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Maternar, trabalhar, respirar

Publicitária, diretora executiva na Maternativa, Vivian Abukater é mãe de dois meninos que ensinaram que a maternidade é a melhor escola de negócios que existe e que conciliar o cuidados dos filhos com o trabalho não é só papel das mães.
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Me recuso a aceitar que minhas intenções e desejos não são prioridade

Nós precisamos parar para lamber um pouco nossas feridas, olhar para nossos limites e trabalhar para estabelecer algo novo.

Por Vivian Abukater
2 fev 2021, 17h22
 (misspin/Getty Images)
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Então janeiro passou tão rápido quanto um fim de semana. A esperança que abracei em 2020 desejando um 2021 mais leve se dissolveu entre os problemas do Brasil pandêmico e a realidade do meu próprio cotidiano de mãe.

Conversando com muitas mães amigas percebi que, assim como para mim, as dificuldades enfrentadas no ano passado tiraram a vontade de estabelecer metas para esse ano. E a falta de respostas também só agrava: quando a pandemia vai acabar (ou ao menos ficar de fato controlada)? Quando a vacinação vai engrenar e ganhar escala? Quando as aulas voltam? Já são mais de 10 meses com crianças em casa!

A falta de controle da pandemia, que por sua vez tornou a sobrecarga vivida por 100% das mães do Brasil, tirou da grande maioria de nós a esperança de olhar para frente esperando normalidade. Quantas de nós tivemos coragem de pegar aquele velho caderno e escrever as metas de ano novo? Eu não tive!

Mas a vida é isso aí, ela acontece quando a gente tem ou não tem metas. Se desenrola sem respeitar planos, nos mostrando que temos pouco ou nenhum controle sobre grande parte dos aspectos que impactam nossa vida e nosso dia a dia.

É, mas mesmo sabendo disso tudo, depois da virada do ano fiquei com um sentimento me incomodando: se eu não tiver metas, se não tiver clareza do que vou buscar, será que chego em algum lugar? Não ter metas e planos, não ter ao menos escrito minhas intenções para o ano novo me deixou com um sentimento de ter jogado a toalha, sabe? Com uma música tocando ao fundo da cabeça Me recuso a aceitar que minhas intenções e desejos não são prioridade Deixa a vida me levar, vida leva eu…”

Então resolvi estabelecer uma lista de intenções, considerando aspectos da minha vida e coloquei metas em pontos específicos, que de fato estão ao meu alcance.

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Mas o que é uma lista de intenções?

Intenções são expressões do desejo. Algo que você busca conseguir, algo para onde você quer direcionar sua atenção. Como boa pisciana, olho para tudo isso com um olhar místico e com o coração. No entanto, você pode pensar nisso de forma bem pratica, se quiser.

Como ponto de partida pense no seguinte: tudo que não se muda, se escolhe. Leia novamente porque essa frase é forte e faz a gente pensar que temos responsabilidade sobre as coisas.

Para pensar sobre escrever suas intenções, minha sugestão é começar por aquilo que, de fato, você pode e quer mudar. Agora fique atenta, porque mesmo quanto temos vontade de mudar muita coisa, precisamos refletir sobre quanto tempo e energia temos disponível.

Com isso em mente saiba que, para um ano como esse que estamos vivendo, uma lista gigantesca de intenções não tem o menor espaço. Uma lista pequena, bem pensada e bem escrita que irá refletir onde você vai concentrar suas energias e agir é o melhor que você pode fazer.

Primeiro, faça uma lista com 5 intenções reais, onde você seja a prioridade delas. Pense, pense muito sobre o seu tempo, sobre suas vontades e desejos e não caia na armadilha da culpa materna. Se na sua lista não aparecer “cuidar mais dos meus filhos”, não se sinta egoísta. Esse ano coloque VOCÊ como foco. As intenções são suas, então escrever sobre planos que dependem dos outros – ou de fatores externos – é como não ter intenção alguma.

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Papel e caneta na mão, buscando silêncio e concentração, é hora de escrever. Recomendo não usar o celular ou o computador, prefira o papel para fazer isso. Tem uma energia diferente nas intenções escritas a mão. A escrita é um produto seu, não padronizado e não tecnológico. Sua letra é sua marca única.

Sério? Está tudo um caos e você vai ficar nesse papo de metas?

É, eu sei, senti isso também. Aí lembrei que é só um dos meus sabotadores tentando me convencer que só posso ser prioridade quando tudo estiver resolvido. Depois me recordei também que escrevi, no final do ano passado, sobre como nós mulheres salvamos o mundo mais uma vez. Mandei meu sabotadores passearem e ignorei meu medo de ser chamada de supérflua por não falar das dores.

