O que é gastrosquise, malformação congênita do bebê
Entenda a condição que levou Aurora, filha de Cintia Dicker e Pedro Scooby, a ser submetida a uma cirurgia logo após o nascimento
Desde que Aurora, filha de Cintia Dicker e Pedro Scooby, chegou ao mundo no final de 2022, a internação e os procedimentos pelos quais a pequena passou vêm chamando a atenção, sobretudo pelo desconhecimento em relação à causa de sua permanência na UTI. Nesta semana, a mãe compartilhou em entrevista a Vogue que a garotinha nasceu com gastrosquise, uma malformação gastrointestinal congênita que pode evoluir gravemente se não for tratada rapidamente por especialistas.
Vale lembrar que “congênito” significa que o problema vem desde antes do nascimento – a mãe de 36 anos contou que recebeu o diagnóstico ainda no início da gestação, ao fazer um ultrassom morfológico na 12ª semana. Por causa da condição de Aurora, ela e Scooby foram avisados de que o parto deveria ser cesárea e que a cirurgia precisaria acontecer logo após o nascimento, como de fato aconteceu.
“O parto ser cesárea ou normal não é mandatório, mas a cesariana acaba sendo considerada para que a criança nasça em um ambiente controlado”, comenta Natália Pagan, cirurgiã pediátrica do Sabará Hospital Infantil. “Nós não queremos que a criança tenha um nascimento às pressas, sem um profissional adequado para atendê-la naquele momento, fazendo com que ela fique mais tempo com as alças intestinais para fora do abdome (além do tempo que já ficou dentro do útero)”, alerta. É também por isso que o acompanhamento pré-natal e o ultrassom morfológico são tão importantes.
O que é gastrosquise
“A gastrosquise é um problema congênito, ou seja, que acontece no desenvolvimento da criança dentro do útero, levando a um defeito da parede abdominal, geralmente à direita do umbigo, em que as vísceras – como intestino e, eventualmente, o estômago – ficam para fora do bebê“, explica o cirurgião plástico pediátrico Rafael Ferreira Zatz.
De acordo com o manual Manejo Clínico da Gastrosquise, do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a incidência do problema é variável: de 4 a 5 para cada 10 mil nascidos vivos, acometendo de forma semelhante meninos e meninas. O documento alerta ainda para o aumento de casos registrados ao redor do mundo, sobretudo em mães mais jovens, como adolescentes.
“É um defeito que deve ser tratado de forma urgente no período neonatal. Então, uma vez estabilizada, a criança precisa ser operada para que seja feita a correção desse problema da parede abdominal”, explica Zatz. O Manual da Fiocruz reforça a cirurgia como indispensável e estabelece 6 horas após o parto como limite ideal para o procedimento.
A cirurgia para gastrosquise
O cirurgião plástico pediátrico explica que o procedimento cirúrgico a ser seguido depende da gravidade da malformação, já que os casos podem ser mais simples ou mais complexos. Entre os mais graves, por exemplo, é possível haver necrose, perfuração e outros problemas agravantes – o que vai demandar cirurgias maiores. “Mas existem casos mais leves, que podem ser resolvidos com o deslocamento de tecidos e fechamento com pontos”, diz o especialista.
Além disso, Natália Pagan destaca que, em uma minoria, não é possível resolver o problema em apenas uma operação. “Em cerca de 20% dos pacientes com gastrosquise, não se consegue fazer toda a redução do conteúdo das alças para dentro do abdome em um tempo único. São pacientes que precisam de mais que uma cirurgia. Quando isso acontece, é preciso lançar mão de um silo, que é uma capa que simula o abdome, com a qual as alças são protegidas até que seja possível fazer a redução sem agredir o bebê”, explica a cirurgiã pediátrica.
Da mesma forma, as consequências posteriores variam, com possibilidade de obstrução intestinal por brida e até evolução para síndrome do intestino curto – essa sobretudo em casos complexos. Por isso, o acompanhamento do cirurgião é essencial, já que novos procedimentos podem ser necessários.
O que pode causar a gastrosquise
“A causa específica não é totalmente conhecida e ainda há muita controvérsia sobre ser apenas um defeito genético ou ter algum efeito ambiental, alguma influência da mãe”, destaca Zatz.
Há pesquisas, por exemplo, que relacionam a malformação ao consumo de álcool e cigarros durante a gestação, uso de alguns medicamentos, bem como a recorrência de infecções do trato urinário, mas essas e outras possíveis causas ainda seguem sendo estudadas.
Depois do susto
Aurora nasceu em 26 de dezembro, na 37ª semana de gestação (por orientação dos médicos) e, depois dos procedimentos – uma cirurgia logo em seguida ao parto e uma anestesia geral para passagem da sonda intravenosa – recebeu alta hospitalar em 10 de janeiro. A pequena segue em casa com os papais.