O que levar em conta na hora de escolher a madrinha do seu filho

Dinda, didi, dindinha: cada um tem um jeito de chamar a madrinha. Entenda o significado de escolher esta pessoa que será um ponto de segurança pra família.

Por Manuela Macagnan
14 out 2021, 17h11
Mulher gira criança em brincadeira
 (Catherine Falls Commercial/Getty Images)
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Escolher os padrinhos é uma das inúmeras tarefas gostosas enquanto os pais esperam a chegada do bebê. “Os rituais, como o batizado, nos ajudam a identificar quem somos como indivíduos e como família, fornecendo algo constante, estável e seguro em um mundo tão acelerado e imediatista como o nosso. Muitos rituais nos trazem memórias preciosas em torno da família, nos ajudam a marcar os ciclos de transição da vida e contam a nossa história”, contextualiza Mariana Uebel, psiquiatra especialista em infância e adolescência.

Só que antes associado apenas ao âmbito religioso, esta função ganhou outros significados sociais que vão além do rito. Quem realmente leva a sério sabe que, embora ninguém goste de falar, a função desta pessoa na vida da criança é assumir a responsabilidade por ela, caso os pais venham a faltar.

Por isso, é importante dialogar muito sobre a escolha dos padrinhos, seja eles amigos ou parentes, pois estes precisarão ser um porto seguro para a criança durante toda a vida, além de um apoio para os pais. Aqui, vamos focar na relação entre madrinha-afilhada(o). 

Ok, mas como escolher?

Existe um provérbio africano que diz: “É preciso uma aldeia para se educar uma criança”. A madrinha é então uma parte importantíssima desta comunidade, independente da religião. Ela será uma referência para a criança, por isso é necessário escolher com calma e muita atenção e ter a consciência de que é um cargo para toda a vida.

“O termo ‘madrinha’ tem suas origens na palavra mater, que significa mãe. Recuperar o sentido da palavra nos ajuda a entender o papel que esta pessoa pode ter na família e na relação com a criança. Normalmente, a madrinha é uma pessoa muito próxima escolhida para ser uma referência, além dos pais. Esta escolha é baseada no afeto que eles têm por esta amiga ou parente, acreditando que também será vivido pela criança nesta relação”, explica Mariana Fajngold Costa, psicóloga da Vibe Saúde.

A psiquiatra Mariana Uebel alerta para a importância de escolher alguém com os valores parecidos com os seus. “Os pais devem escolher os padrinhos não apenas por causa de uma relação familiar ou de amizade, e sim por ser uma pessoa com valores com os quais eles se identifiquem e que sirvam como um modelo de inspiração para seus filhos”, aponta. 

Mais do que mimos: a madrinha precisa criar laços

Apesar da banalização, a Dinda não é só para dar presentes e aparecer em datas especiais, não. Ela deve ser alguém próxima à família para poder criar um vínculo com a criança, conhecer os gostos, buscar na escola quando precisar, promover experiências novas e estar disposta a oferecer apoio emocional. Este laço precisa de tempo, dedicação e convivência para ser fortalecido.

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“Acredito que as madrinhas possuem um papel importante na vida da criança. Mas a proximidade do relacionamento e a qualidade do vínculo que se forma com a criança é determinante para que a madrinha seja realmente especial na sua vida”, ensina a psiquiatra.

A base do relacionamento com a criança está na confiança, amor e segurança que o adulto transmite. Tudo isso se dá no dia a dia, na convivência por meio de brincadeiras, do cuidado e da atenção no tempo em que passam juntos. 

E como criar um laço com a criança sem ultrapassar os limites da família? O ponto fundamental é apoiar as decisões dos pais e, se não concordar com algo, conversar diretamente com eles, sem a presença do pequeno.

“Educar é função dos pais. Mas claro que eles podem contar com a ajuda, sugestões ou orientações da madrinha, se assim desejarem”, salienta a psiquiatra. Ao que a psicóloga Mariana complementa: “Penso que a relação da madrinha é construída com a criança e com os pais. Dentro deste espaço de afeto e convivência, o respeito aos papéis de cada um é importante. Ela pode orientar e trazer sua visão de mundo, buscando respeitar o espaço dos pais”.

Deu para entender o peso que a dinda tem na vida da criança, certo? Então, a dica é, depois de ponderar bastante e escolher quem vai ocupar o cargo de madrinha, invista na relação dela com a criança. Confie, dê espaço, delegue funções que ela esteja disposta a assumir. 

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Para exemplificar a importância deste vínculo, conversamos com duas mulheres que são madrinhas muito presentes na vida de suas afilhadas. Enquanto Letícia Isaia relata sobre a felicidade e responsabilidade que sente com a pequena Helena, Cristina, madrinha da adolescente Hellaine, mostra que, quando construída desde o início, a relação só tende a se fortalecer com o tempo. 

Letícia e Helena: Didi, você é a minha segunda mamãe

Leticia Isaia é advogada e dinda da Helena, que tem 4 anos e 7 meses, e Carolina, de 1 mês.

“Helena é filha da minha irmã, Natalia. O convite para ser dinda dela foi feito perto da data do Natal, veio em uma caixinha com uma foto do ultrassom e um berloque com uma menininha, que me acompanha até hoje. Também sou dinda da Carolina, que é irmã da Helena, e o convite foi feito agora em julho e Carolina nasceu em setembro.

Dizem que o bom de ser dinda é que não se tem a responsabilidade dos pais. E eu discordo, tenho muita responsabilidade com a Helena e amo isso.

