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“Mães de UTI” contam como é ter um filho prematuro extremo

No mês de atenção à prematuridade, confira a rotina de luta - e vitória! - que permeia desde cedo a vida dos bebês que nascem com menos de um quilo.

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 17 nov 2017, 08h30 - Publicado em 17 nov 2017, 08h30
Importância do Método Canguru para a queda de nascimentos prematuros
Importância do Método Canguru para a queda de nascimentos prematuros (metinkiyak/Thinkstock/Getty Images)
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Embora nem sempre nascer antes da hora signifique que o bebê terá algum problema, uma coisa é certa: os prematuros ficam mais tempo no hospital depois do parto. Não é à toa que as mães desses pequenos são chamadas de “mães de UTI”. Em alguns casos, são apenas dias de observação, mas em outros podem se passar meses até que elas possam pegar os filhos no colo. Quanto mais cedo o bebê nasce, mais longo costuma ser esse período.

Para estabelecer melhor os cuidados, eles são classificados de acordo com a duração da gravidez:

“Os prematuro extremos têm uma maior taxa de mortalidade e podem apresentar problemas na visão, dificuldades na alimentação e para respirar, além do risco alto de contrair infecções, pois seu sistema imune ainda é muito imaturo”, destaca Mônica Carceles, neonatologista da Maternidade Pro Matre Paulista, em São Paulo.

Para as mães que passaram por essa experiência, o segredo para enfrentar a situação é um misto de amor e força, transmitidos até pelos próprios nenéns, mesmo que através do vidro da incubadora.

Conheça a seguir duas histórias de mães de prematuros extremos com finais felizes!

Batalha em dobro pela vida

Veja o relato de Fernanda Marins Napier, 43 anos, auxiliar administrativa sênior de São Paulo:

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Fernanda e as gêmeas Lara e Ester

“Aos 39 anos, eu estava tentando engravidar, mas por conta da minha idade e pelo fato de ter tomado anticoncepcional muito tempo, a médica me avisou que poderia levar até um ano para que isso acontecesse. Com isso, não fiquei muito preocupada no começo com meu ciclo menstrual. Só quando ouvi uma colega do trabalho se queixando por estar com cólica, alguns meses depois dessa consulta, que me toquei que fazia um bom tempo que eu não menstruava.

Na hora, liguei para a ginecologista que pediu o exame de sangue e confirmou a gravidez. Quando eu descobri, já estava com dois meses e corremos para fazer um ultrassom com urgência. Durante a realização desse exame, a médica falou: ‘Parabéns pelo bebê, quer dizer, pelos bebês’ e nos contou que eram gêmeas. Me deu um ataque de riso, meu marido chorou, depois eu chorei, ele riu. É muito surreal receber uma notícia dessas. Eu não esperava que fosse engravidar tão rápido, ainda mais de gêmeas!

A partir daí começamos o pré-natal e, pouco antes dos cinco meses, comecei a sentir muita dor nas costas. A médica me informou que era o peso extra por conta da gravidez gemelar e me recomendou uma cinta, mas o incômodo persistiu. Insisti com a médica, que me passou mais um exame.

Fomos fazer o teste e, quando saí do laboratório, pedi para meu marido me levar ao pronto-socorro. Era um domingo. Eu não estava sentindo nada além da dor na costas, mas tem coisa que é inexplicável. Acho que era sexto sentido de mãe. Fomos até a única maternidade que tínhamos visitado e, ao chegar lá, a plantonista já me proibiu de levantar da maca e informou que eu estava em trabalho de parto. Era muito cedo, então precisávamos fazer de tudo para segurá-las lá dentro o maior tempo possível.

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Para piorar, a obstetra que me acompanhava estava viajando e não me indicou ninguém. Então estávamos sem obstetra em um momento superdelicado. Conseguimos contratar a médica de uma amiga, que foi muito solícita, e fiquei por dois dias sem levantar da cama nem para comer. Não podia sentar ou fazer nenhum movimento que facilitasse a saída dos bebês. Mesmo assim, na terça-feira de manhã eu senti uma cólica forte, a médica viu que eu tinha sete dedos de dilatação e o parto ia ter que acontecer. Além disso, uma delas já estava em sofrimento fetal.

Assim, as gêmeas nasceram via cesárea no dia 17 de junho de 2014. Eu estava na 25ª semana de gestação. A Ester pesava 820g e a Lara 870g. No meu caso, o que causou a prematuridade foi a incompetência do colo do útero, que não aguentou o peso extra da gestação gemelar. Não me lembro de muita coisa do parto, mas quando me mostraram minhas filhas ali, já na incubadora, eu disse que não queria nem ver, para irem cuidar delas correndo.

Depois disso, cada dia era um dia. O que me ajudou foi o fato de que eu não sabia muito bem o que significava ser prematuro. Sabia que elas eram frágeis, que seria um período demorado de desenvolvimento, mas não tinha nem ideia do que ainda iria acontecer. Você vai aprendendo ao ver as outras mães da UTI, que estão lá há meses, e isso vai ficando mais tenso porque acontecem coisas com os bebês e você fica se perguntando se isso acontecerá com seu filho também. Mas nunca passou pela minha cabeça sair dali sem elas.