Estamos todas cansadas, esgotadas, sobrecarregadas. A sociedade patriarcal está aí para nos lembrar diariamente que, para além do discurso, crianças e mulheres não são prioridade NUNCA! Sabe quando o navio está afundando e eles dizem “mulheres e crianças na frente?”. Isso é ficção cinematográfica. Na vida real, por muito tempo e ainda hoje, estamos sempre em último lugar.

Eu me recuso a aceitar que meus desejos não são prioridade, me recuso a declarar morte às minhas intenções para comigo mesma pelo segundo ano consecutivo, e eu convido você a fazer o mesmo.

Nós precisamos parar pra lamber um pouco nossas feridas, olhar para nossos limites – ou para aquilo que nos limita – e trabalhar para estabelecer algo novo. Nós precisamos mudar! Quando não nos damos o direito de parar pra pensar em nós é como se, de alguma forma, aceitássemos que a nossa essência seja apagada.

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Apenas encontre um tempo, com um papel e uma caneta na mão, encontre o silêncio para escutar seu coração e escreva. Você pode começar por “Em 2021 eu vou…”. Sugiro que a lista seja curta, objetiva, focada em você e que vai traduzir para onde suas energias serão destinadas ao longo do ano.

Eu planejo, tu planejas… E juntas seguimos vivas!

Planejar é considerada uma atividade difícil pra muitas de nós e parece ser mais difícil ainda planejar em meio a mudanças. A situação que fez nossas rotinas mudarem tanto no ano passado ainda seguem ativas e mais fortes do que nunca em 2021. Será é que possível continuar a desenvolver planos nesse cenário? 

O ser humano nasce com uma imensa capacidade de planejamento. Mesmo quem acha que segue somente o coração, sabe que a cabeça está tentando prever o que vai acontecer em seguida. Isso não significa que não devemos viver o presente, mas que olhar para o futuro nos faz querer melhorar. E aí, sem perceber, estamos planejando.

O que quero dizer com isso é que você ter ou não ter intenções (ou metas escritas de forma clara) não impede sua cabeça de continuar planejando.

Para as mães o planejamento acontece praticamente no automático. A gente acorda já pensando em tudo que vai acontecer, o horário que vamos levantar, a comida que vamos preparar, os afazeres da casa que temos que cumprir, o cuidados com os filhos que o dia requer e, paralelo a todo esse planejamento de cuidado, temos que pensar também no trabalho que paga as contas. Empreendedoras ou trabalhadoras, não importa, tem sempre uma lista gigante de atividades que precisam ser feitas.

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Há alguns anos passeando em uma livraria dei de cara com livro com um título que me chamou atenção: “Getting Things Done – A arte de fazer acontecer“. Nele, o autor David Allen apresenta e ensina seu método que promete ajudar a gerenciar todas as tarefas com mais eficiência.

Passei um tempo obcecada com ele, tentando colocar em prática, na expectativa de que ele me ajudaria a organizar a rotina absolutamente dividida e sobrecarregada de cuidar da casa, do meu primeiro filho, do meu trabalho e, com sorte, um pouco de mim. Levei tempo para entender que mais difícil do que compreender o método era conseguir adaptá-lo à minha realidade de mãe.

Se você gosta de livros de planejamento, organização de tempo e gestão acho que vale a pena. Mas se não é essa sua praia de leitura, dá uma lida nessas dicas que vou escrever abaixo. Zero pressão, certo?

Avalie como a soberana que você é, se vale a pena colocar em prática uma delas, algumas, todas elas ou mesmo nenhuma. E lembre-se que, todas nós, depois de um tempo sendo mães, nos tornamos PhD em “sevirologia”… A gente se vira! E essa é uma ciência incrível.

A lição mais importante que tirei desse livro foi a ideia de que, quando temos muita coisa na cabeça, acabamos ocupando um espaço importante de processamento do nosso cérebro, porque ficamos revisando tudo o que temos para fazer, utilizando nossa memória ao invés de direcionar esse espaço e energia para, de fato, fazer as coisas.

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E isso tem tudo a ver com a lista de intenções! Colocar no papel, escrever, é uma forma de visualizar, ter clareza e com isso auxiliar nosso direcionamento de energia e tempo. A mesma coisa serve para o planejamento da rotina.

Vamos tentar algo diferente?

Vou agora apresentar os principais pontos desse método do livro que comentei:

* Coletar – Tire da cabeça todas as ideias e lembranças de coisas que você tem para fazer e coloque tudo isso em um lugar mais confiável. Anote tudo em um papel, computador, celular. Veja bem, eu disse tudo… Tudo mesmo. Sabe aquela lista interminável de coisas como, “o que tenho que comprar no mercado”, “o que tenho que fazer do meu trabalho”, “aquele retorno no médico que você tem que agendar”? Anote ideias, obrigações, atividades, tarefas, projetos, objetivos, absolutamente tudo o que requer sua atenção.

