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Com os idosos vacinados, meu filho já pode voltar a ver os avós?

O início da imunização deve ser comemorado, mas sem flexibilizar o contato. Entenda por que não dá para confiar só em uma dose da vacina contra a covid-19.

Por Flávia Antunes
Atualizado em 22 jan 2021, 17h27 - Publicado em 22 jan 2021, 11h48

Ficar distante dos coleguinhas e professores durante tanto tempo exigiu paciência e muito jogo de cintura por parte das crianças. Mas talvez quem tenha mais sentido esses meses longe dos pequenos – sem brincadeiras, historinhas e muito colo para dar – tenham sido os avós.

Por serem considerados grupo de risco para o novo coronavírus, os idosos tiveram que redobrar as medidas de proteção e os encontros com os netos ficaram restritos a videochamadas, passadinhas de carro na porta de casa sem descer e eventuais conversas com distanciamento e máscara no rosto.

Com a saudade tão apertada e diante do cenário da pandemia no país, impossível não comemorar o anúncio do início da vacinação, que começou em alguns estados já na segunda-feira (18). E claro que surge aquele pensamento regado de esperança: será que agora, quando as pessoas prioritárias forem imunizadas, já será possível visitar os avós em segurança?

Como concordam os especialistas, a resposta infelizmente continua sendo não. “Não há segurança para encontros de nenhuma faixa etária, muito menos dos idosos“, alerta a diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Flávia Bravo.

Não dá para confiar em uma única dose!

Os resultados que temos em relação à eficácia da primeira aplicação da vacina são estatisticamente fracos. “O número de pessoas ainda é pequeno para podermos afirmar se uma dose já dá proteção ou não. Quando falamos em 50,4% de eficácia com uma dose, por exemplo, significa que ela funcionou para essa parcela, mas para os outros 49,6% não, e você não sabe em qual categoria está seu avô ou avó”, esclarece Flávia, que ressalta a importância de se entender, justamente, a diferença entre eficácia e efetividade da vacina. “Eficácia diz respeito a capacidade de proteger os indivíduos vacinados, enquanto efetividade é a magnitude com que uma vacinação impacta em termos de ocorrência da doença nesta população”.

Sem contar que, apesar da última fase da testagem de uma vacina obter dados importantes – como a dose de antígenos necessária para combater o vírus e o intervalo de tempo para uma boa resposta imunológica – a imensa maioria das pessoas incluídas nesses estudos receberam as duas doses do imunizante.

“Isso significa que as informações estatisticamente relevantes que temos são para pessoas que foram vacinadas com as duas doses, poucos receberam uma só. Além disso, não sabemos qual é o mínimo de anticorpos para estar protegido, como temos em outras doenças, como a hepatite”, detalha a doutora.

“As duas vacinas disponíveis no Brasil (CoronaVac e Oxford-AstraZeneca) precisam ser administradas em duas doses, e é necessário aguardar entre uma e duas semanas após a segunda dose para ser considerado imunizado”, constata Thais Bustamante, pediatra integrante da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) 

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Assim, só podemos contar com a efetividade da vacina apresentadas pelos pesquisadores ao término do esquema de imunização – e, mesmo assim, nenhuma delas chega a 100%, como lembra Flávia.

“Precisamos também de mais dados e informações de como estes imunizantes se comportarão na população idosa em geral, o que levará um certo tempo ainda”, complementa a pediatra. A conclusão de ambas as profissionais é a mesma: apenas quando vacinarmos grande parte da população poderemos relaxar em relação aos cuidados de transmissão para os mais suscetíveis.

As duas pessoas precisam estar vacinadas para o encontro ser seguro?

Outra dúvida frequente que pode surgir com a euforia da chegada da vacina é se basta uma das partes estar imunizada para que a visita seja segura. Na realidade, não é isso que acontece, como pontua Flávia.

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O ideal é os dois estarem vacinados, pois quem não recebeu as duas doses pode não estar protegido e contrair a doença, transmitindo para o parente”, diz. Para ilustrar, a diretora da SBIm usa o exemplo do plano de vacinação, que deve dar prioridade tanto aos idosos quanto aos seus cuidadores em asilos e instituições, pelo risco de contaminarem os mais velhos.

E quando falamos do contato com crianças, temos ainda um fator extra de preocupação: elas podem estar com a doença sem apresentarem sintomas. “Muitas estão convivendo com pais que estão circulando e trabalhando fora, sem falar que os menores são mais assintomáticos e podem estar com o novo coronavírus e transmitir para os avós”, ressalta Flávia.

Como os pequenos adoecem menos e na maioria com sinais leves, espera-se também que a vacinação infantil seja uma das últimas na fila de prioridade. Veja o que já se sabe sobre a imunização contra a covid em crianças.

“Testei negativo, posso visitar!”: não é bem assim…

Uma das estratégias adotadas por muitas famílias para que os encontros com os idosos acontecessem foi a testagem – com exames rápidos de farmácia, PCR ou sorologia, principalmente depois que chegaram às farmácias e rede particulares de saúde.

No entanto, cada um deles tem a sua fragilidade e não garantem 100% de segurança quando se trata da presença ou não da covid. “O teste de PCR não exclui a possibilidade de infecção, uma vez que ele possui de 60 a 70% de resultados falso negativos quando realizado tanto antes do aparecimento dos sintomas quanto nos primeiros 3 dias de sintomas”, ressalta Thais.

Já a sorologia é ainda mais difícil de confiar, pois há uma janela de tempo até que os anticorpos sejam detectados na amostra, como explicamos mais detalhadamente aqui.

E se mesmo assim a família optar pelo encontro presencial, a recomendação é não descuidar das medidas de sempre: uso de máscara (a não ser para os menores de dois anos), higiene das mãos e evitar levá-las ao rosto depois de sair de casa, manter certo distanciamento e preferir visitas curtas, que não envolvam compartilhar refeições, por exemplo.

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Como explicar para os filhos que é preciso paciência

Se para nós já é difícil colocar o sentimento um pouquinho de lado para pensar na segurança dos familiares, imagina para as crianças? Mas mesmo que elas não compreendam o andamento da pandemia da mesma forma que os adultos, o diálogo precisa acontecer.

“Dizer a verdade sempre é a melhor opção, conversando de forma simples e adequada para cada idade”, indica Thais. “O importante é não criar expectativas nos filhos antes do tempo, explicando que ainda é hora de se prevenir e de proteger, principalmente os vovôs e vovós”, acrescenta ela. Veja alguns jeitos lúdicos de explicar o coronavírus para os pequenos.

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