Se você é mãe ou pai de uma criança que ainda não está em fase escolar, provavelmente já se pegou imaginando como será o dia em que seu filho vai dançar na festinha do colégio. E não tem jeito. Escolher a roupinha, arrumar o cabelo, fazer pintinhas ou bigode na Festa Junina são lembranças que fazem parte da vida de muita gente que deseja repetir tudo isso, mas agora no papel do adulto. Aí é que está o problema: essa é uma expectativa nossa, que não necessariamente vai ser correspondida pela criança. O que fazer, então, se ela bater os pezinhos e disser que não quer dançar?
Acolher e procurar entender os motivos
Podem acontecer duas situações diferentes: a criança se recusar a participar da dança desde os ensaios ou “travar” na hora de subir no palco. Em geral, o segundo caso acontece mais com os pequenos e é comum, já que eles se veem em uma circunstância nova e ficam assustados. Já o primeiro cenário pede a atenção de pais e professores para avaliar se há algo a mais se passando com a criança.
“Por estarem em um ambiente de vivência diária, espera-se que os ensaios sejam divertidos com a interação entre os alunos e professores. Então isso pode ser, sim, um alerta, e devemos nos esforçar para entender os motivos que a levam a esse comportamento”, explica a psicóloga e psicopedagoga clínica Jéssica Ferreira de Aguiar Bueno. “Ele pode estar relacionado apenas a uma não identificação do aluno com a atividade ou até a dificuldades maiores de insegurança e de interação social”, alerta.
Ao se deparar com esse tipo de situação, Jéssica chama a atenção para a importância de acolher os sentimentos da criança sem julgamentos ou rótulos, para que se estabeleça uma conexão, “falando que você percebe que ela não está à vontade e que juntos podem pensar em maneiras de fazer com que ela se sinta melhor”, orienta.
É interessante que os pequenos compreendam que os ensaios são um momento de descontração, sem pressão para uma apresentação perfeita. Há uma diferença entre incentivar e forçar o aluno a fazer algo novo.
Sinal de alerta
“Nós podemos perceber esse limite entre incentivo e força no comportamento da própria criança a partir dos sinais que ela apresenta. O incentivo tem como objetivo o encorajamento, favorecendo maior segurança emocional, já o “forçar” vai levar a criança a experimentar sensações desconfortáveis e ela demonstrará com maior intensidade sinais de resistência e sofrimento”, explica a psicopedagoga.
Se os pais notarem esse tipo de recusa de forma intensa, vale uma conversa na escola para procurar entender se há situações relacionadas a bullying ou se o pequeno demonstra dificuldades de interação social – e aí, certamente, a recusa da dança será apenas um fator entre outros já observados pelos professores. Nesse caso, isso pode servir como alerta de que é interessante buscar acompanhamento psicológico em um trabalho aliado aos profissionais do próprio colégio. É importante ter em mente também o comportamento da criança nos anos anteriores e lembrar que o longo período de isolamento social pode ter grande influência nas angústias atuais da infância.
Meu filho não quer subir no palco. E agora?
Não importa se é a primeira vez ou se a criança já está no fim do Ensino Fundamental I – pais, tios e avós babões criam expectativas e amam registrar cada passinho dos pequenos. Mas é fundamental que essa expectativa não se torne um peso para a criança. “Inconscientemente, ela pode fazer o contrário, paralisar de medo, frustrar a si mesma e a todos. Deve-se mostrar que aquele é um momento divertido, principalmente para ela”, explica Jéssica.
E quando a criança desiste na hora H? O ideal é acolher o pequeno e oferecer escuta e palavras de carinho. “Pode-se dizer ‘não há problema se você está desconfortável, eu também me sinto assim às vezes. Mas você se esforçou bastante, será que tem algum jeito de te ajudar a ficar mais confortável para se apresentar?’. Depois, é importante ouvir a resposta e pensar em sugestões como ‘você quer que eu fique pertinho, ao lado do palco? Quer um abraço antes de dançar?’”.
Se, ainda assim, seu filho não conseguir se apresentar (seja porque não subiu no palco ou porque tentou subir, mas não dançou), a psicopedagoga lembra da importância de que a família lide com a própria frustração sem passá-la para a criança. “É recomendado que a elogiem por ter se esforçado e se preparado, passando uma mensagem segura de que ela poderá tentar novamente no próximo evento”, finaliza.