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Afinal, as novas variantes do coronavírus têm algum impacto nas crianças?

Embora mais transmissíveis, até agora não há evidências de que as cepas do vírus encontradas na África do Sul, Brasil e Reino Unido afetem mais os pequenos.

Por Ketlyn Araujo
Atualizado em 5 fev 2021, 14h43 - Publicado em 5 fev 2021, 13h31
 (Carol Yepes/Getty Images)
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Especialistas já haviam adiantado, logo que a pandemia começou a estourar, no ano passado, que os vírus possuem uma grande capacidade de mutação, ainda mais os da gripe, que atingem o sistema imunológico de maneiras diferentes. O coronavírus, conforme esperado, seguiu o mesmo caminho, e desde de dezembro de 2020 fala-se muito sobre as novas variantes do vírus encontradas em países como Reino Unido, África do Sul e Brasil. Por aqui, inclusive, é uma das hipóteses para um aumento expressivo nos casos de covid-19 em locais como Manaus, no Amazonas, que vive uma grave crise de saúde pública.

Os estudos sobre as novas cepas ainda são preliminares, e requerem tempo para que se possa afirmar ou não qual o impacto exato dessas mutações na vida das pessoas. Porém, dúvidas surgem a todo tempo, e o nosso principal papel aqui é o de evitar a desinformação.

Com a reabertura das escolas em diversos estados brasileiros, é natural que pais e mães estejam mais preocupados em saber se as novas variantes do coronavírus têm ou não algum impacto em crianças e bebês. Para tirar todas as suas dúvidas sobre o tema, conversamos com os especialistas Marco Antonio Iazzetti, pediatra, infectologista e professor do curso de medicina da Universidade de Santo Amaro (Unisa); Roberta Oliveira, pediatra e coordenadora médica da Amparo Saúde, healthtech pioneira em Atenção Primária à Saúde presencial e remota no Brasil; e Rodrigo Barbosa, médico de família e infectologista também da Amparo Saúde.

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Por que e de que forma o vírus mudou?

“O que acontece são mudanças estruturais no vírus, e que fazem com que ele tenha uma melhor capacidade de transmitir e de invadir o sistema imunológico de cada pessoa”, explica Marco Antonio. O médico ressalta que, por enquanto, é só isso que pode ser observado, ou seja, essas variantes representam alterações na estrutura viral, que fazem com que o vírus penetre melhor no sistema imune, e que ele consiga ser transmitido de uma forma um pouco mais rápida e eficiente.

Rodrigo acrescenta que todas essas mutações sofridas pelos vírus em seu material genético são majoritariamente acidentais, funcionando como uma tentativa de escape do sistema imune humano. Até o momento, considerando os estudos já desenvolvidos, não há relação entre as novas variantes e uma piora nas taxas de mortalidade e letalidade em comparação às já existentes.

O que chama atenção, portanto, é essa maior infectividade, fazendo com que haja mais disseminação do vírus e, por consequência, mais contágio. O infectologista reforça a necessidade de aguardarmos por dados mais consistentes com relação às novas cepas.

De que forma as novas variantes do coronavírus afetam crianças e bebês?

Roberta informa que não há nada na literatura pediátrica que confirme que as novas cepas sejam mais infecciosas em bebês e crianças do que em outras faixas etárias – os estudos mostram apenas as taxas referentes a adultos, jovens e idosos. A médica ressalta ainda, que é importante nos lembrarmos de que, até o momento, crianças permanecem sendo o grupo de menor risco ao contrair a covid, com taxas de mortalidade de menos de 1% e respondendo a 2 e 3% do total de internações.

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Com isso em mente, para os médicos entrevistados não há um grande problema na reabertura das escolas, desde que isso seja feito respeitando todos os protocolos de higiene e saúde.

“Aguardar ou adiar um mês [para a reabertura das escolas] não vai mudar o aspecto com relação ao vírus. Ele está aí com a gente e teremos que conviver com ele durante um bom tempo, principalmente porque ainda não há um horizonte próximo em que se comece a vacinar crianças e adolescentes”, opina Marco Antonio, ao acrescentar o fato de que o vírus pode continuar sofrendo outras mutações, e isso foge ao nosso controle.

Para ele, o período longe das escolas, além de atrasar o desenvolvimento infantil, também foi responsável por aumentar e muito as taxas de estresse e insônia nos pequenos, bem como os índices de colesterol e triglicérides em algumas crianças, que apresentaram quadros de pré-diabetes.

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De qualquer maneira, Roberta ressalta que é muito importante que as escolas, neste atual cenário, estejam bem estruturadas a fim de garantir a segurança básica desse retorno presencial, com uma melhora dos espaços comuns e avaliações mais criteriosas sobre as condições de infraestrutura e higiene do ambiente escolar. É essencial ainda que professores e toda a equipe sejam capacitados sobre as formas de prevenção da Covid-19.

“Segundo documento publicado pela SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), é importante levar em conta alguns pontos relevantes quando falamos em propagação do vírus: as escolas não são locais mais significativos do que outros espaços ocupacionais ou de lazer com quantidade semelhante de pessoas. Quando houver retorno às aulas presenciais, será necessário considerar esquemas de rodízio com escalas alternadas entre grupos de alunos, testagem de casos suspeitos e contactantes”, diz a pediatra, que enxerga a necessidade de que comitês entre as áreas de saúde e educação atuem no estabelecimento de protocolos mais embasados para um funcionamento seguro das escolas, privadas ou públicas.

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“[Isso deve acontecer] principalmente nas escolas públicas, uma vez que a desigualdade social no país reverbera na situação escolar de crianças e adolescentes de classes menos favorecidas. Para especialistas, isso transparece na facilidade que escolas particulares apresentam para atender às exigências dos protocolos sanitários”, completa.

Como proteger as crianças (e se proteger) das novas variantes do coronavírus?

Como podemos perceber, não existe nenhuma medida diferente das já conhecidas – e aplicadas por todas as famílias – na intenção de se proteger das novas variantes do vírus, ou seja, as condutas são as mesmas que aprendemos nos últimos meses. É importante continuar lavando bem as mãos com água e sabão, usando álcool em gel 70% sempre que possível, manter o distanciamento social evitando aglomerações e usar máscara facial sempre que sair de casa e dentro dela caso haja sintomas, trocando a proteção após duas horas de uso.

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Quanto às crianças, é importante que elas fiquem em casa o máximo possível, evitar levá-las a locais fechados e com circulação de muitas pessoas – shoppings, festas, reuniões com familiares e amigos, parques lotados -, e manter as mãos dos pequenos (e de quem convive com eles) sempre muito bem lavadas. Crianças com idade acima de dois anos também devem usar máscara, respeitando o período de duas horas até trocá-la e garantindo que ela esteja ajustada no rostinho de maneira confortável. Caso contrário, pode ser que os pequenos levem as mãos ao rosto, aumentando a chance de contaminação.

Lembre-se de que não existe medicação específica para prevenir ou tratar o vírus, e procure checar informações e notícias de veículos ou fontes duvidosas, fugindo das fake news. Caso apresente sintomas, procure um médico, seja de maneira presencial ou via teleconsulta – o atendimento médico via aplicativo pode ser uma alternativa para que os sintomas sejam diagnosticados com maior rapidez, além de evitar a desinformação.

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