Mioma uterino: sintomas, tratamento e outras informações importantes
Muitas mulheres se assustam com a descoberta de miomas no útero, mas, de maneira geral, eles são relativamente comuns na idade reprodutiva
Fazer exames ginecológicos de rotina e descobrir, após um ultrassom, por exemplo, a existência de um mioma uterino (ou mais de um) pode ser um grande susto. Se você chegou até este texto pesquisando mais informações sobre o assunto, justamente pela preocupação, respire e se tranquilize.
Provavelmente seu médico vai explicar com detalhes a situação, de maneira individual. Porém, para ajudar você a entender melhor o que são os miomas uterinos, por que aparecem e de que modo impactam na saúde, conversamos com a ginecologista e obstetra Luana Ariadne Gomes, do Hospital Edmundo Vasconcelos (SP), que explicou alguns dos pontos principais.
Miomas são tumores, mas…
Para início de conversa, é importante entender que, sim, miomas uterinos são tumores, já que se formam a partir do crescimento descontrolado de células musculares. No entanto, são nódulos benignos, constituídos de músculo liso, localizados no útero.
“A leiomiomatose [nome que os médicos utilizam para falar dessa formação de miomas] é considerado o tipo de tumor benigno mais frequente dos órgãos genitais femininos na idade reprodutiva”, afirma a especialista. A causa, por enquanto, não foi identificada, mas o que se sabe é que esse crescimento depende de fatores hormonais. Por isso, é comum que os miomas diminuam de tamanho quando a mulher entra na menopausa.
A taxa real de ocorrência é desconhecida, porque há um grande número de pessoas que não apresentam sintomas e acabam não descobrindo que os miomas se formaram. Porém, a estimativa, de acordo com a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, é de que cerca de 80% das mulheres em idade fértil tenham miomas.
Tipos de mioma
A classificação dos miomas muda segundo a localização. Eles podem ser:
- Miomas submucosos: quando estão dentro da cavidade uterina
- Miomas intramurais: quando estão na parede uterina
- Miomas subserosos: quando estão na superfície do útero
E como identificar tudo isso? “Normalmente, fazemos o diagnóstico por meio de exames de imagem, como ultrassonografia, ressonância magnética ou histeroscopia”, diz Luana.
Fatores de risco
Embora sejam comuns em mulheres como um todo, uma maior incidência foi identificada em alguns subgrupos populacionais. A médica explica que os miomas acometem sobretudo a faixa etária de 30 a 40 anos, e chega a ser cerca de nove vezes mais frequente em pessoas negras.
“Alguns fatores de risco para o desenvolvimento dos miomas incluem idade, já que eles são mais frequentes em mulheres em idade reprodutiva, histórico familiar, raça e obesidade”, aponta. “Como os miomas são dependentes de hormônios e a obesidade leva a um aumento do estrogênio [hormônio sexual feminino] em circulação, a doença favorece a formação dos tumores”, acrescenta.
Sintomas de mioma uterino
Muitas vezes, quem tem mioma não vai saber de nada até descobrir em um exame, já que a condição pode ser assintomática. Nos casos em que há sintomas, eles estão relacionados com a localização, o número e o tamanho dos tumores, segundo a ginecologista.
“Quando falamos dos miomas subserosos, a sensação de peso e desconforto abdominal é predominante. Eles podem causar dor aguda devido à torção dos pedículos [que são como pequenos cordões que ligam os miomas ao útero]. No entanto, normalmente, a dor e o desconforto vêm da compressão de órgãos próximos, conta.
“Os tumores intramurais estão associados a ciclos hipermenorrágicos [quando a menstruação é intensa em volume e/ou tem um período de duração muito longo], com eliminação de coágulos e cólicas. Já os miomas submucosos têm como quadro clínico principal o sangramento uterino, além dos ciclos hipermenorrágicos”, detalha. Em qualquer localização, é possível que provoquem desconforto na bexiga e no intestino, quando comprimem esses órgãos.
Mioma x fertilidade
A presença de miomas pode, em alguns casos, estar associada à infertilidade. “Vários mecanismos pelos quais esses tumores podem causar redução da fertilidade têm sido sugeridos na literatura, como: alteração do contorno endometrial [o tecido que reveste o útero internamente], o que pode interferir na implantação do óvulo fecundado; aumento e deformação da cavidade uterina, que podem impactar no transporte e no acesso dos espermatozoides aos óvulos; alteração das contrações uterinas, prejudicando a movimentação normal do esperma; e persistência de sangue ou coágulos dentro do útero, o que também pode dificultar a implantação”, explica Luana.
Nesses casos, é sempre importante conversar com o médico para entender quais são os tratamentos mais indicados.
Tratamento para mioma uterino: precisa de cirurgia?
Nem todas as ocorrências de mioma requerem tratamento. Tudo vai depender da existência e da intensidade de sintomas, além da taxa de crescimento dos tumores.
A médica lembra que é preciso discutir a importância de manter a capacidade reprodutiva, o desejo de conservação do útero e os incômodos eventualmente gerados pelos nódulos. “A decisão sempre deve ser tomada após longa discussão e reflexão sobre os sintomas e sentimentos da mulher, o aspecto anatômico do útero e a relação dos miomas com a parede uterina”, diz.
O tratamento pode ser radical (definitivo) ou conservador. Dentro da primeira opção, o mais comum é fazer a histerectomia, que é a cirurgia da retirada do útero. Se a alternativa for pela terapia conservadora, é possível usar medicamentos que melhoram os sintomas ou diminuem temporariamente o volume dos miomas. Outra conduta conservadora seria a cirurgia para a retirada dos miomas, a miomectomia, e não do útero inteiro.
Há ainda a possibilidade de fazer a embolização das artérias uterinas, que bloqueia o fluxo sanguíneo para os miomas, reduzindo o tamanho e impedindo o crescimento deles. “A escolha deve ser feita depois de uma avaliação minuciosa do caso e das queixas da mulher, levando sempre em conta os seus desejos. Hoje, buscamos oferecer tratamentos que tenham menos impacto na recuperação. Tudo isso precisa ser levado em consideração”, destaca a médica.