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Educar é Preciso

Camila Menon trabalha com crianças desde a adolescência. É especialista em primeira infância, professora e diretriz Montessori da Educar é Preciso (@educarepreciso)
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A importância da conexão: você está realmente presente para seu filho?

Esteja disponível, crie rituais em que a criança, desde cedo, sinta-se parte do meio e entenda que pode sempre contar com você

Por Camila Menon
Atualizado em 26 jul 2023, 13h43 - Publicado em 9 abr 2023, 14h00
homem deitado no chão segurando uma criança nos braços, no alto. Uma mulher sorri deitada ao lado dele
 (PeopleImages/Getty Images)
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A conexão entre pais e filhos é fundamental para o desenvolvimento saudável das crianças e deve começar desde a primeira infância. Com isso, cria-se um vínculo forte e duradouro, que pode ajudar a construir a autoestima, a confiança e a capacidade de comunicação delas. Além disso, é possível que essa conexão seja um fator determinante para que, no futuro, os então adolescentes se sintam seguros e protegidos, principalmente quando enfrentarem desafios e problemas.

Bebês são seres humanos sociais e precisam do contato e do carinho dos pais para se desenvolverem adequadamente. Brincar, abraçar e conversar são formas simples, porém eficazes, de construir essa conexão desde cedo. Quando os pais e/ou cuidadores demonstram interesse e afeto pelas crianças, mais elas se sentem amadas e valorizadas.

O fato é que as crianças se conectam com quem cuida delas, quem as alimenta, quem oferece o toque que acalma, quem senta no chão para brincar. Não se trata da quantidade de tempo, mas sempre da qualidade desses momentos juntos.

Então eu pergunto: você está realmente presente para seu filho? Sei que essa é uma das principais dificuldades dos pais, que, na correria do dia a dia, esquecem-se de sair do “modo automático” e passam a acreditar que “fazer o seu melhor” se resume a pagar as contas para oferecer ao filho o que ele não pôde ter. Eu entendo, mas o cérebro da criança não.

Para o cérebro ainda tão imaturo, a falta de presença, toque e cuidados físicos significa ausência e/ou distanciamento. Por isso, é tão comum que crianças se conectem mais profundamente com quem passa mais tempo com elas (avós, professora, babá…) e se sintam inseguras com o pai/a mãe que fica longos períodos fora de casa.

“Para o cérebro ainda tão imaturo, a falta de presença, toque e cuidados físicos significa ausência e/ou distanciamento”

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Eu sei que, para alguns, neste momento, o peito está cheio de culpa. Acalme-se e entenda que esse não é o meu objetivo. Meu trabalho é pontuar o que deve ser evitado, para que, de forma consciente, quem ainda não tem filhos possa se organizar – e quem já tem e vive essa realidade consiga focar no que pode ser feito para melhorar as relações, ok? Porque esse é um processo que se estende durante a vida, afinal, relacionamentos precisam ser cultivados diariamente. A forma como a criança se percebe (e percebe o outro e o meio) evolui conforme ela cresce. Então tenha em mente que, apesar de os processos tenderem a ficar mais difíceis de ser aceitos a cada dia que passa, pela própria resistência do cérebro em aceitar mudanças, nunca é tarde demais para se responsabilizar e guiar seu filho de forma respeitosa e eficiente.

Considere que, à medida que as crianças crescem, é importante que os pais continuem a se conectar com elas de novas maneiras, acompanhando suas necessidades. Jogar jogos, ler livros, cozinhar juntos, fazer atividades ao ar livre e participar de compromissos escolares ou esportivos são exemplos de como os adultos podem se conectar com seus filhos constantemente.

Tudo isso precisa estar alinhados com a rotina e a disponibilidade da família, mas deve acontecer diariamente. Não dá para acompanhar o filho no futebol de segunda a sexta? Ok, então acompanhe no final de semana. Não resta muito tempo entre a hora de chegar em casa e a hora de dormir? Tenha uma rotina estruturada para que os processos aconteçam de forma ágil, sobrando, assim, um tempo de relaxamento em que vocês possam ler um livro juntos antes de a criança ir para a cama. Lembrando sempre da importância do trabalho em time: enquanto um prepara o jantar, o outro dá banho no filho. Enquanto quem deu banho organiza a cozinha, quem cozinhou lê a história e coloca a criança para dormir. Consegue perceber que, mesmo com a vida fluindo, tanto o pai quanto a mãe tiveram a oportunidade de fazer essa conexão?

criança de braços esticados segura um coração. Um adulto está com a mão embaixo da dela
(manusapon kasosod/Getty Images)
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Além disso, ouça atentamente o que as crianças têm a dizer e dê espaço para que elas expressem seus sentimentos e pensamentos. Quando os pais prestam atenção ao que os filhos dizem, mostram que se importam e que valorizam suas opiniões. Mas atenção: ouvir e acolher não significa fazer tudo o que eles querem, para evitar o choro ou para que não se frustrem. Seu trabalho é ser a calma de que precisam e educá-los sobre o que pode ou não ser feito.

Quem nunca ficou uma hora brincando com uma criança e, quando se levantou, ouviu um “mas você nem brincou comigo!”. Pois é, isso acontece porque ela não percebe o tempo. É sempre eficiente dizer o que vai acontecer no momento e, depois de acontecer, narrar a próxima atividade. Por exemplo: “Meu amor, agora o papai está livre para brincar e, assim que a mamãe chegar, ela fica com você para eu tomar banho. Então, do que você quer brincar?”. E ao término da brincadeira: “Agora que a mamãe chegou, vou tomar meu banho. Pergunte para ela o que vocês vão fazer”. Concorda que dessa forma é muito mais fácil para a criança acompanhar o que está acontecendo, em vez de o pai só dizer: “Sua mãe chegou”, levantar para tomar banho e depois se irritar porque o filho o seguiu?

Crianças se comportam da forma que são direcionadas e, quando falta conexão com o adulto, fica difícil para ela compreender processos e estar disposta a colaborar, pois seu foco será em ter a atenção que julga não ter. “Mas, Camila, eu passo tempo de qualidade com meu filho, no entanto ele está sempre achando uma forma de chamar atenção. Tudo é tão difícil com ele”. Para a criança, atenção – boa ou ruim – ainda é atenção. Se ela sempre se comporta de forma desafiadora, enquanto não se entender a real causa, fica difícil direcioná-la e também compreender quais são suas reais necessidades, já que, aos poucos, algo simples escala e vai se tornando uma bola de neve de pequenos problemas para serem resolvidos.

Por isso, é tão importante que a conexão seja construída ainda na primeira infância, para que assim, quando a criança for adolescente, passando por mudanças e enfrentando pressões, sinta-se amparada e confortável para procurar os pais. Nessa fase, é comum que o jovem se afaste e busque mais independência – o que, na verdade, é cobrado dele o tempo todo, não é mesmo? O que as pessoas esquecem de levar em consideração é que esse adolescente se perde em quem quer ser exatamente por achar que deve atender a expectativas e ser mais do que consegue, uma vez que sua posição é de não ser mais uma criança que depende do adulto para tudo, mas ainda não ser um adulto que pode responder inteiramente por si. Difícil, não?

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Conversar com os filhos sobre seus interesses, ouvir suas preocupações e estar presente em momentos difíceis pode ajudar a fortalecer essa conexão e a construir um relacionamento de confiança. Portanto, esteja disponível, crie rituais em que a criança, desde pequena, sinta-se parte do meio e entenda que ela pode contar com você, independente do que aconteça.

+ Quer fazer perguntas e/ou sugestões para a coluna? Envie um e-mail para bebe@abril.com.br.

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