Aborto espontâneo: por que ele ocorre, as principais dúvidas e tratamentos

A pior notícia para quem está grávida é saber que aquele embrião dentro da barriga não vingou. Veja as principais dúvidas sobre a perda gestacional

Por Rachel Campello
Atualizado em 26 out 2023, 09h22 - Publicado em 25 ago 2023, 11h49
mulher deitada segurando a barriga
 (Westend61/Getty Images)
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A perda gestacional é uma experiência “comum” na vida reprodutiva da mulher. Cerca de 15% das primeiras gravidezes não se desenvolvem até o final. Embora o número seja alto, o episódio não deixa de ser doloroso quando ocorre. Ela é definida quando uma gestação, por algum motivo, não termina com o bebê vivo. Pode acontecer até as 20 semanas de gestação, ou se o peso fetal for menor que 500 gramas.

A mais comum é chamada pela literatura médica de aborto espontâneo precoce. “É o quadro que ocorre antes de 12 semanas de gravidez”, explica Carlos Moraes, ginecologista e obstetra membro da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia). O termo, no entanto, não agrada boa parte das mães que passaram pela experiência dolorosa.

O motivo está na definição da palavra. Na língua inglesa, “abortion” é uma interrupção proposital da gravidez através de um procedimento médico, enquanto uma perda gestacional, “miscarriage”, é contrária à vontade da mãe. Ainda que mudanças na linguagem não tenham ocorrido, a explicação por trás do acontecimento pode tranquilizar o casal.

Perder o bebê espontaneamente significa uma boa leitura do organismo que, ao se deparar com embriões malformados geneticamente, interrompe o processo de manutenção da gravidez, diz o ginecologista Alberto d’Áuria, diretor de relacionamento médico do Grupo Santa Joana.

O especialista ressalta ainda que muitas mulheres nem ficam sabendo que estavam grávidas. Às vezes, a menstruação atrasa por três dias e a questão fica por isso mesmo. Já outras têm sangramento e cólicas. Esses sintomas, no entanto, não devem ser motivo de desespero. Algumas mães perdem sangue e sentem dor no primeiro trimestre, sem que isso comprometa a evolução da gestação.

Quando o aborto espontâneo se repete mais de duas vezes, é preciso pesquisar se existem outros fatores ocasionando o problema. Diabetes, disfunções da tireoide e do útero, e infecções eventualmente têm como consequência a perda do feto. Doenças autoimunes, em que o corpo da mulher vê a gestação como uma proteína estranha, ou a falta de progesterona também podem provocar abortos. Como essas situações não são previsíveis, é necessário observar o quadro para depois investigar as causas, alerta Alberto.

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Como ocorre o aborto espontâneo?

A perda gestacional até as 12 semanas é a mais comum e sua principal causa são problemas genéticos do bebê. “O embrião que se forma não é saudável e é um processo da natureza de interromper a gestação”, explica Carlos. Pode ocorrer devido a anomalias cromossômicas e anomalias do trato reprodutivo materno, como útero bicorno. Dependendo do período em que há a perda, o feto é totalmente expelido pelo próprio útero.

Quais os sintomas do aborto espontâneo?

O principal sintoma é o sangramento. A perda geralmente é precedida por sangue vermelho vivo ou escuro enquanto o útero se contrai e causa cólicas, informa o Ministério da Saúde. Se a mãe faz um acompanhamento com ultrassonografias precoces, é possível ter o diagnóstico mesmo antes da paciente apresentar os sinais.

Durante a gestação, todo o sangramento é preocupante?

Até a quinta semana de gestação, pode ocorrer um sangramento devido à implantação embrionária. Ele dura um ou dois dias e é considerado normal. 20% a 30% das gestantes terão algum episódio de sangramento até a 20° semana de gravidez e apenas metade desses deles resulta em uma perda, ressalta o MS. Mas, em caso do sintoma, avise seu médico, pois só ele poderá avaliar se existe motivo para preocupação.

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Por que o primeiro trimestre de gestação é o mais crítico?

Porque é nos primeiros três meses de gravidez que acontece a maior parte das perdas, sejam elas precoces (até 12 semanas) ou tardias (até 20 semanas). Funciona como uma seleção natural, pois o corpo trata de rejeitar o embrião que não está bem formado.

É preciso fazer tratamento após um aborto espontâneo?

Se o feto e a placenta foram completamente expelidos pelo útero, não é necessária nenhuma intervenção. Caso não aconteça, é possível administrar medicamentos que causam a expulsão do material ou realizar procedimentos para este fim, como é o caso da curetagem. O tratamento mais importante é o psicológico, para ajudar o casal a lidar com os sentimentos de luto e culpa que podem surgir.  

Depois de passar por um aborto, quanto tempo a mulher precisa esperar para tentar engravidar novamente?

Depende. Se houve a expulsão sem passar por intervenções, basta esperar a menstruação vir normalmente e, no próximo ciclo, é possível engravidar. Em torno de 15 dias após o ocorrido, o corpo já estaria apto, segundo o MS. No entanto, os médicos sugerem que se espere, no mínimo, três meses – especialmente se a mulher foi submetida à curetagem ou a outro procedimento cirúrgico. A orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é mais extensa, com repouso de 6 meses. Lembre-se de que, embora sofrer uma perda gestacional aumente o risco de outra, a maioria das mães consegue engravidar novamente e ter um bebê saudável.

Como prevenir o aborto espontâneo?

É importante avaliar as causas por trás da perda. Não existe prevenção para alterações cromossômicas. No entanto, o que toda a mulher pode e deve fazer são exames de pré-concepção para saber se há alguma alteração genética ou doença autoimune – além de tomar ácido fólico três meses antes de engravidar. Há fatores de risco para que aconteça novamente, como a idade acima de 35 anos, anomalias reprodutivas e diabetes, informa o MS.

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