Como dar remédio para bebês e crianças?
O momento de administrar medicamentos para os pequenos pode ser um desafio. Confira as dicas de um pediatra e os principais cuidados que se deve ter
Sair de uma consulta pediátrica com uma prescrição de medicamento para bebês ou crianças pequenas pode ser um pesadelo para os pais. Choro, gritaria, ataque de birra… A hora de dar remédio é aquele estresse. Toda a dificuldade se soma ao receio de errar a dose, de a criança cuspir, vomitar. O caos completo. Será que existe alguma maneira de tornar tudo isso mais fácil? E quais são os cuidados necessários? O que fazer e o que evitar? Para tirar as principais dúvidas sobre o tema, conversamos com o pediatra e neonatologista Nelson Douglas Ejzenbaum, membro da Academia Americana de Pediatria (AAP).
Automedicação, nunca!
O primeiro ponto a ser considerado pode parecer óbvio, mas é sempre importante lembrar. Nunca dê medicamentos por conta própria para o seu filho, por mais inofensivo que isso possa parecer. “Não se deve automedicar porque, fazendo isso, você pode medicar errado. E doses erradas podem acarretar danos, causando mais mal do que bem”, indica o pediatra.
Alguns médicos, em consultas de rotina, já deixam as famílias orientadas com prescrições de medicamentos que podem ser usados diante de quadros comuns como febre e resfriado, por exemplo. Uma opção é pedir isso ao pediatra do seu filho. “Alguns fazem isso, outros, não. Depende do médico e depende da criança, da situação”, explica Ejzenbaum. O ideal é sempre tentar falar com o pediatra antes de administrar qualquer remédio.
Pode misturar com suco, leite ou água?
Diluir os medicamentos, sobretudo aqueles em forma líquida e que têm um sabor amargo, pode ser uma estratégia para facilitar a administração. Mas atenção! Isso não vale para todos. “Varia de acordo com a medicação. Algumas podem até perder o efeito caso sejam diluídas, por isso, é importante consultar o médico que prescreveu antes”, indica o pediatra.
Como ajudar a criança a engolir o comprimido
Se até para alguns adultos pode ser um desafio engolir comprimidos, dependendo do formato ou do tamanho, imagine como é para as crianças. De acordo com um estudo publicado na revista científica Pediatrics, 40% dos adultos, aproximadamente, têm dificuldade de ingerir comprimidos. Ainda de acordo com a mesma pesquisa, a maioria das crianças começa a desenvolver essa habilidade a partir dos 10 anos, mas mesmo assim, uma taxa que varia entre 20% e 40% delas não consegue consumir pílulas de tamanho padrão.
“Uma dica é colocar medicamento para a criança tentar engolir junto com um pedacinho de pão e um pouco de água em seguida”, explica o pediatra. Isso pode funcionar porque a criança sabe que o pão tem uma textura mole, o que ajuda na ansiedade e torna o processo menos assustador. Também existem copos específicos projetados para ajudar nessa tarefa. O formato favorece o reflexo natural da deglutição
“Nos casos em que a criança não consegue engolir o comprimido, o médico pode calcular a dose em xarope. Se não existir esse medicamento em xarope, ele pode ser manipulado”, explica Ejzenbaum. “Em alguns casos, o comprimido também pode ser dividido, para ficar em pedaços menores e mais fáceis de serem deglutidos, ou até diluído, mas, como falamos, isso varia de acordo com a medicação. Então, é sempre bom confirmar com o médico”, reforça.
Alguns comprimidos não podem ser cortados porque são projetados para liberar a medicação aos poucos para o organismo. O corte pode anular essa característica e fazer com que a liberação seja total, de uma vez só, alterando o efeito.
Meu filho cuspiu ou vomitou o remédio. E agora?
Muitas vezes, as crianças acabam cuspindo ou até vomitando o medicamento que acabou de ser dado. Será que é preciso administrar novamente ou esperar até a hora da próxima dose? “Se a medicação foi vomitada logo após ser dada, ela deve ser oferecida novamente. Se já passou algum tempo, como mais de uma hora, por exemplo, não”, explica o médico. Remédios como colírio, que também podem ser difíceis, porque a criança vira o rosto e fecha o olho, exigem atenção. “É preciso se certificar de que entrou no olho. Se não, o procedimento deve ser refeito”, orienta.
Não é balinha, não!
Com as melhores das intenções, alguns adultos usam estratégias que podem até funcionar, a princípio, mas podem causar prejuízos maiores do que os benefícios. É comum, por exemplo, ouvir pais, avós ou cuidadores dizendo que um medicamento “é balinha” ou “é docinho” para tentar convencer a criança a ingeri-lo. No entanto, isso pode ser perigoso, porque pode confundir e instigar o pequeno a consumir remédios sem que você veja.
“É preciso explicar que medicação é medicação e lembrar de deixar sempre no alto, longe do alcance das crianças”, lembra Ejzenbaum. Guarde em um local fechado, ao qual as crianças não possam ter acesso.
E se o pequeno tomar um medicamento errado, se pegar por acidente ou mesmo se os pais errarem a dose? “É importante conversar com o médico para saber o que fazer e, se houver impossibilidade de contato no momento, levar a criança ao pronto-atendimento o quanto antes”, explica o pediatra.