É difícil, mas precisamos assumir que não damos conta de tudo
Este é um convite para você, mãe, repensar por que ficamos cheias de dedos ao admitirmos que a rotina está pesada demais.
Você já deve ter ouvido um zilhão de vezes a pergunta: “Como você dá conta de tudo?”. Sua mãe, seu irmão, uma amiga ou os colegas de trabalho podem ter tido esta curiosidade ao vê-la correndo para cumprir uma lista enorme de afazeres.
Talvez você sorria feliz e reaja ao comentário como um elogio a sua dedicação, ou levante a sobrancelha como quem diz “hmmm, não é bem assim”. Outro caminho possível é compartilhar algumas de suas técnicas de organização para que tudo flua melhor. Ou, então, você simplesmente pode engasgar tentando elaborar alguma resposta convincente.
O fato é que sabemos que o “buraco é mais embaixo”. Carga mental, inseguranças com o momento que vivemos, crises, exaustão e diversas outras questões tornam impossível atingirmos a irreal meta de liquidar a fatura de compromissos e responsabilidades diárias. Mas seguimos nesta gincana estafante em que o prêmio máximo é receber o certificado de quem dá conta de tudo.
A mãe perfeita é aquela que resolve tudo… Será?
Só que se já sabemos que é impossível, por que seguimos perseguindo esse objetivo e, pior, transparecendo para os outros que somos a rainha do checklist vencido? Porque queremos atender à pressão social imposta a todas as mulheres. Historicamente nosso valor é atrelado à nossa eficiência como cuidadoras (de pessoas, de lares, de coisas) e, muitas vezes sem refletir, perseguimos esse lugar inatingível.
Além disso, caímos no conto do vigário da mulher multitarefa. Não há nada biologicamente que comprove que as mulheres conseguem fazer várias coisas ao mesmo tempo. Toda essa construção nos colocou nesta idealização de ter que dar conta de tudo ou, pior, de fingir que damos conta de tudo.
Outro dia ouvi, no podcast da revista Gama, uma entrevista com a psicanalista Anna Suy e ela disse uma frase bastante certeira: “tem sempre um pratinho que quer cair e acho que o dilema contemporâneo é: como a gente faz para escolher o pratinho que vai cair?”
Então, além de pensar em qual pratinho você vai deixar cair esse ano, queremos fazer uma proposta. Quando alguém te perguntar como você faz para dar conta de tudo, responda com verdade e objetividade: “eu não dou conta de tudo”.
Vamos normalizar o “não dar conta”. Ninguém está dando conta. Não é preciso, não é sustentável. Precisamos deixar de responder no automático e de ficar cheia de dedos ao assumir que está pesado demais. Quem vem com a gente neste movimento por menos cobrança, menos carga mental, menos perfeição?