mantidas sob supervisão o tempo todo”, explica.

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O pediatra Marco Chaves Gama acrescenta: “O colete salva-vidas é o único indicado para crianças e deve ser certificado de acordo com a NORMAM (Norma de Autoridade Marítima da Marinha do Brasil) e SOLAS (Convenção Internacional para Salvaguarda da Vida Humana no Mar).”

Conversamos com especialistas para saber quais itens usar para deixar a piscina mais segura para a criançada e, assim, guardar apenas lembranças gostosas do verão.

“Meu filho faz natação…”

Claro que saber nadar é um fator importante para evitar o afogamento, mas nada justifica uma criança nadando sem supervisão constante de um adulto – que também saiba nadar. “As aulas de natação são importantes como lazer e para desenvolver uma habilidade, mas não podem ser consideradas como critério para relaxar a atenção de segurança”, ensina Marco Chaves Gama, presidente do Departamento Científico de Segurança da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

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O pediatra ainda acrescenta que o diálogo, como sempre, é a melhor ferramenta para que a criança entenda o perigo do afogamento. Por isso, saliente que ela nunca deve entrar na água sem que um responsável permita e fique supervisionando-a. “É importante orientar e conversar com a criança desde os primeiros contatos com a água, principalmente sobre o uso do colete salva-vidas. Elas entendem desde pouca idade”, diz.

Além disso, a pediatra Roberta ressalta que brincadeiras tipo “lutinha, caldos e cavalinho” devem ser evitadas, pois podem ser perigosas não só pelo risco de afogamento como também pelos acidentes de impacto.

Criança nadando com colete salva-vidas
(Werawongvaen/Getty Images)

 

O dilema das boias

Apesar de populares e atrativas, as boias não são o aparato mais indicado para garantir a segurança das crianças na água e passam uma “falsa segurança”, já que podem se soltar, estourar ou virar. “O único flutuador que realmente protege é o colete salva-vidas”, aponta David.

A seguir, a pediatra Roberta orienta sobre os riscos de cada um dos tipo de boias que encontramos no mercado: 

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  • Boias de bebê estilo cadeirinha: As boias com assento, que possuem um encaixe para que a criança fique sentada, costumam ser indicadas para bebês de até 2 anos, mas a supervisão do adulto é indispensável, pois podem virar e ocorrer acidentes graves com afogamento.
  • Boias de cintura: “Não são seguras, pois a criança pode tirar sozinha”, alerta Roberta, que ressalta que só devem ser usadas por quem já sabe nadar e tem maior desenvoltura na água. E reforçando: sempre com adultos por perto.
  • Boias de braço: Indicada para crianças acima dos 4 anos, este tipo de boia pede atenção. Primeiro, é preciso checar a qualidade do material e o peso para a idade, pois as boias podem furar e não flutuar adequadamente se não forem adquiridas para o peso correto. O material também pode causar alergia na pele, já que fica em contato direto com o corpo. “É importante lembrar que este modelo não permite movimentos muito livres dos braços e deve ser usado por crianças maiores, sempre com supervisão de adultos”, conclui.
  • Maiôs com boias embutidas: Os maiôs com boias embutidas, que não sejam infláveis (com espumas emborrachadas) são seguros para crianças acima de 2 anos, mas que estejam sob supervisão próxima de adultos. “Devem ser escolhidos de acordo com o tamanho [da criança] e suportam até 45 quilos, dependendo do modelo”, orienta a pediatra.
  • Boia tipo espaguete: Popularmente conhecido como “macarrão”, este tipo de boia não deve ser usado como apoio por quem não sabe nadar. “Nunca devemos deixar a criança sozinha com esse tipo de flutuador”, alerta Roberta.

    Cuidado redobrado na piscina de casa!

    E um alerta para pais e cuidadores: Em 2019, 59% das mortes na faixa de 1 a 9 anos de idade ocorreram em piscinas e residências. “Isso acontece porque em casa as pessoas se sentem muito seguras. Quando vão a um rio, à uma cachoeira, à praia, as pessoas cuidam muito da criança. Mas quando se está dentro de casa, acaba-se relaxando e isso só pode ser feito quando você já tomou todas as medidas de segurança”, enfatiza David Szpilman, da Sobrasa.

    “O maior desafio que a gente enfrenta é convencer as pessoas de que o afogamento pode acontecer e acontece com qualquer pessoa, mesmo com grandes nadadores. Basta um mal estar, alguma coisa que diminua a competência aquática, essa pessoa pode se afogar. Então, a melhor dica para quem tem piscina é acreditar que o afogamento pode e vai acontecer. Por isso que a gente chama piscina de ‘mais segura’, porque nunca é 100% segura”, complementa.

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    criança na piscina
    (Vividus/Thinkstock/Getty Images)

    Atenção aos equipamentos da piscina!

    Equipamentos de manutenção e limpeza devem estar desligados quando a piscina estiver em uso. “Alguns ralos podem sugar cabelos, roupas e até pernas e braços dos pequenos, levando-os ao afogamento. Já existem protetores e ralos anti-sucção que podem substituir os antigos, sem proteção”, alerta a pediatra Roberta Virna.

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    Além disso, quando a piscina não estiver sendo usada, siga estas orientações dadas por David Szpilman, da Sobrasa, para aumentar a segurança da criançada:

    • Toda a piscina, tanto residencial quanto de uso coletivo (escolas, clubes, academias), deve ter uma cerca com altura de 1,50m, que seja transparente, que não tenha passagem entre as grades e que não tenha como a criança escalar;
    • O portão da piscina tem que ter trava. E ele deve abrir para fora, assim, se a criança colocar um banquinho para tentar abrir, por exemplo, o portão vai esbarrar nela mesma. Tudo isso para dificultar a criança de entrar na área da piscina sozinha;
    • Lonas e cercas vivas não são confiáveis;
    • Se der, instale alarme na área da piscina.

    “Afogamento não é acidente, não acontece por acaso e tem prevenção”

    David Szpilman, secretário-geral da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa)

    E, como ninguém quer passar por um susto na piscina, o melhor jeito de prevenir é supervisionar o pequeno de perto. Tenha em mente que qualquer fatalidade pode acontecer em pouco tempo, por isso a criança não pode ficar sem atenção nem por um segundo. “Quando confiamos que a criança está segura longe da gente é quando pode acontecer. Por isso, temos que estar o tempo todo olhando para nossos filhos, que são os nossos maiores tesouros”, finaliza Szpilman.

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