Em um país em que a desigualdade entre gêneros ainda grita, é necessário falarmos sobre as dificuldades enfrentadas por mulheres que precisam retornar ao mercado de trabalho. Seja por conta da licença-maternidade, das (muitas) demissões que ocorreram na pandemia ou por terem sua fonte de renda principal cortada, chega-se ao impasse: o que fazer agora? Neste campo minado de incertezas, diferentes mães têm apostado no empreendedorismo por meio das redes sociais e o resultado tem sido surpreendente.
Este é o caso de Giselle de Alves, de 34 anos, dona da marca Opô Yalojá, especializada em acessórios africanos que resgatam a ancestralidade do candomblé. Neta de duas costureiras, ela passou 12 anos trabalhando na área de logística de uma transportadora. Até que, em 2014, engravidou de Arthur, hoje com seis anos.
“Foi muito difícil conseguir retornar ao trabalho logo depois que ele nasceu. Então, decidi dar uma pausa e me dedicar ao meu filho, voltei quando ele tinha mais ou menos um ano, já separada do pai dele”, detalha a empreendedora. Neste meio tempo, o primogênito de Giselle ficou com uma cuidadora, mas o processo de adaptação ainda estava difícil. Especialmente porque foi neste mesmo período que Arthur passou por uma investigação médica que, mais tarde, levou ao seu diagnóstico de autismo.
Ao passar por um episódio de racismo na empresa que trabalhava, ouvindo difamações sobre si e também a respeito do filho, Giselle pediu demissão e decidiu que iria iniciar uma nova carreira no universo do empreendedorismo. Para isso, ela precisou redescobrir quais eram seus talentos. “Eu queria fazer algo que remetesse a minha história, ou seja, que eu pudesse fazer com as minhas mãos e trouxesse o amor que eu tenho pelo que acredito e pelas mulheres da minha vida”, explica a mãe.
Foi assim que ela chegou ao Opô Yalojá, sua marca que já conta com mais de 10 mil seguidores no Instagram. A rede social permite a chegada de novos compradores ao seu site, onde há o catálogo virtual das peças ou o contato direto com Giselle para encomendar uma peça única.
O mesmo investimento na plataforma possui Vivian Abukater, diretora executiva das comunidades Maternativa e Compre das Mães, sendo a segunda a maior vitrine virtual para mães empreendedoras no Brasil. A ideia é dar visibilidade para pequenas empresas formadas por mulheres mães num esforço para que consigam divulgar seus produtos e ir crescendo por meio do apoio das participantes.
Para entender como elas conseguiram construir estas comunidades de seguidores e emplacar boas vendas, separamos – com a ajuda do Instagram – sete dicas possíveis de serem colocadas em prática para quem deseja entrar no mundo do empreendedorismo materno.
Confira:
1. Planeje a logística do perfil
Como outros negócios que acontecem fora do mundo virtual, criar uma conta no Instagram destinada a uma marca pede programação e paciência. Por mais que pareça óbvio, é importante que, assim como Giselle fez, a mãe entenda qual é o serviço que será oferecido ao público e o porquê.
Estas certezas ajudam a ter calma na construção da loja, já que o sucesso não acontece do dia para a noite, e reforçam às empreendedoras que será necessário dedicar tempo e criatividade à rede social.
Assim, após decidir qual serviço será prestado, trace também a quantidade de vezes que você publicará no Instagram por dia, semana ou mês. Para evitar frustrações, estipule metas reais ainda que elas sejam menores do que você gostaria. Com o tempo e crescimento da marca, mais pessoas podem começar a integrá-la para divisão de tarefas e aumento de produtividade.
2. Invista em fotos bonitas e reais
Entre as tantas redes sociais que temos acesso, o Instagram é uma das mais visuais e isso pede boas imagens ao divulgar produtos na plataforma. Para isso, não estamos falando em acabar endividando-se para comprar a câmera da última geração ou marcando um ensaio fotográfico para ontem.
Tanto Vivian quanto Giselle orientam mães a começarem com o que elas têm em mãos, como celulares, aplicativos gratuitos e a luz natural do dia. Quanto menos artificial for a iluminação da fotografia, mais você garante ao público o visual real do que está sendo vendido e a foto precisará de menos edição – logo, menos trabalho para você!
