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Insônia na gravidez aumenta o risco de parto prematuro

O impacto do sono de má qualidade vai muito além do cansaço no dia seguinte: pode subir em até 40% a chance do bebê nascer antes da hora. Entenda por quê.

Por Chloé Pinheiro
18 ago 2017, 18h04

Mulheres com apneia do sono, insônia e outros distúrbios do sono têm um risco quase duas vezes maior de partos prematuro. Foi o que descobriu um grupo de pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos.

Para chegar a essa conclusão, o time analisou o histórico de quase três milhões de gestações. “É o primeiro estudo a examinar o impacto da insônia na probabilidade de ter um bebê prematuro”, comenta Jennifer Felder, psiquiatra e autora do trabalho.

“O nascimento antes do tempo ideal é uma das principais causas de morte nos cinco primeiros anos de vida, então é crucial identificar fatores de risco para ele que possamos corrigir, como esse”, continua a autora. O próximo passo é entender os motivos por trás dessa ação negativa, mas já há pistas.

“A privação de sono tem um efeito dramático na nossa biologia que poderia levar ao parto prematuro – e a suspeita é que a inflamação tenha um papel importante nisso”, conta  Jennifer. Isso porque problemas como a insônia não só impedem o descanso, mas também interferem no funcionamento do corpo.

“O sono não só perde sua função reparadora como o corpo passa a liberar mais hormônios do estresse, como o cortisol, que por sua vez libera substâncias inflamatórias pelo organismo”, explica Hudson Mourão, neurologista do Hospital Anchieta, em Brasília.

Esse excesso de inflamação já é conhecido por abrir as portas para problemas como o diabete e a hipertensão nos adultos. E um estudo de 2010, citado pelo trabalho norte-americano, encontrou índices elevados de proteína c-reativa e interleucina 6, substâncias inflamatórias, no líquido amniótico de bebês prematuros.

“A inflamação pode, em última instância, interferir no abastecimento sanguíneo da placenta e aumentar o risco de trombose, por exemplo”, relaciona o médico.

Porque algumas grávidas dormem mal?

Os hormônios liberados na gestação deixam a mulher mais sonolenta e o correto é mesmo descansar bastante no período. Ocorre que, no primeiro trimestre, parte das gestantes apresenta insônia, principalmente por conta do estresse e ansiedade típicos de um período tão cheio de mudanças.

A insônia é um problema importante, mas não o único. Conforme o bebê cresce, novos incômodos surgem na hora do repouso. “O tamanho da barriga e o aumento de peso atrapalham a respiração e fica mais difícil encontrar uma posição confortável”, elenca Mourão.

Esses fatores podem levar à apneia do sono, distúrbio que prejudica a respiração durante a noite e tem como um dos principais sintomas o ronco. Mulheres com essa condição tiveram um risco 40% maior de ter um bebê prematuro no trabalho californiano.

“O problema é que o sono ruim é considerado parte normal da experiência gestacional, então essas desordens podem passar despercebidas no pré-natal”, aponta Jennifer. A autora espera que o trabalho chame a atenção para esse ponto, até mesmo porque é relativamente fácil melhorar as noites das gestantes. Tanto que medidas simples já ajudam. “A abordagem é mais terapêutica do que medicamentosa, com exercícios físicos, acupuntura e o cuidado com o psicológico da gestante”, explica Mourão.

A higiene do sono também é fundamental. Ou seja, dormir em um ambiente tranquilo, sem luzes ou barulhos fortes e longe da tela do celular e da televisão – a luz emitida por elas diminui a produção da melatonina, o hormônio que induz o sono.

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