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Pais tentam fertilizar esperma do filho inconsciente, mas juiz nega pedido

O casal do Reino Unido desejava utilizar os gametas do rapaz, que se encontrava em estado grave na UTI, para gerar um neto

Por Isabelle Aradzenka
Atualizado em 23 nov 2022, 16h55 - Publicado em 23 nov 2022, 16h50

Até onde alguns pais iriam para realizar o sonho de conceber um neto? Um casal, cuja identidade não foi revelada, entrou em batalha judicial no Reino Unido para conseguir a permissão de congelar o esperma de seu filho, que se encontrava inconsciente e em cuidados médicos, e fertilizá-lo em sua namorada.

Em 24 de outubro, o jovem de 22 anos sofreu um acidente vascular cerebral enquanto praticava esportes e foi levado direto aos cuidados intensivos do hospital. No tempo em que permanecia inconsciente e sem perspectiva de melhora, seus pais solicitaram uma audiência de urgência ao Tribunal de Proteção da Inglaterra, a qual foi atendida pelo juiz Nigel Poole – fora de expediente – em 3 de novembro.

Como consta no relatório do julgamento (publicado no dia 16), os responsáveis tentaram mostrar à corte que o jovem manifestava o desejo de ter filhos. Foram apresentadas provas através de aplicativos de mensagens e alegações de que o rapaz mantinha os próprios brinquedos de infância guardados para que um dia pudesse dá-los à criança.

Além disso, os pais confirmaram que a namorada do filho também havia expressado o interesse de carregar um bebê concebido com ele. Segundo o pedido dos familiares, o esperma seria coletado através da remoção de parte dos testículos. O procedimento deveria ser realizado rapidamente devido à sua condição frágil, e o jovem não estaria ciente do processo ou sofreria qualquer dor.

Pedido negado

Mesmo com a alegação dos familiares de que a coleta do esperma era consistente com o desejo do rapaz, o pedido dos pais foi contestado pelo Serviço Nacional de Saúde da Inglaterra e do país de Gales (NHS Trust) no momento da audiência.

Segundo a organização, a aprovação do Tribunal pela coleta e armazenamento do sémen, sem o consentimento real, estaria ferindo a Lei de Fertilização Humana e Embriologia, de 1990.

O juiz, portanto, indeferiu o pedido. “Não há qualquer evidência quanto às opiniões e crenças de X [o jovem]. Uma coisa é ter um desejo consistente e sincero de ser um pai vivo e atencioso. Outra coisa é desejar ter seu esperma coletado e armazenado quando inconsciente, sem ter expressado qualquer opinião, em vida, sobre como o esperma deveria ser usado”, afirmou Poole.

Além disso, o magistrado concluiu que não há confirmações de que ele e sua namorada estivessem tentando engravidar no presente ou no passado, e que os riscos e benefícios do procedimento deveriam ser avaliados.

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“O processo de coleta do esperma de X é fisicamente invasivo e não há evidências de que ele teria sido consentido ou concordado quanto ao seu propósito. Seu direito à privacidade e à autodeterminação em relação à reprodução deve ser considerado. Não há nenhuma evidência perante o tribunal para me persuadir de que X teria desejado que seu esperma fosse coletado e armazenado em suas atuais circunstâncias”, encerrou.

Após o julgamento, o juiz Poole foi informado da morte cerebral do jovem, em 8 de novembro, e prestou condolências à família na declaração final divulgada.

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