Nenhuma mulher vive a gravidez da mesma forma. As expectativas, ansiedades e cuidados são diferentes para cada uma – e não podemos deixar de incluir nesse conjunto os sintomas. Há gestantes que se queixam de enjoo e náusea, enquanto outras não sentem o incômodo (mas podem reclamar de inchaço, dor lombar e outras sensações particulares).
Mas e quando comparamos as gestações de uma mesma mãe? Neste caso, uma dúvida que pode surgir é se a segunda vivência dos nove meses terá semelhanças com a primeira, principalmente no que diz respeito às mudanças físicas e ao momento do parto.
Como já adiantamos, esta não é uma questão simples de ser respondida. “Os sintomas que aparecem na primeira gestação podem não acontecer na segunda e vice-versa”, diz Renata Lamego, ginecologista e obstetra do Hospital Albert Einstein.
No entanto, alguns acontecimentos tendem a ser diferentes quando a grávida espera o segundo filho – e isto vale para a maioria das mulheres. “Na segunda gravidez, por exemplo, a barriga ‘aparece’ antes. Porque é como se os músculos estivessem mais relaxados e adaptados para receberem o aumento do volume uterino”, explica a ginecologista. “Assim, com três ou quatro meses já é possível notá-la maior”, acrescenta.
Alberto Guimarães, obstetra e idealizador do programa Parto Sem Medo, concorda com a explicação dizendo que o fenômeno tem relação com a flacidez da musculatura abdominal, que já se estendeu anteriormente e estará mais preparada para o peso do útero. “Portanto, com a mulher em pé e de perfil, temos a impressão de que a barriga está maior do que ela se recordava na gestação anterior, em uma mesma idade gestacional”, afirma.
Mais uma diferença que é unanimidade entre os especialistas diz respeito aos movimentos fetais. Segundo eles, depois da primeira gravidez, a mulher costuma sentir o bebê se mexendo antes, provavelmente por já conhecer a sensação. “Na primeira vez, geralmente sente com 20 a 22 semanas, enquanto que em uma gravidez posterior ocorre em torno de 17 a 18 semanas”, comenta o obstetra.
Além disso, a gestante pode notar mais varizes em sua pele na segunda vivência. “Isso porque no processo da gravidez há uma vasodilatação que, após o nascimento do bebê, volta a ser como antes (mas não completamente). Portanto, da próxima vez, há uma tendência que os vasos dilatem mais rapidamente, gerando as varizes – sem contar que neste meio tempo a mulher já envelheceu um pouco, o que também contribui”, esclarece Renata.
O resultado é a maior probabilidade do aparecimento de varizes de membros inferiores, que são as convencionais, mas também de hemorroidas e varizes pélvicas ou na vulva. Veja alguns cuidados com as varizes na gravidez.
Já em relação aos sintomas mais “clássicos” da gravidez, como enjoos, dor nas mamas e inchaço, os médicos pontuam que não há uma relação com o número de gestações que a mulher já teve. O que pode acontecer, porém, é que ela se queixe menos de alguns desconfortos, como a dor lombar, por já ter experimentado ela e estar mais preparada neste momento.
As doenças na gravidez vão se repetir?
Alguns problemas associados à gestação podem sim aparecer novamente em uma gravidez futura, como é o caso da pré-eclâmpsia e da diabetes gestacional. “Essa primeira condição é relacionada com o parceiro. Portanto, se a mulher não teve na primeira gravidez e o pai é o mesmo, a chance de que ela se repita na segunda gestação é mínima. Já se o diagnóstico ocorreu da primeira vez, a probabilidade futura é aumentada”, explica a ginecologista.
E o mesmo vale para a diabetes gestacional. “Se a grávida teve na primeira experiência, na próxima ficaremos mais atentos na questão da alimentação, da atividade física e procuraremos outras medidas para tentar diminuir essa chance”, complementa o idealizador do Parto Sem Medo.
Fugindo um pouco do escopo das doenças, outra questão que gera dúvidas é a da prematuridade. De acordo com o doutor, a chance de que o segundo bebê nasça prematuro depois que isto aconteceu com o primeiro, é clinicamente maior. “Isso se explica pelos fatores de risco que levaram ao parto prematuro, como uma condição chamada incompetência istmo cervical”, esclarece Renata.
“A doença faz com que o colo do útero não resista bem ao peso e não tenha competência para segurar o bebê, podendo ocasionar um parto prematuro”, acrescenta.
O trabalho de parto será mais rápido?
Mulheres que demoraram longas horas em trabalho de parto até o nascimento do primeiro filho podem se perguntar sobre a possibilidade da segunda vez ser mais rápida. Felizmente, segundo os especialistas, esta é a tendência – e a menor duração ocorreria por dois motivos principais.
“Em um primeiro trabalho de parto, geralmente a mulher começa a contar as contrações mais cedo e não sabe diferenciar as de Braxton Hicks (treinamento) e as de trabalho de parto. Já na segunda, se ela desconsiderar as de treinamento, pode ter a percepção de que o parto foi mais rápido”, diz Alberto.
A segunda justificativa está relacionada ao processo de dilatação do colo do útero. “Na primeira gravidez, a dilatação é muito mais lenta e geralmente ela acontece antes da descida do bebê. Já nas gestações seguintes, a dilatação é mais rápida e geralmente ocorre depois da apresentação do bebê – ou seja, muda um pouco a ordem dos acontecimentos”, conclui a médica do Hospital Albert Einstein.