Descobrir que uma nova jornada está prestes a começar com a chegada de um bebê tende a levar pais e mães a mergulharem em produções sobre o assunto, como é o caso do documentário “O Começo da Vida”, lançado em 2016 e disponível na Netflix. O sucesso da trama e a vastidão de temas que conduz a primeira infância fez com que um segundo filme fosse produzido: “O Começo da Vida 2: Lá Fora”, com estreia prevista para o dia 12 de novembro nas plataformas digitais.
Seguindo o fio que conduziu o primeiro documentário, de que a criança é fruto de carga genética somada à sua interação com o meio, o foco da nova produção é mostrar o poder que existe entre o contato dos pequenos com a natureza. Mas como isso é possível em meio a pandemia do coronavírus? Como driblar os problemas urbanos em que o concreto e a violência constroem suas margens?
Em uma coletiva virtual na quinta-feira (5), Renata Terra, diretora do longa, explica que o documentário ficou pronto no final de 2019. Só que com a chegada da pandemia em 2020, a equipe percebeu que não era o momento ideal para lançá-lo, já que o mundo pedia pausa para assimilar todas as transformações, perdas e adaptações que precisavam acontecer para seguirmos com o mínimo de normalidade.
Com a estreia em novembro, período de flexibilização com os protocolos devidamente seguidos para garantir segurança à família, a proposta do documentário é que os pais possam meditar sobre o tema trazido.
“Nesse momento, ele é um convite para as pessoas poderem refletir qual é essa relação que vínhamos tendo com o espaço público e natural das cidades. Mas também qual é essa relação que queremos ter e que precisa ser transformada para proporcionar esse contato da criança com ambientes mais saudáveis”, enfatiza Renata.
As perdas que acontecem na falta de contato com a natureza
Durante o filme, a importância desta relação fica clara quando especialistas apontam problemas que os menores desenvolvem pelo excesso de contato com a tecnologia e o abandono do verde.
Médicos e pesquisadores citam consequências como índices desenfreados de obesidade, déficit de atenção, diabetes, depressão e até miopia. Além da relação direta com a imunidade, em que se defende que crianças que ficam mais tempo em casa, sem contato com o natural, acabam tendo mais dificuldade para enfrentar infecções futuras.
Outra questão que surge é a financeira. Nem sempre a família tem condições de viajar ou de frequentar parques, sítios e praias para que as crianças entrem em contato com a fauna e a flora. Soma-se à isso, uma falta de interesse das escolas em promover esta aproximação, uma vez que o ensino tradicional está preocupado com provas e notas, dedicando seus investimentos às tecnologias dentro da sala de aula, e ausentando-se de construir áreas naturais.
Neste cenário, o documentário defende que o espaço ao ar livre não deveria ser apenas um acessório às escolas, mas uma peça fundamental. Especialmente porque é na natureza pura, em que não há a intervenção do homem, que os pequenos têm maior número de peças soltas em que precisarão trabalhar o faz de conta para criar brincadeiras e, assim, desenvolverem habilidades importantes, como a autorregulação emocional.
Um repensar sobre a escola
A restruturação proposta pelo “O Começo da Vida 2” sobre escolas priorizarem espaços a céu aberto vai de encontro com as alternativas buscadas para o retorno das aulas com o coronavírus ainda em circulação, como expõe Laís Fleury, coordenadora do programa Criança e Natureza, do Instituto Alana, também presente na coletiva do filme.
“É importante relembrarmos também o quanto a natureza é associada à saúde. Digo isso porque, em relação a educação, tem tido esse debate latente sobre como essas áreas de aprendizagem ao ar livre podem ajudar a compor os protocolos de planejamento ao retorno às aulas”, reforça a especialista.
No documentário, pesquisadores também explicam que a conscientização das crianças – tanto em ambiente escolar quanto familiar – sobre a natureza é essencial para que seja possível criar adultos dispostos a fazer escolhas melhores para salvá-la.
E, para isso, Estela Renner, cofundadora da Maria Farinha Filmes e produtora do filme, lembra uma lição diária necessária para trabalhar com os pequenos: a natureza já existia antes de nós, somos parte dela, não dominadores do que ela é e produz. Portanto, é preciso existir respeito e ações conscientes para preservá-la.
Animou? Veja quatro motivos para assistir!
Nós assistimos em primeira mão e listamos razões que tornam o filme ainda mais interessante:
1) As imagens são belíssimas!
Com o play dado, o que primeiro chama a atenção é a fotografia do documentário, especialmente as imagens usadas de apoio para as explicações dos especialistas. Com o foco da natureza, anime-se para assistir a bastante verde e interações fofas entre crianças e animais.
2) É hora de refletir sobre o que é natureza para sua família
Só não caia na falácia de pensar que o filme é sobre paisagens exuberantes e famílias que vivem em meio à selva. Na verdade, a produção vem para nos questionar sobre o que entendemos como natureza e como, muitas vezes, ela pode passar despercebida na rotina.
Ela pode ser sim uma viagem para um lugar em que o foco é o contato com o exótico que vive ao ar livre. Mas também é a praça do bairro que famílias se juntam para manter conservada enquanto buscam por recursos públicos. Ou, quem sabe, um bom banho de chuva ou até a horta que vocês fizeram no quintal durante a quarentena.
3) Os motivos de como escolher a escola vão mudar
E se saúde mental já vinha sendo discutido antes da pandemia, agora não há como deixar de lado que não é só do físico que precisamos cuidar. Em “O Começo da Vida 2”, especialistas explicam por que é preciso que pais questionem como as instituições enxergam o lado de fora das salas de aula. E, sempre que possível, optem por locais que estimulem o convívio com a natureza, especialmente na primeira infância.
4) Vai te fazer repensar o uso da internet
Com a pandemia, também ficou claro que a tecnologia foi essencial para manter o contato com quem está longe, e permitir com que as atividades da família acontecessem. Mas o seu uso excessivo também trouxe para o centro da discussão a necessidade de nos permitir desconectar quando for necessário.
O documentário acende a luzinha para incentivar pais a deixarem o celular de lado quando puderem ter experiências ao ar livre com os filhos. Atenção e presença ajudam o pequeno a validar suas descobertas no ambiente e reforçam o quanto a natureza é mesmo fascinante. Quer estímulo melhor para o pequeno desbravar o meio em que vive?