Ingrid Silva: “Não temos que ser só mães, somos múltiplas”
Ícone do ballet brasileiro e internacional, Ingrid fala sobre a importância de estar em movimento, seja na maternidade ou na dança.
Para Ingrid Silva, bailarina brasileira membro da Dance Theatre Company (em Nova York), parir um filho é como fazer parte de um espetáculo para o qual você ensaia muito, mas que na hora da estreia foge completamente do script. Foi apenas após vivenciar a maternidade ao lado da filha Laura, atualmente com um ano e cinco meses, que ela se deu conta disso.
Mas Ingrid, como qualquer outra mulher e mãe, é múltipla: “É importante, para mim, poder desmistificar qual o papel que a mulher pode ocupar. Ela pode ser mãe, business woman, bailarina e, ao mesmo tempo, ser ela mesma – se amar, amar o seu corpo e viver”, assume ela, em entrevista exclusiva para o Bebê.com.br.
O desenvolvimento de sua relação pessoal com o próprio corpo, inclusive, foi um dos pontos mais relevantes da volta aos palcos no pós-parto, e da manutenção da força física e mental ao longo da gestação. Uma rotina intensa de exercícios e treinos permitiu que ela conhecesse – e respeitasse – os próprios limites:
“Isso tudo me ajudou a fortalecer o meu corpo no pós-parto, aprendi a acreditar mais na potência da mulher. Eu achava que o ballet era ‘difícil’, mas ser mãe é muito mais”, desabafa.
Neste relato, Ingrid fala também, mas não somente, sobre maternidade e dança, e como ambas são motivo de orgulho e ferramenta de transformação.
Recomeço
“Sempre tive um laço muito forte com crianças em geral, especialmente meus primos e afilhados. Sempre quis ser mãe, tive esse espírito mais maternal dentro de mim. Pensava muito nisso, mas nunca planejei a maternidade, de fato. Então, quando fomos surpreendidos pela gravidez da Laura eu achei o momento perfeito – aconteceu durante a pandemia –, e isso me permitiu voltar ao trabalho bem depois.
Como a gravidez não foi planejada, ou seja, eu não tinha me preparado, achei a notícia chocante de início. Depois chorei muito e pensei que ‘se é para ser, que seja agora’. Psicologicamente, porém, não estava pronta, pensava muito sobre o que seria da minha carreira. E aí, olha que doideira, só com sete meses de gestação que senti a ficha cair de verdade.
Tempo de mudança
Passei por transformações físicas pesadas, ganhei 20 quilos, mas dancei e me exercitei durante a gravidez toda, até completar 39 semanas. Também aprendi muito sobre o meu corpo: pela primeira vez me conheci de verdade, e descobri que era muito mais forte do que imaginava.
O mundo da dança sempre teve muito preconceito com mulheres que queriam se tornar mães – era ou o ballet, ou a carreira, e muitas optaram pela carreira. Já eu venho de uma geração que é mais afrontosa, que quer os dois. E por que não? Acho importante não perder a minha essência, e ao mesmo tempo criar um futuro melhor através da minha filha. As coisas estão começando a mudar, mas ainda é preciso muito mais progresso.
Volta aos palcos
O retorno aos palcos após a maternidade foi intenso. Eu acordava todos os dias às seis da manhã, andava de bicicleta do [bairro do] Harlem ao West Village, e ia para a academia com a minha personal, Carol, por uma hora. Depois, fazia aula de ioga via Zoom, ia para o ballet e dançava até sete horas da noite. Além disso, eu também fazia aulas particulares com a Bethânia, que é a minha coach e quem me deu aula durante a gravidez toda.
Isso tudo me ajudou a fortalecer o meu corpo no pós-parto, aprendi a acreditar mais na potência da mulher. Eu achava que o ballet era ‘difícil’, mas ser mãe é muito mais [risos]. Parir um filho é um espetáculo para o qual você ensaia muito, mas que na hora será como a criança quiser.
Presente e futuro
Eu, na verdade, não tenho o desejo de que a minha filha seja bailarina, mas ela vê o ballet o tempo todo, então esse interesse já está nela. A Laura já ensaia vários passos, aqui e ali, e o pessoal da Companhia também a ensina. Então, quando ela estiver maiorzinha, se quiser dançar, estarei aqui para apoiá-la.
É importante, para mim, poder desmistificar qual o papel que a mulher pode ocupar. Ela pode ser mãe, business woman, bailarina e, ao mesmo tempo, ser ela mesma – amar-se, amar o seu corpo e viver! Nós, mulheres, não temos que ser só mães, somos múltiplas”.