Com 21 dias, as duas tiveram que fazer uma cirurgia cardíaca para fechar o canal arterial, quando pesavam cerca de 900 gramas. Elas ainda passaram por outros problemas: a Lara contraiu uma bactéria e teve que ficar isolada para não transmití-la para os outros bebês, depois pegou uma infecção que exigiu o uso de quatro antibióticos. Sem contar o respirador artificial, que é o pesadelo de toda mãe de UTI. Você fica olhando para aquilo e qualquer queda na saturação do oxigênio já entra em desespero, porque pode significar que o pulmão, que no caso delas não tinha nascido pronto, parou de funcionar.

Peguei a Ester no colo quando ela já tinha 59 dias de vida – e a Lara demorou mais ainda. Em outubro, depois de quatro meses de internação, elas tiveram alta, com 15 dias de intervalo entre uma e outra. Como estavam com a imunidade muito baixa para serem vacinadas, não podiam receber visitas e ficamos até meio neuróticos com a limpeza da casa. Mesmo assim, elas pegaram uma bronquiolite e voltaram para o hospital – a Lara teve até que ficar na UTI de novo. Foi um período muito difícil, você fica se perguntando o que fez de errado, bate um sentimento de culpa. Apesar do susto, deu tudo certo e elas voltaram para casa.

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Depois, as duas fizeram fisioterapia motora para corrigir possíveis atrasos, mas nem sei se posso dizer que houve mesmo atraso. Elas sentaram com sete meses, andaram com 1 ano e 4 meses e com 1 ano e 9 meses elas se igualaram ao estágio de desenvolvimento de uma criança nascida no tempo certo.

Hoje elas têm 3 anos e são saudáveis. Sei que nós as cercamos de cuidados e tivemos o apoio de uma boa estrutura médica, mas o fato delas estarem bem é mérito delas, que lutaram por isso e quiseram sobreviver. E para nós é muito recompensador vê-las felizes, pois tudo o que passei não chega aos pés do que elas passaram”.

Ester e Lara com 3 anos.
(Fernanda Marins Napier/Arquivo Pessoal)

Um milagre de 900g

A designer Heloisa Helena Carreira Vilas Boas, de 33 anos, também teve sua primeira filha de uma maneira conturbada, mas cheia de amor. Confira!

“Não estávamos tentando, mas engravidei em setembro de 2013. Descobri quando estava com seis semanas de gestação e a partir daí comecei o pré-natal. Tudo estava correndo bem, até que no final do quinto mês, numa determinada noite, senti dores e muita vontade de fazer xixi, o tempo inteiro. Achei estranho e fomos ao hospital.

Lá, fui diagnosticada com infecção urinária, a médica me passou uma medicação e me mandou ir para casa. A minha sorte foi que não voltamos direto, mas fomos visitar um amigo que morava bem em frente ao hospital. Enquanto estávamos lá, comecei a sentir dores bem mais fortes, que vinham e voltavam numa intensidade grande. Eu já estava em trabalho de parto e não sabia.

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Não estava me sentindo bem e pedi para meu marido me levar de novo para o hospital. Quando voltamos, outra médica estava de plantão e deu a notícia do trabalho de parto e que ela me internaria para tentarmos inibir o nascimento. Depois de algumas horas, sem sucesso, nos informaram que eu estava correndo risco de vida e não daria mais para segurar.

Fomos para o centro cirúrgico e a Pameã nasceu de parto normal com 26 semanas de gestação, no dia 15 de março de 2014, pesando 900 gramas. O nome é indígena, dos Kaiowá brasileiros, e significa alma velha, conhecimento infinito.

Era tudo muito delicado no começo, pois apesar do parto ter sido normal e de ela conseguir respirar sozinha, ela pegou a minha infecção e teve que entrar no antibiótico. Na primeira semana, ela perdeu muito peso e chegou a ficar com 600 gramas. Tinha episódios de apneia, com vários altos e baixos. Nós comemorávamos cada grama que ela ganhava.

Ela ficou dois meses internada. Foi um período difícil, mas também o que mais aprendi sobre fé, amor e força. Eu tinha muito medo de perdê-la, fui estudar mais sobre o assunto e neste tempo conheci outras mães que estavam com filhos na UTI também. Nós nos ajudávamos muito e era muito dolorido quando um bebê não conseguia sobreviver.

Durante nosso tempo no hospital, cinco bebês não aguentaram e toda vez que isso acontecia era muito difícil não se abalar. Mas nos mantivemos firmes, com muito amor e pensamento positivo. Hoje o momento mais difícil da minha vida virou uma história de vitória para contar. Minha princesa saiu do hospital bem e se desenvolveu bem – hoje tem 3 anos e nenhuma sequela. É perfeita e muito, mas muito feliz.

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Aconselho as outras mamães de prematuro a serem fortes e positivas. No primeiro dia depois do parto, uma enfermeira me viu chorando e me disse que eu estava proibida de ficar triste perto do meu bebê. Eu tinha que sorrir, demonstrar felicidade, transmitir energia para o meu bebê sair daquela situação. E deu certo! Ela é nosso milagre de Deus!”.

 

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