Monica Benini compartilha fotos e relato do parto domiciliar de Otto
“E assim, sentada, com meu marido abraçado em minhas costas, pude viver o momento mais inexplicável da minha vida", afirmou a mãe.
Em outubro de 2017, Monica Benini e Junior Lima se tornaram pais do pequeno Otto. Dias após o nascimento, o casal publicou uma foto do garotinho e, posteriormente, a designer de joias usou as redes sociais para falar sobre a decisão de usar fraldas de pano no primogênito. Nesta quinta-feira, 03, Monica voltou a abordar a experiência com a maternidade, mas surpreendeu os seguidores ao compartilhar o seu relato do parto.
Em um texto repleto de emoção, ela contou que se preparou durante os 9 meses para dar à luz em casa e, como tudo correu bem, o seu desejo se tornou realidade. “Me entreguei por inteiro, permiti que meu corpo se fizesse morada, me conectei dia após dia com a força que é gerar uma vida dentro de si. Me conectei com meu bebê. Nós conversamos, meditamos, dançamos… Ele no balanço leve do líquido amniótico e eu no movimento punk que é renascer para tornar-me mãe”, afirmou.
A empresária revelou que Otto chegou ao mundo na 41ª semana de gestação e que enfeitou a casa com flores, balões e músicas para recebê-lo. Segundo ela, a presença de Junior foi fundamental durante todo o processo: “Ele, o melhor parceiro que eu poderia pedir aos céus, esteve ao meu lado em todos os momentos da forma mais linda, companheira e presente. Criou comigo uma atmosfera que era só amor”.
A doula que acompanhou a mamãe também a ajudou a driblar as dores das contrações com massagens e outras técnicas não farmacológicas. E, assim, ela encarou quase 24 horas de trabalho de parto. “A dor nesse momento já possuía meu corpo de uma forma inexplicável, mas na mesma intensidade que ela vinha, minha concentração aumentava. Mas eu estava certa do que queria. Eu havia me preparado durante os nove meses para aquele momento. Eu e meu bebê estávamos bem”, relatou.
Monica contou que entrou no período expulsivo e que as últimas contrações foram sentidas em um banquinho. “E assim, sentada, com meu marido abraçado em minhas costas, pude viver o momento mais inexplicável da minha vida. Entendi o significado do tal círculo de fogo assim que meu bebê coroou. Como dói, queima. E em mais uma contração ele estava em meus, em nossos braços. Eu, completamente exaurida, porém tomada pela melhor sensação desse universo, não conseguia acreditar no que estava acontecendo”, escreveu.
No final do relato, ela deixou algumas considerações para reforçar que as mulheres devem se empoderar nesse processo e buscar informações antes de dar à luz. “Você tem o direito de escolher a forma de parto que deseja. Veja bem, ESCOLHER. Não ser induzida”, ressaltou. Ela também abordou a questão polêmica do parto domiciliar, que divide a opinião de especialistas.
Leia o relato na íntegra:
Sempre acreditei no poder da natureza, no sagrado do feminino, na nossa potência. Não tive dúvidas, após saber que estava grávida, de qual seria a forma que eu gostaria que meu filho viesse ao mundo. Foram 9 meses de um mergulho profundo nessas questões. Eu sabia que essa experiência me transformaria por completo e estava sedenta por viver toda essa transformação da forma mais intensa que pudesse. Não tinha medo, tinha desejo. Desejo de viver, de sentir por inteiro cada uma das dores e das transformações que todo esse processo traria.
Me entreguei por inteiro, permiti que meu corpo se fizesse morada, me conectei dia após dia com a força que é gerar uma vida dentro de si. Me conectei com meu bebê. Nós conversamos, meditamos, dançamos… ele no balanço leve do líquido amniótico e eu no movimento punk que é renascer para tornar-me mãe. Desde essa época que somos um só, falamos a “mesma língua”, existimos num uníssono ímpar e potente.
Continua após a publicidadeEu acredito no tempo das coisas, nos ciclos… e acreditei mais ainda nisso com ele em meu ventre. Respeitei o tempo dele. Hoje em dia, vejo que esse tempo também era o meu. Foi o tempo de 41 semanas exatas no momento em que ele veio ao mundo. 40 semanas e 6 dias quando ele anunciou que viria.
Os primeiros passos da nossa dança aconteceram num sábado nublado, às 6:30 da manhã, dia 30 de setembro de 2017. Acordei com uma dor que se repetiu depois de 4 minutos… e depois de mais 3 minutos e meio, e assim seguiu. Mal podia acreditar que era meu corpo e meu bebê anunciando que estávamos prestes a nos conhecer. E era, realmente era. Avisamos nossa equipe e tomamos um gostoso, feliz e demorado café na cama. Lembro de ter começado o dia meditando, repetindo aquele “mantra” (uma meditação guiada pela voz do amor da minha vida, que foi das ferramentas mais fortes durante meu preparo, na maior parte da gestação). Meditei para me conectar ainda mais com meu bebê e com as contrações poderosas que tomavam conta de mim. Preparamos a casa, preparamos o ninho para a festa que estava por começar.
