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“Red” traz reflexão necessária sobre projeções que pais fazem nos filhos

A nova animação da Pixar fala sobre adolescência, mas é também um lembrete bonito para os pais ficarem atentos à pressão que depositam nas crianças.

Por Alice Arnoldi
Atualizado em 22 mar 2022, 14h26 - Publicado em 12 mar 2022, 14h00

Raiva… PANDA! Tristeza… PANDA! Vergonha… É, panda de novo. Este é o dilema que ronda a protagonista Mei Lee em “Red: Crescer é uma Fera”, nova animação da Pixar que pulou os cinemas e estreou no dia 11 de março direto no Disney+. Na história, a adolescente acaba se transformando no grande bicho fofo, vermelho e branco, toda vez que uma emoção muito intensa a domina – e convenhamos, quando se tem 13 anos, isso acontece com bastante frequência.

Só que além do tom cômico presente nesta narrativa focada na adolescência, os pais são convocados a repensar questões profundas que rondam o exercício da maternidade e da paternidade consciente. O principal deles, no longa, é o de admitir que, ainda que sem querer, acabamos projetando nossos sonhos nos filhos, gerando pressão pelas expectativas nutridas durante o crescimento deles e impedindo que cultivem seus próprios desejos.

Na animação, dirigida por Domee Shi – a mesma criadora do lindo “Bao, vencedor do Oscar de Melhor Curta Metragem de 2019 -, este impasse da parentalidade é vivido por Ming, mãe da protagonista. As duas são capazes de conversar apenas com um olhar tamanha a conexão, no entanto, a jovem começa a entrar na adolescência e querer viver tudo o que a época lhe reserva: estar sempre rodeada das amigas, vibrar com seus ídolos, além de, claro, sentir as bochechas rosarem ao passar pelo menino que gosta.

Isso faz com que Mei comemore como se aquele fosse “O Ano de sua vida”, mas o que ela não esperava era que uma maldição rondasse as mulheres de sua família. Sim, elas se transformam no panda-vermelho sempre que estão diante de emoções intensas, o que leva cada uma a precisar passar por um ritual para abandonar esta faceta e seguir adiante.

Não, não daremos spoiler, mas só pelo o que trailer mostra, já dá pra perceber que a adolescente não curte a ideia de deixar esta sua parte “animal” para trás e sua justificativa é um abraço quentinho em quem está assistindo (e também trava uma luta para fazer as pazes com si, diariamente): “Parece que eu gosto da minha nova versão!”, comenta a protagonista com suas amigas, depois de mostrar a elas como fica quando suas emoções estão intensas.

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Amigas-vendo-Mei-Lee-se-transformando-no-panda-vermelho
(Disney/Divulgação)

Ainda que apoiada pelo seu grupo, quem se apavora com a ideia de Mei conviver com o panda-vermelha que há dentro de si é a sua mãe. Primeiro, porque há um misto de expectativas diante dos caminhos que a filha irá trilhar, mas há também a genuína preocupação sobre o mundo não ser gentil com ela tanto quanto seus pais são.

Quem comenta sobre o assunto é a atriz Sandra Oh, dubladora da personagem, em uma entrevista exclusiva ao Bebê. “Ming é atenta, amável e aparece dando o seu melhor, ou seja, ela está fazendo o que a maioria dos pais também estão tentando fazer”, comenta.

Mei-Lee-disfarçando-que-sua-mãe-estava-atrás-dela-na-escola
(Disney/Divulgação)

É preciso confiar na jornada da criança…

Ela ainda explica que, analisando a história a partir da cultura asiática, na qual se inserem a diretora do filme, as dubladoras e também as personagens, existe sim uma cobrança a mais dos filhos nesta situação. Só que, ao mesmo tempo, há uma descoberta preciosa que faz parte da jornada da criança.

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“Sim, muitas expectativas são colocadas sobre as crianças. Mas há também os belos desafios que elas vivem em busca do equilíbrio entre não desapontar seus pais e serem quem verdadeiramente são. Penso que toda criança irá passar por isso!”.

Sandra Oh, atriz e dubladora da personagem Ming

Este, então, começa a ser o nosso olhar atento no decorrer do filme: como a adolescente irá fazer a transição da infância para o universo juvenil, sem perder os traços da sua ancestralidade ao mesmo tempo em que é fiel ao que sente.

Sem spoilers, podemos dizer que a animação mostra que o caminho é inevitavelmente de tropeços tanto para Mei quanto para Ming, ferindo uma a outra. Mas continuar a trajetória com amor, disposta a falar, mas também a ouvir, é uma das descobertas necessárias na maternidade.

Assim, o convite final da história é que existe muita potência em confiar na criação que foi dada ao filho, enxergando que a busca dele pela independência não significa que ele esquecerá de onde veio ou não será feliz, porque não seguiu o caminho que planejamos para ele – ainda que a necessidade de controle nos diga o contrário, mães.

Acreditar na maneira que você educou o pequeno e deixá-lo ir, mesmo aos tropeços, é vê-lo chegar em lugares com toda a bagagem que você também ofereceu a ele. É permitir que ele lute por aquilo que acredita, com respeito e dignidade, porque ele sabe exatamente para onde voltar quando precisar.

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