Miopia em crianças: causas, como prevenir e os sinais
Saiba mais detalhes sobre o distúrbio visual que se caracteriza pela dificuldade de enxergar objetos distantes e como ele acomete os pequenos
Em 2019, no seu primeiro relatório sobre a visão no planeta, a Organização Mundial da Saúde (OMS) elegeu a miopia como um dos problemas de saúde pública que mais crescem no mundo. O documento traz uma estimativa alarmante de que a incidência desse distúrbio visual, que costuma aparecer na infância, deve aumentar de 1,95 bilhão – número obtido em 2010 – para 3,36 bilhões em 2030. E o uso excessivo de telas – que se acentuou durante a pandemia – é um dos grandes responsáveis por isso.
Uma pesquisa publicada em um dos periódicos da Associação Médica Americana e conduzido por cientistas de Hong Kong e da China avaliou crianças com idades entre 6 e 8 anos do Hong Kong Children Eye Study (Estudo Ocular de Crianças de Hong Kong, em tradução livre) entre 2015 e 2021 e constatou que, em 2020, o crescimento do diagnóstico de miopia entre os participantes de 6 anos foi de 28,8% e, em 2021, de 36,2%. Antes da Covid-19, entre 2015 e 2019, a taxa de miopia mais alta foi de 5,7%.
Miopia: características e como se manifesta
De acordo com Claudia Faria, oftalmologista do Hospital Albert Einstein, a miopia se caracteriza pela dificuldade de enxergar objetos distantes – que ficam desfocados. Mas a visão daquilo que está próximos aos olhos é nítida.
A criança míope apresenta algumas modificações físicas. “O olho é mais alongado do que o normal ou a córnea, a parte transparente na frente da íris, o colorido do olho, é muito curva. Com isso, as imagens se formam antes da retina, o que faz com que as coisas que estão longe pareçam embaçadas”, explica a médica.
Causas da miopia
O início do distúrbio ocorre mais comumente entre 8 e 13 anos de idade e é, basicamente, desencadeado por dois fatores: genéticos e/ou comportamentais. “Foi observada uma taxa mais elevada do transtorno em crianças com pais míopes e um risco ainda maior para crianças com dois pais míopes”, afirma a especialista.
Ademais, os hábitos dos pequenos estão diretamente relacionados ao desenvolvimento da condição. “Muitos estudos relataram uma correlação entre esforço visual prolongado para perto e aumento da miopia”, diz.
Sinais de miopia
Existem indícios de que a criança está desenvolvendo miopia aos quais os pais devem se atentar. Claudia Faria cita alguns deles, como sentar muito perto da televisão ou segurar brinquedos e telas digitais bem próximo do rosto. Além disso, apertar os olhos ao fixar o olhar em determinado objeto é outro sinal de alerta. A queixa de visão embaçada para enxergar de longe – como a lousa na escola – também é frequente.
Diagnóstico e tratamento
Por mais que existam fortes sintomas característicos desse distúrbio visual, para o diagnóstico formal é necessária uma consulta com um oftalmologista, que irá realizar o exame completo – inclusive com a dilatação das pupilas – para conseguir detectar em bebês e crianças, de qualquer idade, se há a miopia e a necessidade de usar óculos.
Segundo a médica, os tratamentos disponíveis para evitar que a miopia piore muito em crianças incluem colírios, lentes de contato e óculos especialmente projetados. “Os tipos de lente de contato que são úteis para retardar a miopia incluem lentes MiSight [lentes de contato descartáveis de correção e controle de miopia em crianças], lentes de contato bifocais e lentes usadas à noite para alterar o formato da córnea, técnica chamada de ortoceratologia”, explica.
Ela ainda alerta: “Embora sejam úteis na redução da miopia, o uso de lentes de contato em crianças deve ser cuidadosamente supervisionado. Pois, se não forem usadas corretamente, podem causar infecções e perda de visão.”
Como proteger a visão das crianças
A oftalmologista conta que o esforço visual prolongado para perto, com menos de 30 centímetros, piora a miopia. “Devemos incentivar as crianças a manterem as telas a pelo menos a 30 centímetros do rosto e a fazer pausas a cada 20 minutos para olhar para uma distância de 6 metros ou mais por alguns segundos”, indica.
Segundo ela, a exposição solar ao ar livre também é capaz de atrasar o início da miopia em crianças. A dica, portanto, é encorajar essa prática por pelo menos uma hora por dia.
A Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP) orienta que crianças saudáveis sejam submetidas a pelo menos um exame oftalmológico completo entre os 3 e 5 anos de idade. E ainda aconselha os pais a incentivarem os filhos a olhar mais para o horizonte, de preferência numa luz natural. Dessa forma, a vista tende a relaxar.
Entre as recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), estão: piscar para estimular a hidratação dos olhos e buscar um especialista para avaliar a necessidade do uso de colírios. Além de ajustar as configurações das telas, incluindo contraste e brilho, visando o conforto.
Pelas recomendações da Academia Americana de Pediatria, há ainda, de modo geral, um limite considerado tolerável de interação com as telas:
- Crianças até 2 anos não devem ter acesso (apenas para se comunicarem com conhecidos através de chamada de vídeo e acompanhadas por um adulto);
- Até os 5, a exposição deve ser de até uma hora por dia (com três intervalos de 20 minutos);
- A partir dos 6 anos, deve-se limitar o uso a duas horas (quatro período de, no máximo, 30 minutos).
Como escolher óculos para crianças com miopia
Claudia Faria afirma que as lentes indicadas para crianças devem ser resistentes e leves, e com proteção UVA. O melhor é que as armações sejam leves e, de preferência, flexíveis, pois são as mais seguras e possuem uma boa durabilidade.
“O ideal é procurar óticas que tenham, além de uma boa seleção de armações infantis, experiência em atender crianças. Se a armação e as lentes não estiverem ajustadas corretamente, tentar fazer uma criança usar o óculos pode ser ainda mais difícil”, recomenda.
Para facilitar o uso, a médica conta como deve ser o encaixe do óculos no rosto do pequeno: “Os olhos devem estar no centro das lentes, não devem tocar as bochechas ou os cílios. Para evitar que deslizem pelo nariz, pode ser indicado usar uma tira atrás da cabeça ou uma haste atrás da orelhas.”