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Estudo indica que comer placenta pode fazer mal para mãe e bebê

Defensores da placentofagia acreditam que a prática traga benefícios, mas pesquisadores encontraram riscos nela

Por Raquel Drehmer
Atualizado em 18 out 2017, 22h33 - Publicado em 18 out 2017, 22h28

Embora a ideia ainda cause estranhamento em muitas pessoas, a prática de comer a placenta depois do nascimento do bebê já deixou de ser rara. Entre as famosas, Bela Gil e a filha beberam a placenta do caçula da família em uma vitamina de banana. Fernanda Machado ingeriu sua placenta em cápsulas, forma mais corriqueira nos EUA, onde a atriz vive – por lá, Kim Kardashian, Jennifer Lopez e Alicia Silverstone são algumas das que revelaram ter feito o mesmo.

Nunca foram comprovados os benefícios que os adeptos da placentofagia (nome técnico da prática) defendem, como prevenção da depressão pós-parto, melhora na produção de leite e redução do sangramento da mãe nos dias seguintes ao nascimento do bebê. E agora um estudo realizado pela Faculdade de Medicina Weill Cornell, da Universidade Cornell, em Nova York, aponta que este hábito pode trazer riscos tanto para a mãe quanto para o bebê.

Depois de revisar dezenas de documentos e estudos sobre casos de placentofagia, o professor e ginecologista-obstetra Amos Grunebaum, pesquisador à frente do estudo, é direto: “A verdade é que comer a placenta é potencialmente perigoso e não há nenhuma evidência de que haja benefícios. Portanto, não faça isso”.

Mas por que comer a placenta pode fazer mal?

Além de testar novamente os supostos benefícios da ingestão da placenta – e mais uma vez não encontrar provas científicas para eles –, o estudo concluiu que as condições de aquecimento e manipulação da placenta não são esterilizantes o suficiente para destruir vírus como o HIV, a hepatite ou o zika, que podem não infectar o bebê no parto, mas ficam concentrados na placenta. Isso coloca a mãe e o filho em risco, uma vez que ela pode passar as doenças para o bebê pela amamentação.

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Esta descoberta está alinhada com a recomendação do Centro de Controle e Prevenção a Doenças dos EUA, o CDC. Desde julho desde ano, devido ao caso de um bebê infectado pelo estreptococo do grupo B vindo das cápsulas de placenta que a mãe ingeria, o órgão orienta que as mulheres não façam isso e que os médicos expliquem às gestantes os riscos da prática.

No estudo, Grunebaum relata que muitos obstetras pedem orientações científicas para passarem às pacientes que lhes perguntem sobre placentofagia. “A decisão de uma mulher deve ser baseada em informações científicas, não em crendices que não se sustentem. A ética é o aspecto mais importante da medicina. Precisamos poder falar para nossas pacientes o que é certo e o que é errado. E estar preparados para responder com base na ciência”, defende o pesquisador.

A influência das celebridades

De acordo com Grunebaum, as primeiras menções a humanas comendo as próprias placentas datam de apenas cem anos atrás. Pelos relatórios respondidos por obstetras de todos os cantos dos EUA para o estudo, o que aumenta o fascínio de suas pacientes pela prática são as declarações das celebridades.

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“As pacientes contam que suas doulas dizem a elas que a placentofagia é comum em outras culturas, mas só encontramos uma cultura em que comer a placenta virou moda, e é a das mulheres de classe alta dos EUA”, declara. As empresas norte-americanas que encapsulam placenta cobram entre US$ 200 e US$ 400 (entre R$ 633 e R$ 1266, pela cotação de 18/10/17) pelo serviço.

O estudo foi publicado no American Journal of Obstetrics and Gynecology.

 

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