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Entenda por que o cocô no trabalho de parto é um bom sinal

Não precisa ficar com vergonha: a equipe médica comemora a presença das fezes porque elas só são expelidas quando o bebê já está prestes a chegar ao mundo.

Por Alice Arnoldi
Atualizado em 19 out 2021, 15h06 - Publicado em 6 out 2021, 14h11
Mulher tendo parto na água auxiliada pelo marido
 (ideabug/Getty Images)
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A romantização que ronda o parto normal leva muitas mulheres a passarem por situações em que se sentem constrangidas pelo assunto ainda ser visto como tabu. Um bom exemplo disso é o cocô durante o trabalho de parto, que pode fazer com que a parturiente sinta-se envergonhada no momento do ato, mas é comemorado pela equipe médica por mostrar que o nascimento do bebê se aproxima.

“O reto, que é porção final do nosso intestino e armazena as fezes, está imediatamente atrás da vagina. Assim, quando o bebê vai descendo pelo canal do parto, ele o aperta. Se há resíduos no local, eles acabam saindo e é até esperado que isso aconteça”, explica Luciana Delamuta, ginecologista e obstetra. Vale apenas lembrar que, por mais que seja comum, não é algo que vai acontecer com todas as mulheres. Cada organismo é único, lembra?

Como é feita a limpeza das fezes

Por ser um processo fisiológico esperado pela equipe médica, há a separação de materiais específicos para colher as fazes durante o trabalho de parto. Andréia Fratoni Ledo, coordenadora de enfermagem do Centro Obstétrico do Hospital e Maternidade Santa Joana, cita o uso de compressas estéreis para coletar os resíduos e também limpar a mulher.

A doula Samara Barth (@samdoula) também explica que, dentro das salas de parto, há recipientes colocados abaixo da parturiente para colher as fezes e descartá-las. Já nos nascimentos que ocorrem dentro d’água, é usado instrumentos semelhantes às peneiras caseiras, “pescando” o cocô, sem deixá-lo espalhar.

É recomendado fazer lavagem intestinal?

E se anteriormente era indicado que a gestante passasse pela lavagem intestinal antes do parto, o cenário atual é outro. “Ao longo do tempo, este procedimento tem sido revisado pelos profissionais e órgãos de saúde, e foi avaliado que não traz nenhum benefício à mãe e ao bebê“, esclarece Andréia.

Além de ser uma técnica invasiva e que pode causar cólicas intestinais durante o nascimento do pequeno, ela tende a dificultar a limpeza das fezes que sairão. “A lavagem não elimina as chances de evacuar. Na verdade, é até pior, porque as que seriam sólidas e bem pontuais, passam a ser aguadas, com aspecto de diarreia, fazendo mais sujeira”, completa Samara.

Também é preciso que sejamos realistas sobre a quantidade de resíduo a ser expelido. Durante o trabalho de parto, a parturiente tem autonomia para ir ao banheiro ao sentir vontade de evacuar e fazer todas as suas necessidades, conforme explica a doula. Isso faz com que, antes do nascimento do bebê, a quantidade de fezes a ser eliminada seja pequena.

O contato do bebê com as fezes é perigoso? 

Luciana pontua que, durante o trabalho de parto, a tendência é que a maioria das fezes já tenha sido eliminada, a equipe tenha feito a higiene externa da mãe e o pequeno nasça livremente. Só que a parte curiosa é que, pela vagina ficar próxima ao ânus, isso tem um impacto positivo no desenvolvimento do recém-nascido.

“É uma região que tem várias bactérias que ajudarão a compor a flora bacteriana do bebê, principalmente da parte do intestino. Portanto, é esperado que o recém-nascido passe por ela”, explica a obstetra. Em seguida, a formação é complementada pelo leite materno oferecido ao pequeno no decorrer dos meses.

É, inclusive, o que aponta um estudo de 2020, publicado na revista científica Cell, em que pesquisadores da Universidade de Helsinque, na Finlândia, comprovaram que os microrganismos presentes nas fezes da mãe auxiliam no desenvolvimento da imunidade do bebê. E mais: sugerem que os bebês nascidos por cesárea, poderiam se beneficiar do contato fecal materno.

Por não trazer nenhum malefício – tanto para a mãe quanto para o filho – e não ser nada além de uma resposta fisiológica do organismo, Samara orienta mães a não tentarem contrair a musculatura anal para impedir a saída das fezes. “Isso torna o processo de período expulsivo mais doloroso e lento”, relata a doula.

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Assim, para tentar amenizar o possível constrangimento sentido no trabalho de parto ao fazer cocô, lembre-se que ele só acontece porque o bebê desceu, encaixou e está prestes a chegar ao mundo. Então, sim, ele é um bom sinal!

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