Será que você coloca rótulos em seu filho sem perceber?
Certos comentários podem afetar a criança mais do que se imagina. Entenda se há chances de isso estar acontecendo por aí e saiba como mudar de atitude
“Essa menina não suporta perder”, “ele é tímido mesmo”, “meu filho só tira 10”. À primeira vista, essas frases podem parecer não ter nada em comum, mas há um aspecto muito importante a que devemos nos atentar: o poder que elas têm de rotular as crianças.
O hábito pode ser até inconsciente e, certamente, não ter qualquer intenção depreciativa. Mas pais, familiares e outros adultos que convivem com os pequenos costumam fazer esse tipo de comentário sem ter noção do mal que ele é capaz de causar. “As crianças acreditam mais em seus pais do que nelas próprias. Assim, quando uma mãe ou um pai fala algo sobre seu filho, aquilo se torna uma verdade limitante, mesmo muitas vezes não sendo”, explica a educadora parental Paloma Silveira Baumgart. “Ao ouvir ‘Joana é tímida, é bicho do mato’, provavelmente Joana crescerá sem conseguir fazer muitas amizades, por achar que é tímida”, exemplifica a especialista.
Da mesma forma, aquela criança definida como “bagunceira e desobediente”, quanto mais ouvir que ela “é” daquele jeito, mais repetirá o comportamento que se deseja mudar – como se observa de forma tão clara em salas de aula.
Sabe-se, a partir da neurociência, que a nossa primeira infância molda grande parte daquilo que nos tornamos no futuro. “Caráter, personalidade, traumas e muitas características comportamentais são formadas com base no que vivemos nesse período, que vai de zero a 6 anos”, alerta Paloma. Portanto, é essencial prestarmos atenção ao que falamos às crianças nesse período, já que as repercussões podem ressoar pelo resto da vida.
Só o rótulo negativo é problemático?
Não. Embora o rótulo negativo reforce comportamentos ruins e faça com que eles se tornem uma verdade – quando são apenas reflexo de uma situação – o rótulo “positivo”, ou seja, aquele que reforça uma situação considerada adequada, também pode trazer consequências negativas.
“Por exemplo, dizer ‘meu filho é um gênio, só tira 10’, poderá fazer com que a criança acredite nisso. Quando ela tirar 9, vai se sentir triste, porque os gênios não podem tirar menos que 10”, diz a educadora parental. Esse tipo de cenário tende a trazer ansiedade e uma cobrança enorme para o pequeno, influenciando até mesmo sua autoestima.
Mas, então, o que podemos dizer?
A orientação da especialista é trocar o “é” por “está”. Assim, nos referimos a um comportamento que está acontecendo naquele momento, sem definir de forma taxativa o que aquela criança é ou não.
“Maria não é brava, ela está brava, pois queria comer um chocolate antes do jantar”, “Maria está tímida, porque acabou de chegar, mas daqui a pouco ela começa a socializar”, comenta Paloma com sugestões possíveis.
No caso dos rótulos positivos, os parabéns e os incentivos são mais que bem-vindos, também seguindo essa lógica de causa e consequência. “Parabéns, filho, você tirou 10, porque estudou!”. O importante é que os pequenos entendam que eles não “são” nada de forma definitiva e que tudo pode ser transformado de acordo com as escolhas que fazem ao longo da vida. Sabendo disso, o futuro, certamente, agradecerá!