Check-up oftalmológico: como cuidar da visão da criança na volta às aulas
O maior tempo em frente às telas durante a pandemia pode afetar a saúde ocular dos pequenos. Veja quais exames são necessários para saber se está tudo ok!
O ano letivo já começou e muitas escolas retomaram as suas atividades. Mas depois de tantos meses em casa por conta da pandemia do novo coronavírus, sabemos que a transição pode não ser fácil: o pequeno pode sentir-se inseguro de voltar às aulas presenciais ou apresentar alguma dificuldade de adaptação, inclusive física.
Esta mudança de ambiente exige alguns cuidados com a saúde do filho, que incluem colocar a carteirinha de vacinação em dia, fazer uma visitinha ao pediatra e não se esquecer dos famosos check-ups, como o da visão da criança, principalmente após o longo período de ensino em frente às telas.
O bebê faz a sua primeira avaliação oftalmológica ainda na maternidade, com o teste do olhinho, mas o acompanhamento não deve parar por aí. “Fazer os exames oftalmológicos regularmente é essencial para detecção e tratamento precoce dos problemas oculares. Isso é especialmente importante para as crianças, já que a visão é um sentido que se desenvolve gradualmente até cerca dos 7 anos de idade”, esclarece Cristiano dos Santos Correia, especialista em oftalmopediatria e estrabismo do dr.consulta e membro da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP).
“Se uma criança tiver uma interrupção nesse processo de maturação, provocada por alguma doença ocular, a recuperação da função visual torna-se cada vez mais difícil à medida em que ela vai ficando mais velha”, acrescenta ele.
Agora que você já sabe da importância dessas consultas com o oftalmologista, é hora de entender um pouquinho mais sobre o procedimento que acontece dentro do consultório médico!
Como funciona o check-up ocular?
De acordo com Ingrid Porto, oftalmologista do Hospital CEMA, o check-up inclui algumas etapas principais, cuja técnica pode variar de acordo com a idade do paciente. “Na infância, os exames mais importantes são o da acuidade visual, que mede a clareza da visão; o de refração, que identifica erros refracionais, como miopia e astigmatismo, e o grau da criança; o teste de movimentação e alinhamento ocular; e o mapeamento de retina (que analisa o fundo de olho e toda a sua estrutura)”, diz ela.
A lista pode parecer extensa, mas a médica logo adianta que a maioria dos testes costuma ser confortável para os pequenos. “De todos esses, os mais incômodos são o de refração e o mapeamento de retina, já que exigem aplicação de colírio para dilatação da pupila”, pontua Ingrid.
Como colocar as gotinhas nos olhos pode deixar as crianças agitadas ou receosas, Cristiano recomenda que os pais façam uma preparação prévia, explicando de forma compatível com o entendimento do filho tudo o que irá acontecer na consulta.
De quanto em quanto tempo deve ser feito?
Como os especialistas já pontuaram, o acompanhamento oftalmológico deve acontecer desde cedo – mesmo com a criança não estando alfabetizada, já que existem equipamentos específicos capazes de medir o grau e identificar problemas oculares sem que ela precise soletrar as letras.
“O primeiro exame deve acontecer entre seis meses e um ano de vida. Após essa primeira avaliação, é recomendado o exame anual, mas alguns pacientes podem necessitar de acompanhamento mais frequente, conforme orientação médica”, pontua a Dra.
Esse é o caso dos pequenos que têm baixa visão em um dos olhos ou alguma condição específica que merece atenção. “Para eles, pedimos um intervalo menor entre as visitas, marcando-as a cada três ou seis meses”, exemplifica.
Já a próxima avaliação mais completinha ocorre entre três e cinco anos de idade e, de acordo com o oftalmologista, as etapas são basicamente as mesmas, só que agora usando técnicas e instrumentos um pouco diferentes.
Sinais para ficar atento!
Além dos exames periódicos, vale ficar atento aos comportamentos do filho que podem indicar que sua visão não está no melhor estado. O membro da SBOP elenca alguns deles, como quando a criança senta muito perto da televisão, aproxima os objetos do rosto para conseguir identificá-los, exibe falta de coordenação – como dificuldade para manusear diferentes itens e andar –, ou quando seus olhos parecem estar desalinhados.
Piscar excessivamente e queixar-se de dores de cabeça frequentes, principalmente ao fim do dia ou depois da leitura, são outros sinais apontados pela oftalmologista. Aliás, a própria falta de gosto pelas historinhas ou por outras atividades, como escrever e pintar, podem demonstrar que a saúde ocular não anda bem.
“Os pais precisam prestar atenção no interesse das crianças nas atividades escolares. Se não gostam de ler e estão sempre fugindo deste momento, se reclamam que não enxergam a lousa ou se escrevem errado e demonstram dificuldades de aprendizado, é importante fazer uma avaliação oftalmológica para ver se essas dificuldades não estão relacionadas a um problema visual. Às vezes, o seu filho não tem interesse em ler, porque simplesmente não é algo confortável para ele”, reforça Ingrid.
Embora as manifestações no dia a dia funcionem como um alerta para as famílias, o Dr. não deixa de enfatizar o papel das consultas médicas. “Os pais não devem ficar esperando que a criança manifeste algum sinal ou se queixe de alguma coisa, pois a maioria das doenças oculares é silenciosa ou não é facilmente percebida”, indica ele.
Os efeitos das telas…
Uma última indicação dos profissionais vai no sentido do uso das telas pelas crianças – que aumentou drasticamente durante a pandemia e que já aparece relacionada a problemas visuais. “Essa exposição excessiva das crianças às telas e a redução das atividades em ambiente externo têm sido associadas ao desenvolvimento e à progressão da miopia“, diz Cristiano.
“E o período de confinamento imposto pela covid-19 que estamos vivendo intensificou ainda mais esse fenômeno, pois as crianças estão passando muito mais tempo nos computadores ou dispositivos móveis, tanto em função das aulas virtuais, quanto das atividades de lazer”, completa.
Claro que extrapolar o tempo recomendado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) foi quase que inevitável neste momento, principalmente com muitos pais trabalhando em casa e tendo que conciliar o home office com as tarefas do lar. Mas reduzir o hábito dos eletrônicos não é impossível.
“Temos que buscar incentivar o lazer fora das telas – com livros, brincadeiras, jogos – e não passar o tempo livre em frente ao computador ou jogando no celular. Sabemos que é difícil e que precisamos contar com a criatividade para entreter os filhos, mas o ideal é tentar limitar as telas às aulas”, sugere a Dra. Veja mais formas de contornar o uso excessivo de telas pelo filho!