Depois de ter filhos, você começou a sentir uma cobrança da sociedade para ter uma postura angelical? Rafa Brites, apresentadora da Rede Globo e mãe do Rocco, de 8 meses, compartilhou no último domingo, 24, um texto nas redes sociais para falar sobre essa questão e os comentários que tem recebido desde que o filho veio ao mundo.
“Qualquer movimento em uma dança, decote ou entornada em um copo de gin, escuto: ‘Olha a mamãe do Rocco aí curtindo adoidada’. Em um festival de música, eu, já pra lá de Badgá, escuto: ‘Quero ver acordar para cuidar do baby, hein!’, ‘Nossa, batom vermelho? O seu filho vai ficar com ciúmes da mamãe’“, exemplificou a artista.
O relato foi postado após ela marcar presença no Rock in Rio. Rafa curtiu o evento ao lado do marido, Felipe Andreoli, e aproveitou para dividir com os seguidores o look escolhido para a ocasião. Uma pessoa chegou a escrever “se esbaldou, danada” e outra fez um comentário reparando no decote do vestido que ela estava usando.
E é justamente sobre essa realidade que a repórter resolveu refletir. Sobre a visão assexuada que as pessoas acabam criando em volta do universo materno, como se a partir do momento em que a mulher se torna mãe, ela abdica de todos os outros papéis que desempenha – a começar pelo de mulher! “Muitas mulheres que têm filhos assumem para si uma vida dupla – ou mesmo tripla – onde não há individualidade. Algumas vivem essa carga o tempo inteiro. E não é que existe um período do dia em que dá para deixar de ser mãe, mas tem ocasiões em que é possível ser só mulher – cuidar da própria vida, carreira e se dedicar aos momentos de prazer”, afirmou a psicóloga Raquel Jandozza, em entrevista ao Bebê.com.br.
A apresentadora contou que a maioria dos palpites que ouve são machistas e vêm ~acreditem~ do público feminino: “Temos um inconsciente coletivo de acreditar que a mulher ao virar mãe, por ser algo tão divino e sagrado, passa a ser cândida e não possa mais ser sensual, provocante, evitando, assim, ser alvo de olhares furtivos”.
Rafa também relatou que as pessoas agem diferente com os homens quando eles se tornam pais, parabenizando-os pelo ~grande feito~. “A hora que a ficha cai de COMO somos M U L H E R E S por ter gerado, parido, adotado, alimentado outro ser, vem uma autoconfiança tão forte que inevitavelmente nos torna mais sensuais”, destacou a mamãe.
Ela disse, ainda, que age de forma diferente do que a sociedade espera e que, sim, perdeu mais o pudor: “Busco o prazer. Amo mais o meu corpo. Me sinto uma pessoa muito mais interessante. Não consigo ter ciúmes das menininhas novinhas lindas em uma festa. Não preciso agradar ninguém. Não tenho mais tempo para o mais ou menos. Meu comportamento e meu bom senso sempre foram e continuaram regidos pelos meus valores”.
A artista também foi categórica ao falar sobre o que vai passar para o pequeno Rocco: “Não se preocupem se vou acordar às 05h30 para cuidar do bebê. Talvez sim. Talvez acorde ao meio dia e fale: ‘meu filho, mamãe ferveu tanto ontem. Dancei tanto ontem que dormi até mais tarde. Agora estou pronta pra nossa farra!’. [Ele] vai entender que sagrada é a liberdade“.
Confira o relato na íntegra:
Não canonizem as mães.
Engraçado, depois que virei mãe, tenho sentido uma cobrança por uma postura angelical, imaculada e assexuada. Qualquer movimento em uma dança, decote ou entornada em um copo de gin escuto: ‘Olha a mamãe do Rocco aí curtindo adoidado’. Em um festival de música, eu, já pra lá de Bagdá, escuto: ‘Quero ver acordar pra cuidar do baby hein!’, ‘Nossa, batom vermelho? Seu filho vai ficar com ciúmes da mamãe’… Entre outros vários comentários infelizes, a maioria machistas e vindo de mulheres. Por favor, as pessoas que teceram esses comentários não fiquem chateadas comigo. Não é culpa de vocês! Temos, sim, um inconsciente coletivo de acreditar que a mulher ao virar mãe, por ser algo tão divino e sagrado, passe a ser cândida e não possa mais ser sensual, provocante, evitando, assim, ser alvo de olhos furtivos.
Algo bem diferente para os pais que, desde a gravidez, se parabenizam com um tom de garanhão! ‘Aí, mandou a ver hein!’. Talvez se você acabou de parir e está de camisola, absorvente embaixo e em cima, sem tomar banho, nem se olhar no espelho até faça sentido se conformar com a canonização… Mas saiba: a hora que a ficha cai de COMO somos M U L H E R E S por ter gerado, parido, adotado, alimentado outro ser, vem uma autoconfiança tão forte que inevitavelmente nos torna mais sensuais. Ao contrário do que a sociedade gostaria, eu perdi ainda mais o pudor. Busco o prazer. Amo mais o meu corpo. Me sinto uma pessoa muito mais interessante. Não consigo ter ciúmes das menininhas novinhas lindas em uma festa. Não preciso agradar ninguém. Não tenho mais tempo para o mais ou menos. Meu comportamento e meu bom senso sempre foram e continuaram regidos pelos meus valores.
Detesto a posição de mãe mártir. Vítima. E é uma armadilha fácil se cair.
E AS MÃES SEPARADAS? Essas então… Coitadas! Se desse, as família petrificavam-nas!
Então, olha só: sigo curtindo a minha vida ainda mais! Posso ser safada, viu? Não se preocupem se vou acordar às 05h30 para cuidar do bebê. Talvez sim… Talvez acorde ao meio-dia e fale: ‘Meu filho, a mamãe ferveu tanto ontem. Dancei tanto ontem que dormi até mais tarde. Agora estou pronta pra nossa farra! Vai entender que sagrada é a liberdade!