Um vídeo em que Claudia Raia e o marido, Jarbas Homem de Mello, aparecem sapateando e, em certo momento, ouvem o som de outro sapatinho, vindo de dentro da barriga dela, viralizou recentemente. Tratava-se do anúncio da terceira gravidez da atriz, a primeira no atual casamento. Aos 55 anos, Claudia é mãe de Enzo, de 25, e Sofia, de 19, do relacionamento com o ator Edson Celulari.
Em outra publicação no Instagram, ela contou que ficou surpresa diante da possibilidade de um bebê estar a caminho. “Quando a médica me pediu um beta, exame de sangue de gravidez, eu falei: ‘Amor, você está bem louca. De onde você tirou isso? Eu tenho 55 anos de idade’. Aí, ela falou: ‘Mas eu preciso investigar, porque todas as suas taxas estão diferentes, estão estranhas'”, afirmou a atriz. Claudia não revelou se a gestação aconteceu naturalmente ou por fertilização in vitro. Em entrevista anterior, a atriz já havia dito que congelou óvulos e que não descartava a ideia de ser mãe novamente.
A notícia chamou a atenção, embora seja cada vez mais comum ver mulheres adiando a maternidade, priorizando a carreira, os relacionamentos, a situação financeira e o desejo mesmo. Todo mundo sabe – e isso é uma verdadeira pressão – que o tal relógio biológico é cruel. Uma mulher já nasce com a quantidade de óvulos total que terá ao longo da vida. Estima-se que sejam cerca de 2 a 3 milhões. Conforme os anos passam, eles vão sendo liberados a cada ciclo menstrual e o corpo não os repõe (diferente do que acontece com os espermatozoides, por exemplo, que são fabricados continuamente).
As chances de uma mulher engravidar após os 50
De acordo com a ginecologista e obstetra Karen Rocha de Pauw, especialista em reprodução humana, de São Paulo (SP), as mulheres entram na menopausa, em geral, entre os 45 e os 60 anos (no Brasil, a média é em torno de 50 anos). “Nessa fase, as chances de uma gravidez chegam a quase zero. Podem acontecer algumas exceções? Na medicina, é difícil falar ‘nunca’ e ‘sempre’, mas uma gravidez natural é muito improvável”, explica.
“A menopausa quer dizer que acabaram os óvulos, então, você não tem mais por que menstruar”, diz Karen. “Já vi pacientes menstruando normalmente até os 60 anos. Supõe-se que, enquanto uma mulher menstrua, ela pode engravidar”, completa, ressaltando que a grande questão, após os 40, é a qualidade dos óvulos. Por isso, as taxas de sucesso de gravidez, mesmo ovulando, são menores. O risco de aborto, vale lembrar, aumenta.
Nada disso, porém, quer dizer que uma mulher que deseja engravidar mais tarde, até mesmo depois de ter entrado na menopausa, precisa desistir de seu objetivo. Atualmente, a reprodução assistida dispõe de técnicas que tornam esse cenário real.
Além de utilizar óvulos da própria mãe, congelados previamente, é possível usar a ovodoação, ou seja, fertilizar óvulos doados por outra mulher, mais jovem. O espermatozoide pode ser do parceiro ou doado também. “O útero de uma mulher de 20, 30, 40, 50 anos é igual, não envelhece. O que envelhece são os ovários”, explica a ginecologista. Daí, a ovodoação de uma paciente mais nova, entre 25 e 35 anos, ser uma opção mais viável nesses casos.
É uma gravidez mais arriscada?
Seja natural ou por meio da reprodução assistida, uma gravidez após os 50 anos nem sempre é mais arriscada do que a de uma mulher mais jovem. Tudo depende das condições de saúde e do estilo de vida da mãe.
“O que acontece é que, geralmente, depois dos 50, costumamos ter mais doenças. A hipertensão, o diabetes, as alterações no colesterol e as doenças cardíacas, por exemplo, estão mais presentes, conforme envelhecemos. O alto risco pode aparecer por conta dessas condições concomitantes”, explica Karen. “No entanto, se você já é hipertensa aos 30 anos, às vezes, sua gravidez nessa idade pode apresentar um risco maior do que a de uma mulher de 50 anos que pratica exercícios, não tem hipertensão, nem diabetes e não toma nenhuma medicação”, compara.
Pré-natal e parto depois dos 50
Os cuidados com uma gestação aos 50 são os mesmos de uma gestação em qualquer idade. Segundo a obstetra, o principal é evitar ganhar muito peso, se alimentar de maneira saudável, se hidratar bastante e fazer as consultas e exames periódicos, para garantir que está tudo seguindo como esperado.
“É claro que, por causa da idade, acabamos investigando um pouco mais intensamente algumas doenças que são comuns nessa idade, mas, no restante, são os mesmos pontos de atenção”, afirma.
O parto também depende mais das condições da mãe e do bebê do que da idade da grávida. “Se o bebê estiver com peso adequado, a placenta estiver bem localizada e se a mãe estiver bem de saúde, não estiver hipertensa, não tiver nenhum outro problema, a tendência é que esse parto aconteça da mesma forma que aconteceria em qualquer outra fase da vida”, explica a especialista.
E o emocional da mãe?
Ter um filho, em qualquer idade, é sempre uma revolução, tanto no corpo como na mente. Além da dança dos hormônios, existe toda a demanda de cuidados e preocupações da maternidade. “Mesmo que a mulher tenha 50 anos e já tenha passado por outras gestações, existe a insegurança. Qual gravidez não gera medo?”, explica a psicóloga Lígia Dantas, membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH) e idealizadora de uma plataforma de apoio chamada Entra na Roda, criada na pandemia para acolher, informar e conectar pessoas nas diversas transições da vida, uma delas, a maternidade.
Para a especialista, o filho, seja qual for a faixa etária da gestante, é uma novidade e causa um estranhamento – o que é bom! “O bebê vai se configurando como um novo sujeito e a mãe vai aprendendo a lidar com isso. Por mais que nos preparemos para a maternidade, é sempre algo que desconhecemos e vamos lidando ali, no momento, conforme tudo acontece. E é justamente nesse estranhamento entre mãe e filho que a maternidade se concretiza”, aponta a psicóloga. O jeito de cuidar desse novo bebê será diferente da maneira como Claudia cuidou dos filhos mais velhos, há vinte anos. Por isso, é sempre uma descoberta, apesar da experiência já vivida.
Buscar informações confiáveis e contar com uma rede de apoio, entre familiares, amigos e profissionais, é uma das principais maneiras de atravessar o início da jornada da maternidade – e essa rede não deve ser dispensada em nenhuma fase da vida.