Afinal, não é só um follow...
E como tudo relacionado à internet, há também o outro lado. A psiquiatra Juliana Cavalsan, especializada em atendimento à saúde mental da mulher, pontua que um dos motivos para o desenvolvimento de transtornos psicológicos, durante o puerpério, é a falta de suporte social – definido como ausência de qualquer pessoa que consiga olhar para a demanda da mãe antes mesmo de se referir ao bebê. Assim, encontrar apoio virtual adequado e positivo pode atenuar quadros como o de depressão pós-parto, que atinge até 25% das mães brasileiras, segundo dados do estudo “Factors associated with Postpartum depressive symptomatology in Brazil: The Birth in Brazil National Research Study“, publicado no periódico científico Journal of Affective Disorders.
“Quando um grupo consegue ouvir uma mulher deprimida, que diz que quer sumir e não cuidar do bebê, e entende a situação como um sintoma depressivo, ele também vira um suporte social”, reflete a psiquiatra. Foi o que aconteceu com a criadora de conteúdo Luana Ferrão, de 31 anos, mãe do Vlad, de um ano e oito meses.
Mineira, mas morando no Rio de Janeiro, ela conta que após o primogênito nascer, o combinado era de que sua mãe passasse pelo menos um mês em sua casa para ajudá-la com o pequeno. “Mas os problemas começaram no parto e duraram até o primeiro dia que voltamos com Vlad para casa, porque ela não aceitava a forma como decidimos fazer os primeiros cuidados dele”, lembra a criadora de conteúdo.
Na pesquisa “Índice de Parentalidade”, divulgada em fevereiro de 2021 e realizada pela Kantar, 71% das mães e pais brasileiros sentem que pessoas próximas sempre têm um comentário inconveniente para fazer sobre a criação de seus filhos.
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O embate fez que com que Luana precisasse enfrentar a ausência de uma rede de apoio presencial no puerpério, potencializado pela pandemia da covid-19 que trouxe anda mais isolamento social como consequência. A saída encontrada pela mãe foi recorrer aos grupos virtuais.
“Foi por meio das redes sociais que eu descobri o que sei hoje sobre amamentação e criação com respeito e é por elas que percebi que não sou a única que quer fazer as coisas de forma diferente. Também foi pelos grupos que me senti validada nas dificuldades e até hoje é assim”, conta Luana. Um dos percalços que ela superou com a ajuda do suporte virtual foi o diagnóstico de APLV do filho, que trouxe dúvidas respondidas carinhosamente por outras mães na mesma situação.
Esta validação que a criadora de conteúdo comenta, segundo Roberta, tem ainda mais importância no puerpério. “É um momento que a mulher está mais suscetível aos comentários, porque ela está começando a exercer uma função nova, em que não tem tanta confiança e por isso, muitas vezes, é importante o reconhecimento do outro diante do que ela está fazendo”, detalha a psicanalista.