Afinal, meu filho já pode visitar os avós?
Relaxamento da quarentena animou as famílias, mas orientação ainda é evitar saídas para socializar. Veja que cuidados tomar se decidir ir.
A reabertura do comércio e a dureza de estar há mais de cem dias longe dos familiares estão fazendo brotar na cabeça dos pais a dúvida: já está permitido visitar os avós dos meus filhos? O assunto divide os especialistas, mas a recomendação é esperar a pandemia arrefecer e, se decidir ir, tomar bastante cuidado.
“Algumas pessoas entendem que o perigo diminuiu, mas na verdade ainda estamos no pico da doença, com alto risco de contágio, então o melhor ainda é manter o distanciamento social, especialmente uma população de risco como os idosos”, explica Daniel Apolinário, geriatra do Hospital do Coração (HCor).
“Não houve uma mudança no cenário, mas a população está sendo mais consciente, então estamos autorizando as visitas, desde que conduzidas com segurança, decidindo em conjunto se aquele é mesmo o melhor momento para isso”, comenta o infectologista Lívio Dias, da Pro Matre Paulista.
A escolha pela visita deve considerar tanto a segurança da criança, que pode se infectar, mesmo que na maioria dos casos a doença nelas seja leve, quanto a dos idosos, que estão no grupo de risco de versões graves de Covid-19.
Crianças podem ser assintomáticas
Ainda não está claro o papel das crianças na cadeia de transmissão do novo coronavírus porque se supõe que muitas delas sejam assintomáticas ou tenham manifestações tão leves que não levantam a suspeita da infecção, de modo que é difícil saber quem estaria carregando o vírus.
“Fora que muitas famílias acabaram não respeitando totalmente a quarentena, e os filhos tiveram contato, mesmo que indireto, com outros adultos e crianças, então podem levar o vírus para o idoso que está isolado em casa, mesmo que eles em si não tenham sintomas”, destaca Dias.
O risco aumenta conforme a idade e as comorbidades dos avós. “Se é uma pessoa de 60 anos, saudável, o risco é menor. Agora, um idoso de 80 anos, com problemas cardíacos ou diabetes, está muito vulnerável, então nesse caso devemos ser mais rigorosos”, exemplifica Apolinário.
Cuidados para tomar na visita
Algumas famílias estão até optando por visitar os avós de carro, conversando pelo vidro do carro. Se a decisão, no entanto, for promover mesmo o encontro físico, a orientação é não descuidar da prevenção. Primeiro, ninguém deve ir à casa de outra pessoa se está com sintomas respiratórios ou outros relacionados à Covid-19 – no caso das crianças, por exemplo, há sinais pouco claros como diarreia e dores abdominais.
O mesmo vale para quem teve contato com casos suspeitos ou confirmados nos últimos 14 dias, em especial se a visita for a um recém-nascido ou uma gestante.
Depois, é preciso usar máscaras (menos os menores de dois anos) e respeitar o distanciamento social durante a permanência, evitando beijar e pegar bebês e crianças no colo. Crianças mais velhas devem ser orientadas a manter distância dos avós para a proteção deles.
Para ter mais segurança ainda, procure fazer visitas curtas, que não envolvam, por exemplo, compartilhar uma refeição. “É um momento de altíssimo risco, com todos sem máscara, conversando e compartilhando objetos. Se for acontecer, o ideal é comer em uma área aberta, com bastante circulação de ar”, ensina Apolinário.
Adianta fazer o teste de Covid-19 antes de ir visitar?
Com a chegada dos testes à rede particular de saúde e a possibilidade até de comprar um exame rápido na farmácia, muita gente tem utilizado esse recurso como “passaporte” para visitar os parentes. Mas a estratégia não é recomendada.
O PCR, que é o teste que detecta a presença do coronavírus no organismo, traz apenas um registro do status da infecção no momento da coleta. “Ou seja, o teste de hoje não vale para daqui a alguns dias, porque o contágio pode ocorrer a qualquer hora”, aponta Dias.
A sorologia de anticorpos é ainda mais frágil como prova, pois há uma janela de tempo para que eles apareçam. “O exame pode demorar até dez dias para dar positivo depois do contato com o vírus”, expõe Apolinário. Fora isso, ainda não se sabe se o fato de ter desenvolvido anticorpos significa que a pessoa está protegida de contrair (e consequentemente transmitir) novamente a Covid-19.