Digo festa porque, para mim, o nascimento do meu filho sempre foi motivo de comemoração. Flores, balões, velas, música, recados escritos em pedaços de papel, para eu ler durante o trabalho de parto… tatame, piscina, tecido, bola de pilates, todo o arsenal que eu percebi, durante a gestação, que faria sentido estar comigo naquele momento.
O sol foi caindo e seguíamos, eu e meu marido, na nossa cumplicidade mágica. Entre risos e pausas pra deixar vir a dor. Ele, o melhor parceiro que eu poderia pedir aos céus, esteve ao meu lado em todos os momentos da forma mais linda, companheira e presente. Criou comigo uma atmosfera que era só amor.
Às nove horas da noite chegou a primeira pessoa que se juntaria ao nosso time. Nossa doula. As contrações já eram muito doloridas e sempre, desde o início, frequentes. Bola de pilates, massagem na lombar, óleos essenciais. A dor era sempre vocalizada, como um mantra, e me lembrava da força que existia dentro de mim. Meditação, abraços, chuveiro, tatame, rebozo. À medida que a dor ia aumentando, eu ia mergulhando mais e mais no nosso infinito particular. Ali era eu e meu bebê, visitados gentilmente pelo papai. Ao abrir os olhos e sair, por alguns instantes, do nosso mundinho, vi que nossa equipe já estava quase completa. Todos prontos para trazer nosso menino, de forma segura, ao mundo.
Continua após a publicidadeMergulhada na piscina que montamos em meio à sala da nossa casa, percebi que já amanhecia. Já havia se completado quase 24 horas de contrações que iam e vinham, mais vinham do que iam. A dor nesse momento já possuía meu corpo de uma forma inexplicável, mas na mesma intensidade que ela vinha, minha concentração aumentava. Mas eu estava certa do que queria. Eu havia me preparado durante os nove meses para aquele momento. Eu e meu bebê estávamos bem. Naquele instante eu só precisava me conectar com todas as minhas forças internas, me preparar para a fase expulsiva que estava começando.
Nossa maratona estava, por fim, entrando na fase final. Eu estava acompanhada por uma equipe maravilhosa que, em meio aos exames pra checar se tudo corria bem, era só sorrisos. Eram, realmente, momentos de celebração. Me sentia exausta, porém num estado de nirvana inexplicável. Meu sonho de dar à luz ao meu filho em nossa casa estava se realizando de uma forma linda e intensa, como eu jamais pude imaginar.
A fase expulsiva de um trabalho de parto é o momento em que nosso poder feminino se eleva ao máximo, e eu me permiti ser inundada por aquela força. As contrações eram muito, muito, muito intensas, e eu só pensava que, a cada uma delas, nosso bebê estava um pouquinho mais perto de nós. Assim seguiram-se mais 7 horas. As três horas mais intensas de dor do meu trabalho de parto foram lavadas pela água morna que caía do chuveiro. Sentada em uma bola de pilates, eu deixava a água acariciar minha lombar enquanto, em silêncio, exercitava a respiração mais concentrada que já fiz em minha vida. O silêncio, e eu já imaginava isso, foi um santo remédio naquele momento. Eu escolhi passar por esse momento sem absolutamente nada de anestesia ou analgesia porque queria o viver por inteiro, sentia que era capaz e porque todas as minhas escolhas, desde o início, sempre foram pautadas pelo zelo máximo ao meu bebê.
Eu sempre ponderei muito sobre meu parto, sobre como eu gostaria que meu filho chegasse ao mundo e minha maior vontade sempre foi a de me permitir escutar totalmente meu corpo. Assim foi. As últimas contrações foram sentidas em um banquinho, um aparato próprio para partos naturais. E assim, sentada, com meu marido abraçado em minhas costas, pude viver o momento mais inexplicável da minha vida. Entendi o significado do tal círculo de fogo assim que meu bebê coroou. Como dói, queima. E em mais uma contração ele estava em meus, em nossos braços. Eu, completamente exaurida, porém tomada pela melhor sensação desse universo, não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Ele nasceu em nosso quarto, em frente à nossa cama, depois de 33 vigorosas horas… e foi para nossa cama que “escorregamos” com o Otto em nossos braços. Permanecemos assim por muito tempo, ele aninhado em meu peito, e o papai, que também acabara de renascer, nos abraçando. Nossa família, forte, unida, exalando amor. E eu inundada por ocitocina. Demoramos quase uma hora para que, então, o papai cortasse o cordão umbilical, mas o cordão que nos uniu (mais ainda) naqueles dois dias jamais será cortado. Eu mal consegui chorar, mas meu peito fervilhava. Já naquele momento entendi perfeitamente que uma nova versão de mim nascera, muito mais forte, confiante e plena. É inacreditável o tamanho da força que brota depois de uma “prova”dessas. Eu serei eternamente grata a mim mesma por ter encarado tudo com tanta vontade e entrega, ao meu marido, por ter elevado a minha força a todo instante, à minha equipe maravilhosa, extremamente competente e sorridente, às nossas famílias, por terem respeitado e acolhido nossas escolhas, e ao meu filho, por ter entrado nessa dança com a coreografia totalmente coordenada à minha. E assim seguiremos. Eternamente.
CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES:
Continua após a publicidade– Você tem o direito de escolher a forma de parto que deseja. Veja bem, ESCOLHER. Não ser induzida. E para poder escolher de forma consciente você precisa estar munida de informação de qualidade.
– Informe-se. Questione. Use outras fontes de informação além das que seu médico obstetra fornece. Desconfie. Inclusive do seu médico. Existem médicos e médicos, e nem sempre eles são claros sobre suas intenções e habilidades. Não acredite no primeiro que sair ditando regras.
– Você é muito mais forte do que imagina, e seu corpo SABE PARIR. Não importa se você é alta, baixa, magra, gorda… Se seu corpo gerou o seu bebê dentro de você é porque ele está preparado pra dar à luz. São poucas as situações em que isso não será possível, e uma equipe bem preparada saberá como direcionar a situação com segurança.
– Você pode ter um parto humanizado em hospital, um que te respeite e respeite suas vontades. Sabemos que essa não é uma escolha possível em vários locais e em várias situações, mas procure grupos de apoio ao parto para maiores informações.
– Converse muito com seu parceiro, divida o conhecimento que você vai adquirindo durante a gestação e o convide a participar desse momento com você. O papel da mãe é proteger o seu bebê e o papel do pai é proteger a mãe e o bebê. Uma vez isso entendido, a sua segurança no momento do parto será muito maior.
Continua após a publicidade– Aproprie-se do seu parto, ele diz respeito, antes de mais nada, a você e ao seu bebê.
– Episiotomia não é necessária, a não ser em situações raríssimas.
– Acredite nos benefícios de uma doula durante a sua gestação e seu trabalho de parto.
– Escreva um plano de parto. Ele te ajudará, inclusive, a pensar em tudo que envolve o trabalho de parto e o nascimento do seu bebê.
– Escute seu corpo, conecte-se com você mesma. Você saberá em que posição ficar, como agir, para onde ir.
– Não é necessário exame de toque super frequente durante o trabalho de parto, a não ser que seja da sua vontade.
– O Vernix, a camada branquinha de gordura que envolve a pele do bebê, não precisa ser removido quando ele nasce, muito pelo contrário. Ele funciona como barreira protetora para a pele do bebê. Otto tomou banho a primeira vez depois de 5 dias do parto. O Vernix, naturalmente, foi sendo absorvido pela pele e ele foi ficando limpinho.
– Você pode escolher pingar o colírio no olho do bebê ou não… assim como vários dos outros procedimentos protocolares.
– Confie na amamentação. O começo é realmente difícil, mas, principalmente se você entrar em trabalho de parto, você produzirá leite. Leite suficiente para a demanda do seu bebê. Confie. E se precisar e tiver condições, chame uma consultora de amamentação. Os bancos de leite dos hospitais públicos também oferecem consultoria gratuita de amamentação.
– O principal conselho que eu posso te dar, caso o seu desejo seja partir pra uma forma de parto mais natural é: prepare a sua mente. Nossa mente é poderosa. Eu estava psicologicamente (e mentalmente) muito forte e tenho certeza abbsoluta que isso foi decisivo.
– A pergunta que eu mais escuto, quando toco nesse assunto é “Dói muito?”… e a minha resposta é: DÓI! É das dores mais intensas desse mundo, imagino eu, mas é diferente de qualquer dor que você possa vir a sentir. Diferente porque é o caminho pra ter em seus braços o maior amor da sua vida. É dor com a melhor de todas as recompensas, sabe?
Sobre partos domiciliares:
– O parto domiciliar só acontece se, após inúmeras avaliações, for atestado que tudo está perfeito com você e seu bebê. Se for necessário qualquer intervenção, a equipe é preparada para uma transferência e o resto do seu parto acontecerá no hospital. Tenha um plano B bem-definido.
– Pesquise bem e procure uma equipe (obstetrizes, doulas, médico, pediatra neonatal etc.) na qual você confie profundamente. Isso é essencial para o seu relaxamento.
– Em partos domiciliares não é permitida a aplicação de anestesia. Isso deve ser feito em ambiente hospitalar. Porém, podemos usar vários métodos não farmacológicos para alívio da dor, como eu mesma usei. Meditação (eu pratiquei o Hypnobirthing), massagens, imersão na água, óleos essenciais…
Confie na sua equipe, mas confie ainda mais em você.
*Quero lembrar que esse se trata de um relato de parto extremamente pessoal. Não estou ditando regras. Sou partidária do respeito a mulher, da informação de qualidade, da verdade, da responsabilidade com a saúde da mulher e do bebê. Assim teremos finais realmente felizes, seja a história como for.
Veja as fotos do parto: