Piolhos podem ir para outras partes do corpo, além da cabeça?
Os parasitas adoram o couro cabeludo, mas existem relatos da presença deles em outras regiões, como sobrancelhas e cílios
Uma coceirinha no olho é algo tão corriqueiro que é difícil associarmos, de cara, a algo incomum no nosso corpo. Ou então, podemos pensar em uma alergia ou até mesmo em conjuntivite. Com o passar dos dias, a resposta geralmente se revela, mas e se isso não acontecer? Na China, em Zhengzhou, um menino de 3 anos passou uma semana com este sintoma, sem que a causa exata fosse descoberta. Finalmente, uma visita ao hospital revelou o motivo da coceira: os cílios da criança estavam infestados de piolhos.
Apesar de ser difícil de acontecer, a pediculose (nome dado à doença causada pelos parasitas) pode sim acometer cílios, sobrancelhas, pelos do corpo e também pubianos. A história do garotinho chinês foi divulgada no início deste ano pelo American Journal of Ophthalmology e, segundo os médicos, havia um grande número de lêndeas (ovos do piolho) aderidos à raiz dos cílios superiores direitos e muitos parasitas translúcidos rastejavam lentamente ao longo dos pelos, mas sem prejudicar a visão.
Casos envolvendo piolhos são, de fato, mais comuns de aparecerem nas crianças. “Porque elas têm um contato físico muito maior entre si, principalmente em creches e escolas, onde há mais aglomeração”, explica Camila Makino Rezende, dermatologista do Hospital Pequeno Príncipe. Além disso, na infância, os hábitos de higiene ainda não estão desenvolvidos completamente.
Como os parasitas são insetos pequenos, se alimentam de sangue e não têm asas – eles não voam, como muitos dizem por aí –, a transmissão ocorre pelo contato direto com uma pessoa ou com uma peça de roupa contaminada. Isso é favorável para que o piolho chegue até regiões menos comuns. Vamos entender!
Piolho pode ir além da cabeça
Existem três tipos de piolho que podem ser parasitas dos humanos: o piolho da cabeça (Pediculus humanus capitis), o do corpo (Pediculus humanus corporis) e o da região pubiana (Phthirus pubis), conhecido como “chato”, explica Camila. A pediculose do corpo é comumente passada pelo uso compartilhado de roupas, já a pubiana pode ser adquirida por via sexual.
Não é comum em crianças ou adultos, mas o piolho púbico e o do couro cabeludo também podem infestar os cílios e as sobrancelhas. “Isso ocorre por contato dessas regiões com mãos contaminadas ao esfregar os olhos, por exemplo”, diz a dermatologista. Por isso, quando o pequeno apresenta irritação e coceira constante nos olhos, é importante fazer um exame físico completo e levantar a hipótese de pediculose nessas regiões. Uma avaliação no couro cabeludo pode igualmente contribuir no diagnóstico.
No caso relatado na China, os pais do menino disseram que a criança costumava brincar com areia e esfregar os olhos com as mãos sujas. Sua avó, para ajudar a limpar, havia raspado a área com uma moeda, o que pode ter contribuído para a infestação, embora os médicos não tenham identificado uma causa específica. Por sorte, nem a irmã do paciente nem outros membros da família apresentavam o parasita.
Evitando e tratando a pediculose
O principal sintoma da pediculose é a coceira, que, de tão intensa, pode provocar pequenos ferimentos na cabeça, atrás das orelhas e na nuca, quando a infestação é no couro cabeludo. Nos olhos, causa inchaço, vermelhidão e, no caso de Zhengzhou, havia a presença de secreções anormais. É comum também o aparecimento de ínguas (inchaço dos gânglios de defesa) atrás das orelhas e na nuca. Quando a infestação é pelo corpo, são encontradas escoriações, pápulas (pequenas bolinhas) e manchas, principalmente no tronco, na região dos glúteos e do abdome.
O tratamento varia. “Pode utilizar a permetrina tópica ou medicações via oral, como ivermectina”, pontua Camilia. Sem falar nos outros cuidados fundamentais que são bem aplicados por aí, como remover as lêndeas dos fios com um pente fino – lembrando que é raramente necessário fazer um corte de cabelo na criança.
No garotinho chinês, os médicos precisaram fazer a remoção dos cílios afetados e desinfetaram as pálpebras com uma solução de iodo. Os pais também foram aconselhados a aplicar uma pomada para infecções no olho do filho. Os sintomas, felizmente, foram tratados em sua totalidade.