Será que meu filho só vai ser vacinado contra o coronavírus em 2022?

A resposta é: talvez. Em meio a muita instabilidade sobre a vacinação contra a covid no Brasil, veja a o que sabemos sobre a imunização infantil por ora.

Por Ketlyn Araujo
Atualizado em 22 jan 2021, 14h48 - Publicado em 21 jan 2021, 18h07
 (Olga Dubrovina/Getty Images)
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Demorou, mas a vacinação contra a covid-19 finalmente teve início em território brasileiro, no último domingo (17), quando a enfermeira Monica Calazans, de 54 anos, recebeu a primeira dose da CoronaVac no Hospital das Clínicas, em São Paulo (SP). O evento aconteceu logo depois que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou o uso emergencial da vacina produzida na China em parceria com o Instituto Butantan, além da utilização também emergencial do imunizante da AstraZeneca, parceria entre a Fiocruz e a Universidade de Oxford.

A semana seguiu com mais estados brasileiros inaugurando a vacinação nesta primeira etapa, mesmo em meio a uma série de informações desencontradas entre governos estaduais e federal, representado pelo Ministério da Saúde. Apesar do imunizante agora ser uma realidade no Brasil, ainda há muitas dúvidas quanto detalhes do chamado Plano Nacional de Imunização (PNI) em relação à vacina contra a covid, número de doses disponíveis e logística para que todos – ou pelo menos a maioria dos brasileiros – sejam vacinados.

As questões giram em torno, principalmente, do calendário de imunização de cada grupo, prioritário ou não. Como já era de se esperar, a população a favor da ciência não vê a hora de saber qual é seu lugar na extensa fila do imunizante.

Com a reabertura das escolas prevista para ter início entre os meses de fevereiro e março aqui no Brasil, pais e mães ainda procuram entender se bebês e crianças irão ou não receber a vacina do coronavírus – seja ela a CoronaVac, a de Oxford ou outra opção – ainda em 2021.

O que dizem os especialistas

Apesar das incertezas, assim como informamos em novembro passado, para o Dr. Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), definitivamente neste primeiro momento (que pode durar alguns meses) crianças não serão vacinadas contra a covid-19, até porque no Brasil ainda não existem estudos clínicos conclusivos que contemplem a população infantil:

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“As crianças não correspondem a uma população mais vulnerável de desenvolver formas graves da covid-19, então não há nenhuma perspectiva de vaciná-las. Dos casos de hospitalizações, perto de 1% são em crianças, e menos de 0,3% das mortes por covid acontecem nesta faixa. Portanto, não há nem estudos e nem interesse em vaciná-las neste momento”, explica o médico.

Quanto a uma inserção das crianças e adolescentes no plano de imunização, portanto, o melhor a fazer é aguardar. Renato explica que, por ora, estamos em um cenário de muito “talvez” e poucas confirmações: “Em 2022, talvez [vacinemos as crianças]. Talvez nunca, talvez a doença desapareça, vire algo endêmico como a gripe comum, por exemplo, e a gente passe apenas a vacinar os grupos mais vulneráveis. Com a covid isso pode acontecer, mas vamos aguardar”, continua.

Ele destaca, ainda, o comportamento de países europeus que iniciaram a vacinação antes do Brasil, mas não incluíram crianças e adolescentes em seus calendários, mantendo a posição de reabertura das escolas.

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“A decisão da maioria dos países, agora que já ‘aprendemos’ bastante com o vírus, de manter as escolas abertas é pelo fato de crianças serem menos afetadas pela doença, transmitirem menos, terem menos sintomas e participarem de maneira muito marginal na cadeia de transmissão. A Europa toda tem retroagido nas medidas de flexibilização, voltando a fazer lockdown, e as únicas localidades que em muitos países continuam abertas e funcionando são as escolas. Então, realmente, a carga da doença na criança é muito pequena e isso não justifica nem a vacinação e nem o desenvolvimento de estudos nessa faixa pediátrica das vacinas”, finaliza.

O que dizem os governos

E, resposta ao Bebê.com.br, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo reforçou que os estudos clínicos que envolvem crianças e bebês ainda não existem no Brasil, e que a vacinação no Estado deve seguir o Plano Nacional de Imunização, ainda sem cronograma oficial.

Segundo já noticiado pelos jornais, há no momento uma pressão por parte do Supremo Tribunal Federal (STF) para que o Ministério da Saúde apresente logo o cronograma de vacinação, já que os governos dos estados devem seguir essas recomendações. Não existe, portanto, um calendário oficial, nem em SP e nem nos demais estados, e além de tudo há uma preocupação sobre a quantidade de doses do imunizante disponíveis para uso no Brasil.

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Até agora, o chamado Plano Nacional de Operacionalização da Vacina contra a covid-19 envolve três fases previstas para durarem cerca de quatro meses:

  • Fase 1: trabalhadores de saúde, pessoas de 75 anos ou mais, pessoas de 60 anos ou mais institucionalizadas, população indígena aldeada em terras demarcadas, povos e comunidades tradicionais ribeirinhas e pessoas maiores de 18 anos com deficiência em residências inclusivas;
  • Fase 2: idosos de 60 a 74 anos
  • Fase 3: pessoas com comorbidades, como diabetes mellitus, hipertensão arterial grave, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença renal, doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, além de indivíduos transplantados de órgão sólido, portadores de anemia falciforme, câncer e obesidade grave.

O que virá depois disso, incluindo a imunização das crianças e dos adolescentes, permanece incerto. As últimas informações divulgadas pelo Instituto Butantan, também procurado pela redação, seguem o que foi comunicado também em novembro de 2020. No momento, o órgão não possui novidades quanto à vacinação de crianças e adolescentes, e os testes clínicos da vacina nessas faixas etárias só foram feitos no exterior. Ainda de acordo com o Butantan, são as secretarias de saúde de cada estado brasileiro que irão informar qual o público-alvo de imunização em cada fase.

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