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Pesquisa identifica agrotóxicos em papinhas de bebê no Brasil

Estudo chama a atenção para a necessidade de uma regulamentação nacional que determine a concentração de pesticidas em alimentos infantis

Por Carla Leonardi
16 jan 2023, 15h05

Uma pesquisa desenvolvida por cientistas brasileiros e espanhóis rastreou a presença de agrotóxicos, entre herbicidas, inseticidas e fungicidas, e de aflatoxinas (substâncias tóxicas ao ser humano e potencialmente carcinogênicas) em papinhas de bebê comercializadas no estado de São Paulo. Após análise e triagem feitas na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), 10 agrotóxicos e um metabólito foram encontrados nas amostras esse último, o sulfóxido de aldicarbe, proibido no Brasil desde 2012 por apresentar alta toxicidade. Já as aflatoxinas não foram observadas.

Além da ausência dessas toxinas, a concentração dos agrotóxicos ficou abaixo dos limites estabelecidos pela legislação europeia – com exceção da cipermetrina, que excedeu um pouco – de 10 miligramas de substância por quilo de alimento. A questão é que, no Brasil, não existem leis que determinem a concentração máxima de agrotóxicos em alimentos infantis, o que torna o consumo desses produtos menos seguro do que poderia ser. Já a concentração do metabólito não foi medida, o que pode indicar apenas a presença de traços da substância – ainda assim, é um achado importante e sua origem deve ser investigada.

Entre os diferentes tipos de papinha, as de frutas apresentaram menos agrotóxicos do que as de carne e vegetais, como descreve Rafaela Prata, engenheira de alimentos que conduziu o estudo publicado pela Food Control: “Encontramos resíduos de pesticidas em 68% das amostras analisadas de alimentos infantis. No recorte por composição e sabor, 47% das papinhas com frutas apresentaram pelo menos um resíduo de agrotóxico, índice que foi de 85% para as comidas de bebês à base de carne e vegetais“.

Bebê comendo papinha
(Thinkstock/Getty Images)

Falta regulamentação no Brasil

Para Rafaela, é essencial que haja uma regulamentação específica brasileira para produtos destinados aos pequenos. “Os bebês são um grupo populacional sensível e vulnerável, porque ingerem mais alimentos por quilograma de peso corporal do que os adultos e seus sistemas de desintoxicação e vias metabólicas não estão totalmente desenvolvidos. É importante conhecer a composição dos alimentos oferecidos a eles”, disse a pesquisadora à Agência FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), que apoiou a pesquisa.

Segundo o espanhol Roberto Romero-González, supervisor do projeto de pesquisa na Universidade de Almeria, na Espanha, o melhor seria que os agrotóxicos não estivessem presentes em quantidade alguma em papinhas de bebê. “Ainda que estejam dentro dos limites preconizados pela legislação europeia, o ideal é que essas substâncias não sejam encontradas em alimentos infantis”, ressaltou à FAPESP.

Ainda de acordo com os estudiosos, embora pesquisas sobre a presença de pesticidas em papinhas estejam mais frequentes em países europeus, no Brasil ela ainda é pouco estudada. Os dados encontrados pelo projeto, porém, revelam a importância de um olhar cada vez mais minucioso para a questão.

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