Devo mandar meus filhos para a escola em tempos de coronavírus?
Especialistas dizem que não é preciso deixar de frequentar as aulas ou usar máscaras se o filho não estiver doente. Veja recomendações atuais de prevenção.
O Brasil ultrapassou os 80 casos confirmados de Covid-19, a doença provocada pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2). A expectativa é que esse número aumente exponencialmente nos próximos dias, o que levanta dúvidas nos pais quanto à proteção do filho na escola.
Alguns colégios chegaram a recomendar quarentena voluntária para alunos que voltaram de locais afetados pela Covid-19 e até suspenderam aulas depois de casos positivos em adolescentes. Mas a recomendação do Ministério da Saúde é de que as aulas sigam normalmente.
“Vale o mesmo raciocínio de todas as outras doenças infectocontagiosas: não deve ir à escola quem está doente, mesmo que os sintomas sejam leves”, aponta Marcio Moreira, infectopediatra da Sociedade Israelita Brasileira Albert Einstein. Ou seja, se a criança está com nariz escorrendo ou tosse, o ideal é que já fique em casa.
Agora, para quem não apresenta nenhum sintoma, vida normal. “É uma preocupação compreensível dos pais, mas as chances das crianças ficarem doentes com este vírus é muito pequena”, comenta Marcelo Otsuka, vice presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).
Até agora, a Covid-19 tem poupado crianças e adolescentes – nenhuma morte foi registrada abaixo dos 19 anos e há poucos registros de internação.
E se um caso de coronavírus for confirmado na escola?
O confirmado deve ficar em casa de quarentena por 14 dias, mas quem teve contato com ele deve apenas ficar atento aos primeiros sinais da infecção, que podem surgir em até duas semanas depois do contato.
Vale dizer que, embora não fiquem doentes, é provável que as crianças transmitam o novo coronavírus mesmo sem sintomas. Por isso, se o caso confirmado for em alguém próximo dos filhos, considere evitar contatos físicos com familiares no grupo de risco do coronavírus – acima dos 40 anos ou com doenças crônicas de base – durante o período de incubação do vírus.
E não adianta fazer o teste para saber se porta o Sars-CoV-2 antes dos sintomas. “Ele é pouco efetivo quando não se está doente, porque o vírus pode estar ainda indetectável e aparecer dias depois, gerando um falso negativo”, comenta Celso Granato, infectologista do Fleury Medicina e Saúde.
De resto, a escola deve reforçar medidas de higiene para prevenir a disseminação do vírus e rever a conduta caso aconteçam mais casos depois deste primeiro. Mas surtos escolares ainda não ocorreram em nenhum país.
Governos de 49 países já anunciaram o fechamento de instituições educacionais – sejam elas universidades ou colégios – como uma tentativa de conter a disseminação da doença.
A Organização Mundial de Saúde diz que medidas como suspensão de aulas e fechamento de escolas só devem ser tomadas mediante um risco de transmissão classificado como alto. “Se tivermos uma epidemia que pega jovens e é muito grave aí sim fecharemos escolas, mas neste momento isso traz mais prejuízos do que tem algum valor para conter o vírus”, comenta Nancy Belley, infectologista da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
O Ministro da Educação, Adam Weintraub, pediu na quarta-feira (11) para as escolas se preparem para medidas emergenciais futuras, como as aulas remotas, se necessário. Mas o Ministro da Saúde, Henrique Mandetta, declarou em audiência na Câmara dos Deputados que vê um perigo em potencial nesta medida, pelo fato das crianças ficarem em casa e mais próximas dos avós, grupo de risco da Covid-19.
Devo colocar máscaras nas crianças?
Só se ela estiver doente e precisar circular em locais públicos – lembrando que, neste caso, ela não deve ir para a escola. A máscara ajuda a impedir que as gotículas respiratórias de boca e nariz do doente, que carregam o coronavírus e outros agentes, caiam em superfícies ou em outras crianças.
Agora, para as saudáveis a máscara não ajuda, e pode até piorar a transmissão, pois a pessoa acaba tendo que levar a mão ao rosto toda hora para tirar a máscara e ela retém umidade com o passar do tempo, o que exige que sejam trocadas constantemente.
Como proteger as crianças do coronavírus na escola
O ideal neste momento é que as escolas reforcem as medidas básicas de transmissão que valem para as outras doenças respiratórias. É uma ótima oportunidade para fazer isso, aliás, pois estamos no início da temporada de gripe, uma doença mais prevalente e perigosa para as crianças do que a Covid-19 parece ser por enquanto.
Ou seja, o colégio deve promover a lavagem de mão constante dos alunos com água e sabão, disponibilizar álcool em gel e estabelecer regras de higiene. “A escola também precisa ficar mais atenta a higienizar brinquedos, pratos, copos, e orientar seus funcionários a lavar as mãos antes e depois de tocar em uma criança”, ensina Otsuka. Quem apresenta sintomas de resfriado, mesmo leve, deve ser orientado a voltar para casa.
Para crianças pequenas, é praticamente impossível ensinar a etiqueta da tosse (colocar os cotovelos e não as mãos para espirrar ou tossir) e a não levar objetos e as mãos à boca. Mas esses hábitos devem ser transmitidos conforme ela for crescendo.
Não há motivo para pânico, reforçam especialistas
“Em termos pediátricos, estamos bastante tranquilos”, esclarece Moreira. Até agora são duas as possibilidades de caso suspeito de Covid-19. Primeiro, pessoas que retornaram de países afetados e desenvolveram com febre e um sintoma respiratório em até 14 dias. Além deles, quem teve contato com um caso suspeito ou confirmado e manifestou os mesmos sintomas deve ser investigado.
O contato visto como perigoso é: ter contato físico, com secreções ou ficar frente a frente por mais de 15 minutos com a pessoa doente, estar em uma sala fechada por mais de 15 minutos a uma distância de menos de 2 metros do indivíduo ou sentar em uma aeronave em até dois assentos de distância de um caso confirmado.
“Ou seja, podemos dizer que mais de 99% da população não está em risco agora”, destaca Moreira. Como isto caminha muito rápido, é acompanhar os próximos dias para saber o que vai acontecer e se algo mudará nas recomendações. Mas sem pânico, já que a grande maioria dos casos da Covid-19 é brando, especialmente nos pequenos.