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Cansada, mãe?

Lia Abbud é jornalista e uma das criadoras do @Fatigatis, um projeto de conteúdo sobre estresse materno que propõe estratégias em direção ao bem-estar físico e mental feminino.
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E quando não conseguimos deixar a peteca cair?

Há momentos em que podemos (e devemos!) abrir mão do controle e delegar, mas em outros não dá e não devemos nos sentir culpadas por isso.

Por Lia Abbud
9 abr 2022, 14h00

É nas vivências cotidianas que a carga mental materna e o desequilíbrio no trabalho do cuidado ficam mais evidentes. Por isso resolvi trazer para cá um “causo” de uma amiga que gerou reflexão. Sua filha pequena teve um febrão que chegou a 39,3 graus. Ela, então, achou importante acompanhar a temperatura a madrugada toda, utilizando o termômetro de mercúrio, que, na opinião dela, é mais preciso que o digital. Para ela, ter essa precisão era importante para poder tomar as decisões corretas sobre medicação. 

A questão é que, ao insistir no modelo de mercúrio, ela acabou se tornando a única responsável pela atividade noturna, já que seu marido não sabe fazer a leitura nesse tipo de termômetro. Ele até se prontificou a revezar com ela, mas medindo com o digital. E aí ela se viu em um dilema: deixar a peteca cair e dividir com o marido a tarefa (mas usando o termômetro digital, no qual confia menos)? Ou manter a crença/responsabilidade e varar a madrugada?

Ela acabou não abrindo mão do termômetro analógico e, portanto, seguiu sozinha medindo a febre da criança madrugada adentro. Quando ela comentou essa história comigo e com a Juliana, colunista aqui no Bebê e minha sócia no Fatigatis, algo nos sensibilizou muito: ela julgou-se controladora por não ter descentralizado a tarefa. Como somos duras com nós mesmas, não?

A importância de saber distinguir 

Falamos sempre da importância de deixar a peteca cair, que é aquele momento que temos de delegar, deixar o controle e aceitar que as pessoas fazem as tarefas de forma diferente que a gente. Isso é importante para diminuir a sobrecarga

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Mas entendemos que há situações em que isso flui facilmente, em outras, não. Por exemplo, não há o que se discutir quando o outro assume a lavagem da louça da casa, mas faz de um modo diferente do nosso. Ou quando alguém coloca uma roupa que não combina na criança ou inventa um penteado, digamos, peculiar! São coisas de pouco impacto e que podemos/devemos deixar pra lá

O caso em questão era diferente (febre alta em criança de dois anos num contexto de pandemia do coronavírus + surto de influenza) e, por isso, continha uma tensão extra. Portanto, amiga, nada de achar que foi controladora, ok? Obviamente, cada decisão familiar é particular e não cabe a ninguém julgar.

A história dessa amiga mostra que cada peteca é uma e que, às vezes, ela não pode cair. Cada um sabe em que áreas e em que momentos consegue abrir mão. Dividir as tarefas tem a ver também com respeitar o jeito, os valores e as angústias de cada um e tentar dar outros tipos de suporte quando não puder atuar. E isso só é possível com muito diálogo, transparência e proatividade entre os casais. Não é nada fácil, mas vale tentar!

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