Com o Natal batendo à porta, a tendência é que os pequenos já tenham escrito suas cartinhas ao Papai Noel com o que desejam ganhar e o momento de entrega do novo brinquedo seja ainda mais divertido e cheio de carinho entre pais e filhos neste ano tão desafiador. Só que é preciso pensar também no que fazer com os itens que já não fazem parte da rotina da criança e como ensiná-la a importância de repassá-los para quem poderá aproveitá-los melhor.
Como explica Luciana Araújo, educadora e neuropedagoga, esse processo transmite valores de empatia, solidariedade, amizade e união para os pequenos. E, para ser colocado em prática, o primeiro passo é lembrar o modo principal que eles assimilam novos ensinamentos. “Na primeira infância, as crianças aprendem por modelagem e imitação. Por isso, quanto mais visualizarem o adulto realizando essa prática na vida deles, mais fácil será sua compreensão e, assim, sua ação”, pontua a especialista.
Construa o hábito aos poucos
Com isso em mente, a professora Sônia Prado, coordenadora do curso de Psicologia da Estácio Interlagos, orienta os cuidadores a criarem uma rotina de doação de objetos pessoais, enquanto os pequenos observam. “Pelo menos a cada seis meses, os pais devem tentar fazer uma limpeza de coisas que não usam mais, mas a ação deve ser sempre em conjunto com o filho. Isso já despertará nele o espírito do desapego”, detalha a especialista.
Luciana também aconselha brincadeiras que tenham o ensinamento da doação intrínseco. Por exemplo, de tempos em tempos, combinar com outros pais de os filhos trocarem brinquedos que não usam mais com os amiguinhos e depois devolvê-los. Para que o objetivo da atividade fique cada vez mais claro, ela deve acontecer com periodicidade ao longo da infância.
Já a terceira dica é aconselhada pelas duas especialistas: se possível, envolva a criança com trabalhos sociais que mostrem quem são os pequenos que receberão os brinquedos doados. Neste momento de pandemia, é difícil que isso aconteça presencialmente. Uma saída é procurar por instituições de caridade que estão trabalhando com chamadas de vídeo para que aconteça esta troca emocional entre as crianças.
O início pode ser mais difícil
Mesmo com todas as técnicas em mãos, o ato final de doar o brinquedo pode ser desafiador tanto para a criança quanto para os pais. Isso porque, nos primeiros anos de vida, o pequeno passa por uma fase egocêntrica de tudo e de todos que estão a sua volta, acreditando que o que acontece ou existe é por causa dela, como pontua Luciana.
Neste período, é importante que os adultos tenham a sensibilidade de respeitar a fase de desenvolvimento que ela se encontra e procure sempre mantê-la presente no processo da doação. “Assim como os adultos, a criança também tem seus apegos: possui coisas, roupas e brinquedos que mais se identifica. Portanto a respeite a escolha do que doar“, reforça Sônia.
E quando ela não quiser repassar determinado item, os pais precisam ser empáticos. “Durante o processo de negação, dependendo da idade da criança, o adulto pode buscar conduzi-lo com escuta e acolhimento aos sentimentos, sem reprimir ou negá-los. Será uma conversa fundamentada sobre a importância desse movimento, trazendo sempre o porquê de todas as coisas”, detalha a educadora.
A organização tende a ajudar
E para facilitar esse processo, a forma de guardar os brinquedos precisa estar alinhada com a missão da família de sempre doar o que não está mais sendo usado.
Para isso, consultamos Érika Gama, personal organizer da Loft Organizer, e Lory Buffara, consultora em enxoval de bebê da Mommy’s Concierge, e separamos algumas dicas de como organizar os itens de forma funcional e visando o consumo consciente. Veja quais são elas:
- Triagem: convide a criança para olhar todos os brinquedos que ela tem e seja o intermediário para ajudá-la a separar o que fica e o que precisa ir embora, seja por meio da doação ou até mesmo descarte, caso esteja quebrado ou em más condições;
- Tenha uma caixinha da dúvida: se na hora do pequeno escolher os itens, os pais ficarem em dúvida pelo brinquedo ser significativo ou ainda aparentar estar novo, é importante que eles não questionem a decisão da criança. Mas coloque as peças em um compartimento separado para observar se ela não sentirá falta das opções e os adultos consigam administrar as próprias emoções;
- Faça rodízio dos brinquedos: em vez de deixar todos os objetos expostos, busque apresentar os brinquedos separados e ir variando conforme o tempo passar. Assim, fica mais fácil de entender se o desinteresse era por sobrecarga de opções ou se está na hora de passar aquele item para frente;
- Crie categorias: para que este rodízio fique mais fácil, agrupe todos os objetos que fazem parte da mesma família. Érika orienta os pais a optarem por categorias mais amplas para que a criança encontre com mais facilidade o que procura, por exemplo: materiais de arte, brinquedos de madeira, musicais, bichos de pelúcia e entre outras. Mas se for necessário e estiver de acordo com a faixa etária infantil, vale criar subdivisões para facilitar ainda mais;
- Use os materiais certos: na hora de guardar os brinquedos, a personal organizer indica caixas de plástico com tampa e, se possível, com travas e que sejam empilháveis para economizar espaço. E para ficar ainda mais fácil, etiquete cada uma delas. Já na hora do rodízio, vale usar cestos de tecidos e nichos de madeira para que a criança tenha o campo de visão livre para explorar cada detalhe e demonstrar suas preferências.