Das muitas saudades que a pandemia do novo coronavírus deixou, ir ao parque está no topo da lista para muitas famílias. Brincar com os pequenos ao ar livre, andar de bicicleta, fazer um piquenique no gramado… As possibilidades de atividades são muitas e, apesar de os casos da doença ainda não terem se estabilizado no país, algumas cidades já estão reabrindo estes espaços para a população.
Os parques do Rio de Janeiro, por exemplo, voltaram a receber o público na segunda semana de julho, enquanto que o processo começou em São Paulo na segunda-feira (13). Na capital paulista, o protocolo é que os locais funcionem com 40% da capacidade, horário reduzido e várias medidas de higiene, como o uso obrigatório de máscaras e álcool em gel disponibilizado nas áreas comuns.
Mesmo com a tentativa de controle de quem entra e sai dos espaços, para evitar aglomerações, e com as demais formas de prevenção sendo aplicadas, sabemos que as inseguranças – e o vírus – continuam à solta, e os pais podem entrar no dilema de levar ou não o filho ao parque.
De acordo com a infectologista pediátrica do Hospital GRAACC, Dra. Fabianne Carlesse, é muito difícil dizer o que é seguro neste momento. “O que podemos fazer é lidar com o problema de forma a minimizar o risco, porque o risco em si sempre existe“, afirma ela.
Em relação ao nível de perigo que o ambiente oferece, o parque tem o seu mérito. “Ser um lugar aberto e extremamente arejado é um ponto positivo”, explica a doutora. Isso porque ele diminui a chance de transmissão viral, em comparação a outros espaços da cidade, como shoppings e restaurantes.
Mas para que seja possível pensar na melhor forma de manter a segurança, a infectologista diz para prestarmos atenção nas formas pelas quais podemos contrair o SARS-CoV-2. “O vírus entra no organismo por meio da inalação – e para isso ocorrer geralmente a pessoa precisa estar próxima a uma outra infectada, a uma distância menor que um metro e meio – ou ao levarmos ele através das mãos, tocando a boca, nariz ou olhos”, esclarece.
Por isso, higienizar as mãos com frequência é a regra máxima quando as famílias estiverem no parque. “Porque a criança coloca a mão no brinquedo, no banco, a máscara coça e ela vai ajustar…”, exemplifica Fabianne.
Mais cuidados dentro do parque
A vontade de passear é grande, todo mundo sabe, mas os cuidados para sair do isolamento social não são poucos e é preciso pensar com cautela.
Além de manter o álcool em gel sempre por perto, buscando reaplicar toda vez que o pequeno tocar em algo no parque, mais algumas medidas são importantes de levar em conta. “Usar máscara é obrigatório, já que o item funciona como uma barreira, minimizando a contaminação do ambiente”, diz a médica. “Mas ela não tem o poder de filtragem, então é necessário manter a distância de pelo menos um metro e meio das pessoas“, acrescenta.
E esta distância aumenta se estamos falando de atividades físicas, como afirma a pediatra, alergista e imunologista Mariana Gouveia. “Na corrida, por exemplo, além de liberarmos mais partículas através do suor e boca, formamos um vácuo atrás de nós no qual, aparentemente, as partículas adquirem maior velocidade”, descreve.
Assim sendo, ela recomenda que as famílias procurem não ficar perto de quem está se exercitando. “O ideal seria manter ao menos de 20 a 30 metros de distância”, indica a pediatra.
Por mais difícil que possa ser controlar o contato dos pequenos com os outros, o momento ainda pede cautela. Por isso, a especialista sugere que eles brinquem apenas com a própria família e evitem encostar em animais de estimação que não os seus e em brinquedos de outras crianças.
Passar longas tardes no parque? Por enquanto, Mariana recomenda que não. O mais aconselhável ainda é que os passeios sejam mais breves e que evitem horários de pico. Para isto, vale pesquisar qual está sendo o período de funcionamento do seu parque preferido e, se possível, levar as crianças nas partes do dia mais vazias. Saiba que outros cuidados tomar caso precise sair com os filhos.
Mas e se der fome durante o passeio?
Uma dica para os adultos que querem curtir a brincadeira ao ar livre com os filhos é que evitem se alimentar enquanto estiverem lá. “Porque precisarão tirar as máscaras e higienizar com álcool em gel antes e depois de comer”, explica ela. Então, os piqueniques continuam adiados, ok?
“Se precisar se alimentar, o melhor é procurar uma área mais afastada, para que consiga tirar a máscara sem ficar muito exposto”, aconselha a imunologista. Isso significa se policiar para não comer ou beber água andando ou com muitas pessoas por perto, aponta ela.
Priorizar lanches rápidos também é uma boa pedida. “É melhor levar frutas, e não bolachas ou salgadinhos – alimentos que as crianças tem que colocar as mãos várias vezes dentro do pacote para consumir”, afirma.
O que mais levar na bolsa?
Como já dissemos, álcool em gel e garrafinha de água são importantes de ter consigo durante o passeio. A médica do GRAAC acrescenta mais dois itens à lista: uma troca de máscara, porque o acessório pode acabar sujando ou ficando úmido conforme a pessoa fala; e um pano descartável que possa ser usado para aplicar o álcool e limpar os utensílios. Não esqueça de levar um saco plástico para colocar todos os itens que possam voltar do passeio contaminado.
Quando for escolher o que levar para entreter a criançada, os adultos devem dar preferência aos brinquedos laváveis – e não bichos de pelúcia ou objetos com pano, por exemplo -, pela facilidade quando for higienizar.
Chegando em casa…
Depois da diversão, o protocolo é tirar o sapato antes de pisar dentro de casa e ir direto para o banho se possível – se não, ao mínimo trocar de roupa, deixando as vestimentas utilizadas em um espaço separado.
Assim que as mãos estiverem lavadas, é hora de limpar tudo o que entrou em contato com o ambiente externo, desde bicicleta e patinete até os brinquedos menores. “Os brinquedos laváveis podem ser higienizados com um pouco de água sanitária. Basta colocá-los dentro de uma vasilha grande, adicionar uma medida de água sanitária para três de água e deixá-los imersos na solução por 30 minutos”, sugere a infectologista.
Como você pode perceber, as variáveis e as dificuldades de um passeio externo ainda são muito grandes. Vale ponderar muito bem se a sua família, de fato, conseguirá seguir todo o protocolo de higienização e controle sugeridos pelos especialistas. Na dúvida, melhor manter o isolamento e esperar por dias mais seguros para sair.