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Ainda que raro, coronavírus pode desencadear quadro de CIVD em gestantes

A Covid-19 pode criar um desajuste no sistema de coagulação de grávidas que pode ser fatal. Procuramos especialistas para entender o caso.

Por Alice Arnoldi
11 dez 2020, 13h51
 (Guido Mieth/Getty Images)
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Desde abril, grávidas passaram a ser reconhecidas como integrantes do grupo de risco do coronavírus, devido a tendência de desenvolverem quadros mais graves em decorrência de doenças respiratórias. Um exemplo disso foi o caso da médica Romana Novais, esposa do DJ Alok, que estava com 32 semanas e precisou dar à luz Raika através de um parto normal de emergência após complicações na gestação ao testar positivo para Covid-19.

Quem explicou com detalhes o que aconteceu foi a própria Romana, em uma série de stories no seu perfil do Instagram. A médica contou que, após tomar uma das vacinas necessárias à gestante, começou a sentir dores no corpo e na região da aplicação. Isso fez com que ela pensasse que era apenas reação da dose. Entretanto, com o passar dos dias, o incômodo corporal começou a piorar, o que fez com que ela e Alok decidissem fazer o teste do coronavírus.

O do DJ saiu primeiro, dando positivo, o que levou Romana a crer que também estava e, mais tarde, ter a confirmação por meio do exame. Junto com as dores fortes pelo corpo e febre, a médica começou a sentir contrações e procurou pelos obstetras que a acompanham. Eles realizaram um ultrassom, constatando que estava tudo bem com o bebê, mas quando Romana foi descer da maca, ela começou a ter um sangramento vaginal intenso, mais tarde reconhecido como um quadro de CIVD, que explicaremos a seguir.

Já na maternidade, a grávida estava com sete centímetros de dilatação e o quadro de CIVD se deu pela trombose na placenta, o que levou ao descolamento prematuro do órgão gestacional e a necessidade do nascimento do bebê às pressas.

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O que é CIVD?

Segundo o hematologista Nelson Tatsui, diretor técnico da clínica Criogênesis, CIVD é a sigla para “Coagulação Intravascular Disseminada”. “Ela não é propriamente uma doença, mas uma condição clínica secundária a diversos gatilhos que induzem a uma ativação do sistema de coagulação“, pontua.

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Em um cenário comum, esse incentivo à coagulação é equilibrado e até mesmo passageiro, como acontece ao nos machucarmos. “Porém quando é forte, resultando em consumo elevado de proteínas da coagulação e de plaquetas, formação de coágulos nos vasos ou trombose, resultando em dificuldade de suprimento aos órgãos e sua falência, esta condição potencialmente letal é chamada de CIVD”, esclarece o hematologista.

Os fatores que podem desencadear a CIVD em gestantes

Como foi explicado por Dr. Tatsui, a CIVD acaba sendo provocada por outras condições pré-existentes. Nos casos das gestantes, ela pode ser resultado de quadros conhecidos como pré-eclâmpsia e descolamento prematuro da placenta.

Junto com eles, Gilberto Nagahama, ginecologista e obstetra do CEJAM, cita outros exemplos como: tromboembolismo amniótico, sepse por endotoxinas (gravíssima infecção na gestação) e quando há a retenção do feto que veio a óbito dentro do útero.

Além do que a literatura já alertou os especialistas há tempos, Nagahama explica que estudos têm associado quadros de CIVD causados pela presença do coronavírus durante a gravidez. “E que fique muito claro que este evento pode acontecer em qualquer momento da gestação independente da idade gestacional”, enfatiza o obstetra.

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A relação entre CIVD e o coronavírus

Assim como Nagahama, a ginecologista e obstetra Erika Kawano afirma que, por pesquisas mais recentes e casos vistos na prática, o coronavírus pode desencadear a CIVD. Isso porque a infecção respiratória está ligada diretamente com o que os médicos chamam de mudança na cascata de coagulação. Isto é, mexe na sequência de eventos que acontecem no fígado, associados às plaquetas, para que o sangue coagule de maneira correta.

Assim, tanto a Covid-19, quanto as outras alterações que levam a CIVD, faz com que ocorra uma ativação exagerada da coagulação, formando trombos e hemorragias ao mesmo tempo.

“O organismo começa, em cascata, a produzir muito depósito de fibrina (proteína que, junto com as plaquetas, detém a hemorragia) nos vasos sanguíneos. Isso leva a uma produção exarcebada dos agentes de coagulação que vão resultar em múltiplos trombos. Só que ao produzi-los em larga escala, chega um momento que consumimos tanto os fatores de coagulação e há um limite de sua produção, que começamos a sangrar pela falta deles e das plaquetas”, esclarece Erika.

A especialista ainda pontua que esses trombos não acontecem apenas na placenta, mas em todos os locais que têm vasos – como rim, fígado, e até mesmo no cérebro – e por isso o quadro recebe o nome de coagulação intravascular disseminada.

No caso das gestantes, a presença dos microtrombos na placenta pode levar ao seu descolamento e, possivelmente, a um parto prematuro, além da ocorrência de um quadro de CIVD que pode ser fatal. Pensando nisso, tanto o público geral infectado pelo coronavírus quanto as grávidas que apresentam estados mais avançados da doença têm a retaguarda de um tratamento que se preocupa com a coagulação sanguínea para prevenir possíveis agravamentos.

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