O nome dessa lista é “Caixa de Entrada”! Legal, né? Igual de e-mail. Imagine que seu cérebro vai mandar para um e-mail toda a lista de coisas que ele fica processando o tempo todo para não esquecer e que te atrapalham na hora de dormir quando, do nada, vem a lembrança: “Putz! Esqueci de comprar café!”. Então, na caixa de entrada vai TUDO!

Imagine tudo isso saindo da sua cabeça, pense no espaço que você vai liberar, pense no alívio que isso vai te trazer. Olha a tranquilidade que será saber que se você não lembrar, tudo bem, está tudo anotado.

(Deixa eu avisar que leva tempo fazer uma lista dessa pela primeira vez, eu levei 3 horas. Depois desse primeiro esforço fica fácil, é só manter a lista sempre perto de você. Utilize um caderninho fácil de carregar ou anote no celular).

* Organizar – Lista pronta e, se você é como eu, vai ter milhões de assuntos e tipos de coisas misturadas, então será hora de organizar tudo isso. Separar, agrupar por categorias – atividades ou assuntos similares devem ficar juntos. Por exemplo, lista da vida pessoal separada da lista do trabalho. Mais ainda, vale criar sublistas como “Eu”, “Filhos”, “Casa”, “Trabalho”, “Viagem”, “Carnaval 2022″…

* Processar – Chegou a hora de decidir o que fazer. Cada item demanda de você fazer alguma coisa – ou não fazer nada.

Para os itens que não demandam ação, você vai:
1) Descartar (onde eu estava com a cabeça quando anotei isso?)
2) Criar uma outra lista chamada “algum dia/quem sabe/ talvez” com todas as anotações, ideias e projetos que você pretende realizar, mas não tem nenhum prazo determinado. Aqui entra tudo que você escreve e pensa “se Deus quiser vou…”.
3) Criar uma lista com aqueles itens que são referências que você quer guardar para consultar no futuro (um filme que você quer ver, um livro que quer ler etc..). Igual quando apertamos o botão de salvar uma matéria ou um post para ler depois.

Já para os itens que demandam uma ação clara:
1) A lista do 2 minutos: nela vão as tarefa levam menos de dois minutos para fazer, aquilo que a gente pode fazer agora e já tirar da frente. Lembra daquele seu retorno no médico ou de buscar o remédio na farmácia? Pois bem. Tudo que levar mais do que 2 minutos, entra na lista seguinte…
2) Colocar na agenda o dia e horário que você vai fazer aquilo.
3) Delegar a tarefa. Sim, pedir para outra pessoa fazer.
4) Classificar como projeto: uma tarefa longa demais ou que tem vários subatividades viram uma lista de projeto. Os projetos são coisas que você não consegue fazer de uma vez.

* Revisar – depois de tanto trabalho, cuidado para não se perder. Acompanhe a lista e faça uma revisão periódica. Mas veja o que funciona para você, se é dar uma olhada todos os dias logo pela manhã ou uma vez por semana, quem sabe.

Se manter a revisão em dia e o caderno de anotações sempre por perto você vai conseguir deixar tudo atualizado e organizado e não vai voltar a sobrecarregar sua cabeça de novo. O ideal é transformar o ato de acompanhar sua lista de atividades em uma tarefa fixa permanente, marcada e agendada.

* Agora – Coloque a mão na massa, siga seu plano, tente não adiar muitos compromissos, mas tenha flexibilidade. Não deu para fazer? Coloca uma nova data para essa ação e pronto. O importante é tentar, e se não rolar da primeira vez, tentar novamente

Precisamos parar e assumir nosso lugar

Organização é pratica e leva tempo, mas funciona.

 São 5 etapas, mas se só de ler você já ficou cansada comece com a lista de intenções do ano e já está ótimo. Só você sabe onde a coisa pega na sua rotina.

Lembre-se: esse é um convite para você, mesmo no meio desse caos de incertezas e mudanças, encontrar espaço para suas intenções com você mesma. Para que você encontre esperança em planejar e trazer um pouco mais de conforto pra essa rotina caótica que vivemos.

Não deixe que essa chama brilhante no seu coração, que te convida para olhar para o futuro, se apagar. Seja sua prioridade, porque ninguém mais fará isso além de você.

Para terminar, mesmo quando a vontade é deixar a vida nos levar, precisamos parar e assumir nosso lugar. Encontrar você mesma entre a sobrecarga materna, o caos da saúde, o luto, as mudanças e a falta de escola vai transformar seu 2021- e o resto da sua vida.

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