A dona da marca Opô Yalojá conta que, até hoje, suas fotos são feitas com smartphones e usufruindo da luz natural, o que facilita para que os acessórios sejam registrados com sua verdadeira cor.
3. Não deixe seu público falando sozinho!
A partir do momento que os produtos começarem a ser divulgados e procurados pelo público, a tendência é que as fotos tenham comentários ou sejam motivos para que as pessoas a procurem no direct do perfil.
Neste momento, é importante que você reserve um período diário de trabalho para responder a estas perguntas ou até mesmo elogios. Isso faz com que o seu público perceba que realmente existe uma pessoa por trás daquela marca, além de reforçar a credibilidade – já que, caso haja algum problema com entrega ou até mesmo com a mercadoria em si, entende-se que haverá uma resposta de quem a vendeu.
Com o tempo, possivelmente você perceberá que muitas perguntas se repetirão. Neste caso, a diretriz do Instagram orienta que as marcas criem uma resposta padrão para determinados questionamentos, facilitando o lado de quem está vendendo e também de quem está comprando.
Os comentários do feed também merecem sua atenção, mas, neste caso, cuidado com respostas padrões gerais, porque também podem soar como descaso. O ideal aqui seria responder uma a uma com atenção e encaminhar o cliente para o direct, onde você pode tratar as encomendar e demandas particularmente.
4. Use os stories para criar proximidade
Enquanto que no feed, as produções precisam ser mais elaboradas e esteticamente bonitas, o papo é outro quando o assunto é story. Dentro das marcas, a ferramenta de 24 horas do Instagram pode ser usada para criar intimidade com o público, mostrando os bastidores da produção e até mesmo quem é a mãe empreendedora por trás dela.
Na pandemia, Giselle percebeu o interesse das pessoas por isso. “Neste período, chegou um público mais presente, que passa mais tempo nas redes sociais, o que fez com que o conteúdo precisasse ser mais humanizado, já que as pessoas passaram a comprar não apenas por achar uma peça bonita ou por impulso, mas querendo conhecer quem está por trás da marca”, explica a empreendedora.
Vale também ficar atento às próprias ferramentas disponíveis no Instagram. Para aumentar o engajamento por meio da interação com o público, as diretrizes da plataforma incentivam os criadores de conteúdo a usarem caixinhas de pergunta e votação para conhecer seus seguidores.
5. Os principais assuntos merecem destaque
E se em uma destas caixinhas você responder a uma pergunta feita com frequência pelo público ou, a partir dela, engate em um tema que é precioso para a marca, aproveite para usar a ferramenta de destaque para guardar o conteúdo.
O artifício também pode ser valioso para montar o catálogo de produtos, tabela de preço, como fazer a encomenda e como usar o item, além de unir feedbacks positivos de quem já comprou de você e gostou. Só tenha em mente que os destaques precisam ser atualizados com frequência, para que não passem a impressão de que são velhos ou que o perfil foi descontinuado.
6. Escolha quem irá seguir com cautela
No ímpeto de querer que a marca cresça rapidamente, seguir o maior número de pessoas parece uma alternativa positiva para elas devolverem o follow e o perfil conseguir somar um número relevante de seguidores. Entretanto, como lembra Vivian, há mais chance de converter um seguidor em cliente quando os interesses são mútuos.
Por exemplo, se você é uma marca como o @compredasmães, é importante que você siga pequenas empreendedoras maternas que estão em busca de divulgação ou podem estar precisando dos serviços de outras mães, formando uma rede que os objetivos se conversam.
7. Não tenha vergonha da sua marca!
Por fim, mas não menos importante, não tenha medo de falar sobre a sua marca para outras pessoas e produzir um conteúdo que esteja voltado a um público de compra, ainda que ele seja pequeno.
Em uma sociedade machista e patriarcal como a que vivemos, muitos desacreditarão do potencial do que você está construindo e poderão até mesmo dizer que não é um trabalho “de verdade” por usar a internet como ferramenta de venda, mas se ele está sustentando sua família e sendo feito com dedicação por você, sim, ele é! E paciência, mãe: um passo de cada vez.