Quando a Carolina nasceu, fiquei responsável pela Polpeta (apelido que dei para a Helena) de sexta a domingo, só eu e ela. E foi tudo tranquilo, ela vê em mim também alguém que cuida, que protege e que ela deve obedecer.

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Mas, como dinda, posso ser mais flexível do que os pais. Já que não a vejo todos os dias, temos mais “permissões”. Certa vez, quando ela era pequenininha, ela me disse: “Didi, você é a minha segunda mamãe”. Acho que a melhor parte de ser dinda é essa leveza, a gente se diverte muito juntas. Qualquer coisa tornamos um evento.

Desde antes de a Natalia engravidar, nós morávamos no mesmo prédio, então eu acompanhei o crescimento da Helena todos os dias. Quando o Maurício, que é o pai da minha afilhada, não podia ir nos ultrassons, eu que ia. Quando ela nasceu e o Maurício estava em viagem, eu chegava do escritório e ia direto no apartamento ajudar a dar banho, a ajeitar as mamadeiras, por vezes dormia no sofá para caso precisasse de algo na madrugada.

Depois, quando a Helena tinha dois anos eu saí desse prédio, mas logo em seguida achei um apartamento para a Natalia bem pertinho de onde eu estava morando e eles se mudaram também – não por minha causa, mas veio a calhar a mudança.

Letícia e Helena, madrinha e afilhada

Então eu sempre estive muito perto da Helena e, quando eles contaram que iam mudar de cidade, eu fiquei feliz porque sabia que ia ser bom para todos. E então matamos a saudade por chamadas de vídeo ou quando eu vou para lá passar um tempo com ela. Ah, e toda vez que eu chego, a Helena faz a pergunta: “Didi, quantos dias você vai ficar aqui?”. Aí a gente já faz a programação de tudo que queremos fazer juntas. Gostaria também que ela passasse as férias comigo, por exemplo. Brincando na terra, andando a cavalo- mas não todo o período das férias (risos).

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Eu ainda não tenho filhos e nunca pensei se a minha relação com a Helena mudaria depois de ser mãe. Mas não acho que vou diminuir o amor ou o contato, coração de dinda é que nem de mãe. Acho que a Helena só vai agregar nisso, a conviver com os primos”.

Cristina e Hellaine Cristina: “A gente não tem laço sanguíneo, mas somos muito parecidas”

Cristina Moura é professora universitária e madrinha da Hellaine, que tem 19 anos

“A mãe da Hellaine, a Ilza, é irmã de criação da minha mãe, então sempre fomos muito próximas. Eu tinha 21 anos quando a Ilza me convidou para ser madrinha da Hellaine e eu fiquei super feliz. Foi num momento muito importante da minha vida porque, com 20 anos, perdi o meu primeiro namorado em um acidente de carro. Logo depois eu fiquei sabendo que ia ter uma afilhada.

Eu morava em Campinas, no interior de São Paulo, quando a Hellaine nasceu. Ela mora em Rio Preto, minha cidade natal. Eu ia sempre para lá e senti uma transformação muito rápida. A Hellaine nasceu prematura, e uma vez fiquei um mês sem vê-la. Ela era um bebezinho de cabelo preto, liso e com os olhinhos bem fechados, bem puxadinhos. De repente cheguei e tinha um bebê loiro, com cabelo cacheado e olhos claros. Foi uma mudança muito rápida!

Sempre gostei de conversar com ela. Quando ela era criança, brincávamos muito e a primeira vez que ela foi ao cinema foi comigo. 

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Quando ela era adolescente, foi estudar em uma escola particular, mas não era muito feliz por ser bolsista e sofrer um estigma dos grupinhos de adolescentes. Um dia viajei para o exterior e comprei um moletom da GAP, que todo mundo da escola usava, e dei para ela. Ela usou tanto! Lembro que, quando eu dei o presente, falei ‘você sabe que isso não é importante de verdade, o que é importante é você ser estudiosa, ser essa boa menina que você é.’ Acho que ela tinha uns 12 anos e ela respondeu ‘madrinha, eu sei que não é importante, mas na minha escola, é.’

Fiquei meio chocada, mas feliz que ela tinha entendido. Ela sempre teve este discernimento, sempre foi bem madura, muito mais do que eu era, eu acho. Esta consciência de como as coisas são, de como o mundo é, do que realmente é valioso na vida. Que, na verdade, o que importa é o que você é e não o que você tem. Os pais passaram isso muito forte para ela.

Cristina e Hellaine, madrinha e afilhada
(arquivo pessoal/Arquivo Pessoal)

Eu não sabia que madrinha tinha função até a gente ir à igreja, fazer o batizado e o padre falar que, na falta dos pais, a gente cuidaria da Hellaine (eu e meu irmão). Mas também não me importei muito, já que tenho claro comigo que tudo o que eu puder fazer por ela, eu faço. Como se fosse um filho. Se os pais dela faltassem, ela ficaria comigo.

Uma das coisas que quero muito é ter dinheiro para proporcionar para ela um curso de inglês, uma viagem para o exterior para fazer um curso. Ela é uma pessoa incrível e tudo de melhor que eu puder fazer por ela, vou fazer, com certeza. A gente não tem laço sanguíneo, mas somos muito parecidas. No jeito, na responsabilidade, na ansiedade, na paixão por comida, por gostar de viver. A mãe dela até fala ‘às vezes parece que é filha da madrinha’”.

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