Você já ouviu falar em onicofagia? Se o nome parece estranho, saiba que seu significado não é: trata-se do hábito de roer as unhas. Normalmente associado a situações de ansiedade e estresse, esse ato pode ser mais nocivo do que se pensa, indo muito além do contato com germes que ficam escondidos nas mãos.
“Todo hábito parafuncional, ou seja, que não faz parte da função normal de um paciente, é prejudicial, seja ele na infância ou na idade adulta”, alerta José Todescan Júnior, odontologista especialista em Prótese Dental e em Odontopediatria pela Universidade de São Paulo (USP). “O costume de roer as unhas prejudica os dentes, podendo causar desgastes ou trincas“, explica. Isso, porque é feita uma pressão significativa sobre a arcada dentária, causando irregularidades em sua superfície. Com o tempo, segundo ele, também há um enfraquecimento do esmalte protetor, o que aumenta a sensibilidade.
Essas trincas são as chamadas fraturas dentárias, que podem ir de pequenas fissuras a rachaduras mais consideráveis. De acordo com Todescan, existe a possibilidade de que elas piorem e levem até à perda do dente.
Outro problema que roer as unhas tende a gerar está relacionado à posição dos dentinhos na arcada, levando a um desalinhamento decorrente da pressão repetida, “o que pode exigir o uso de aparelho ortodôntico“, acrescenta o especialista.
O que fazer para a criança parar de roer unha?
“O mais importante é analisar o que leva a criança a roer as unhas: ansiedade? Medo? Insegurança? A origem desses problemas deve ser tratada por um profissional especializado, como um psicólogo“, orienta o odontopediatra. Para isso, lógico, é essencial observar o comportamento do pequeno ao longo dos dias. “É um hábito que pode estar refletindo aspectos emocionais que a criança não exterioriza”, pontua.
Algumas dicas práticas, como usar esmalte próprio para inibir o hábito ou aplicar chá de boldo na pontinha dos dedos, deixando as unhas amargas, também são mencionadas por Todescan (não como forma de “castigo”), mas o essencial, mesmo, é procurar a origem do problema.
Portanto, ao notar que seu filho está roendo as unhas, vale consultar o dentista e, também, avaliar se é interessante levá-lo para uma conversa de avaliação com um terapeuta infantil. Segundo o especialista, é fundamental trabalhar os aspectos psicológicos por trás desse hábito desde a infância – isso, sim, fará a diferença no decorrer dos anos.