No processo de criação dos filhos, mulheres relatam como as mudanças de prioridade as levaram a uma nova definição do que é cuidar de si.
É comum a gente ver uma mulher grávida ou com um bebê no colo pela primeira vez e tachar “já é mãe”. Mas a verdade é que perceber-se dentro da maternidade é uma construção diária. Entre mamadas, carinhos e noites mal dormidas, há a percepção do conforto e também do desafio de descobrir-se responsável por um ser tão pequenino.
Neste processo, pode ser difícil lembrar de cuidar de si, especialmente no puerpério. “O bebê reconhece primeiramente a mãe e na sequência passa a reconhecer o pai. Por conta dessas necessidades e de uma demanda muito intensa do bebê, as mulheres acabam esquecendo do autocuidado e se privam de algumas coisas”, explica Patrícia Guillon Ribeiro, psicóloga e coordenadora do curso da Pós-Graduação em Abordagens Multidisciplinares da Saúde Mental na Infância e Adolescência da PUCPR.
Para que a mãe consiga voltar a se notar, é preciso que ela perceba suas vontade alheias às necessidades apenas do bebê. E neste quesito, é um trabalho pessoal, mas que pode ser facilitado se houver pessoas ao redor desta mulher, auxiliando no que for preciso, além de um parceiro cumprindo sua função paterna.
“Por mais que as pessoas estejam acostumadas a visitá-la, levar presente, não perguntam se podem ajudá-la. É importante que se pense que a prática da nossa comunidade como um todo precisa mudar. A mulher enquanto puérpera precisa que as pessoas entendam que pode existir uma rede social de amparo para ela e não só um parceiro participante, mas sim de pessoas que possam apoiá-la e dar espaço para que ela olhe para si mesma“, detalha Patrícia.
Nesta busca interna, desconsiderando opiniões e pitacos alheios, é comum perceber-se com dúvidas sobre estar conseguindo ou não cuidar de si. E, mais do que isso, acabar descobrindo uma nova definição de autocuidado conforme as vivências maternas vão acontecendo. Ela pode incluir momentos preciosos com os filhos, mas também sozinhos, com a companhia que nunca nos falta: a própria.
“É natural que a ideia de autocuidado se modifique porque a mulher começa a lidar com outras prioridades, ou seja, ela passa a lidar com um bebê que tem necessidades de adaptação e o autocuidado vem sendo retomado aos poucos. Mas, talvez, ele não vai acontecer da mesma forma que antes. Apesar disso, é um comportamento extremamente importante para que a mãe esteja bem com ela mesma e possa estar bem e disponível para cuidar do seu bebê”, pontua a psicóloga.
Ela ainda lembra que este processo de cuidar primeiro de si, para ser capaz de acolher o outro é o que eles chamam de máscara de oxigênio no avião. “Primeiro você coloca em você para depois colocar na pessoa que está do lado, mesmo que ela seja uma criança. Não se pode dar ao outro o que está faltando para você”, reforça.
Para entender como o autocuidado é visto por diferentes figuras maternas, convidamos quatro mães para contarem como elas enxergam este processo de contato e respeito consigo mesma com demandas de filhos, trabalho e casa.