Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 15 milhões de crianças no mundo nascem prematuras. A condição pode estar relacionada com fatores como bolsa rosa, hipertensão, diabetes e até gestação gemelar. Evitar que os pequenos cheguem antes da 37ª semana de gravidez ainda é um grande desafio, mas uma pesquisa publicada em novembro de 2017 no American Journal of Obstetrics & Gynecology (Jornal Americano de Obstetrícia e Ginecologia) mostrou novos caminhos para a questão.
Com participação do médico brasileiro Eduardo Fonseca, que faz parte da Universidade Federal da Paraíba, o estudo mostrou que a suplementação de progesterona via vaginal pode prevenir partos prematuros nas gestantes que têm colo do útero curto – condição identificada no ultrassom. Após analisarem quase 1000 mulheres nessa condição, os acadêmicos sugeriram que a recomendação não traz prejuízos para o bebê e que a medida deve ser adotada universalmente.
“A progesterona é um hormônio natural produzido pelos ovários antes da gestação e pela placenta após a 8ª semana de gravidez. Ela tem duas ações sobre as fibras uterinas: aumentar o limiar de contrações evitando as prematuras que podem desencadear o parto precocemente, e o efeito anti-inflamatório local, que pode agir nas pacientes que têm o colo do útero curto”, explica Fonseca, um dos autores do trabalho, que também é Presidente da Comissão de Perinatologia da FEBRASGO.
A pesquisa mostrou, ainda, que essa suplementação pode ser prescrita para as mulheres que já tiveram partos prematuros anteriormente. E, sim, o resultado é melhor quando o remédio é inserido no canal vaginal porque há maior absorção quando ele passa pelo útero e o colo. Eduardo Fonseca aponta que, quando a medicação é tomada, ela vai primeiro pelo fígado e é metabolizada por outras substâncias e, dessa forma, pode causar mais efeitos colaterais indesejados como sono, náuseas e vômitos.
A publicação do artigo reforça a atenção para a prevenção desse sério problema que é muito comum no Brasil. As crianças que nascem antecipadamente muitas vezes ficam internadas na UTI Neonatal. “Com a suplementação do hormônio nesse grupo específico, conseguimos reduzir a prematuridade entre 40 a 50% e diminuir as principais complicações de curto prazo – principalmente nos nascimentos que ocorrem antes da 35ª semana. O estudo mostrou que a eficácia da progesterona é tão boa quanto a dos corticoides usados desde 1980 para conter as complicações respiratórias dos bebês prematuros”, reforçou o obstetra.
Segundo o médico, a medida, que desde 2007 tem sido discutida nos trabalhos científicos, começou a ser seguida como protocolo em algumas instituições do nosso país. A Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) adotou a recomendação, assim como a Universidade de São Paulo (USP), a Escola Paulista de Medicina (UNIFESP) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É importante ressaltar que o acompanhamento médico é imprescindível e que o remédio só pode ser ministrado sob orientação do obstetra.