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Devo procurar professor particular para meu filho por causa da pandemia?

Entre os pré-escolares, a necessidade de uma ajuda externa é discutível. Veja o que ponderar e em quais casos o reforço no aprendizado pode ser válido!

Por Flávia Antunes
16 jul 2021, 17h20

Mandar ou não o filho de volta para a escola durante a pandemia tem sido um tema que divide opiniões e depende da situação individual de cada família. Enquanto algumas crianças não veem a hora de se reunirem com a turma, outras podem apresentar algumas dificuldades de primeiro momento, como insegurança e apego em relação aos pais.

E da mesma forma que este processo desafiador pode partir dos pequenos, as preocupações também são apresentadas pelos adultos em relação aos menores. Depois de mais de um ano em isolamento social e seguindo intensas medidas de proteção, é esperado que os pais repensem a segurança do filho no ambiente escolar, como está sua saúde física e mental e se o seu aprendizado está dentro do esperado para a idade, já que ele pode não ter se adaptado bem ao ensino à distância ou a sua forma híbrida.

Neste último caso, em que há o receio de que a criança tenha tido alguma “defasagem” durante os meses de pandemia e não acompanhe o ritmo de conteúdo da instituição no retorno presencial, as famílias podem sentir necessidade de recorrer a uma ajuda extra, como um professor particular.

Mas quando o profissional é realmente necessário?

A resposta não é unânime entre os especialistas. Mas o que eles apontam é que, na maioria das vezes, a urgência de um profissional especializado para auxiliar no ensino das crianças menores é bastante rara.

“Quando trata-se de pré-escolares, a procura por um professor particular é absolutamente discutível. Porque, na teoria, não há um conteúdo fixo, então não há como ter um ‘atraso’ propriamente dito. As propostas de ensino têm muito a ver com o brincar, com o cuidado e, por fim, a apresentação dos conteúdos”, explica a pedagoga Alessandra Gaidargi, pós-doutora em educação.

A exceção acontece em casos em que o filho já está um pouco mais velho, por volta dos sete anos, e pode ter dificuldade em algum tema específico – inclusive no processo de alfabetização. “Sem dúvidas há casos em que a criança tem alguma defasagem e precisa de ajuda externa”, afirma a psicopedagoga e professora Thaise Pregnolatto.

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“Mas em um primeiro momento, o ideal é investigar o motivo dessa defasagem – porque se for algum transtorno de aprendizagem, por exemplo, só o professor particular não dará conta”, alerta a especialista.

Em resumo, a principal função desse profissional seria o de dar uma atenção individualizada que os pais não têm condições de fornecer – seja porque não têm conhecimento técnico do conteúdo ou por estarem ocupados trabalhando, por exemplo.

Já nas faixas etárias menores, a ajuda seria benéfica mais para reforçar habilidades sociais do que focar em aprendizados específicos. “Em um contexto em que as crianças não estão indo à escola, o professor particular pode ajudar nas relações interpessoais e de interação, o que é muito importante nessa idade”, complementa Alessandra.

Antes de procurar ajuda…

Até que se chegue à decisão de contratar um professor particular, as especialistas indicam que os pais considerem alguns pontos, como a própria observação de como está sendo a relação dos filhos com as propostas escolares.

“Em séries iniciais, em que não há provas ou notas, é sempre importante que haja essa troca com os professores e que a família observe outros indicadores de aproveitamento. Ver, por exemplo, se a criança está fazendo atividades com facilidade, como reage a essas tarefas, se reclama de fazê-las… E sempre manter o diálogo com a escola”, recomenda a psicopedagoga.

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Se a grande preocupação for de que o pequeno não se adaptou às aulas online, Alessandra logo adianta que a dificuldade com o digital tem sido a regra e não a exceção. Por isso, Thaise orienta que os pais reflitam antes se o ensino da escola foi feito de maneira adequada para a idade das crianças, se foi respeitado o (pouco) tempo em que conseguem manter o foco e que tipo de atividade foi proposta neste período.

“A pergunta deveria ser ‘por que a criança não se adaptou ao ensino online?’, para depois pensar se seria interessante um professor particular”, diz a professora.

Existe “atraso” entre os pré-escolares?

Outro ponto a ser levado em conta, como as próprias especialistas pontuam, é que o “atraso” entre os pré-escolares tem muito mais a ver com as relações sociais que estabeleceram ou não conseguiram durante os meses de pandemia do que com o conteúdo escolar que não acompanharam.

O natural, segundo as profissionais da educação, é que a própria instituição crie estratégias para retomar os aprendizados e fazer com que os alunos cheguem a níveis parecidos. “E mesmo que ocorra uma aceleração de alguns processos, nem sempre é necessário um professor particular. Às vezes, é preciso que a escola perceba que está indo muito rápido e pense em novas maneiras. O mais importante é que recuperem as relações escolares”, reforça Alessandra.

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(lithiumcloud/Getty Images)

O aprendizado não acontece apenas na sala de aula

Para tranquilizar ainda mais as angústias dos pais, a pedagoga lembra que ter ficado em casa durante a pandemia não significa que os pequenos deixaram de aprender – apenas que entenderam outras coisas e de maneiras diferentes.

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“As crianças estão aprendendo o tempo todo, e não apenas quando estão em aula. Precisamos dar repertório para que aquele aprendizado formal e escolar faça sentido. Por exemplo, durante uma viagem, podemos chamar a atenção para que o filho observe a serra, explicar que o ouvido fica entupido… Porque quando ele for estudar na escola, saberá o que está sendo falado”, exemplifica Thaise.

Quando se trata da alfabetização, pode até ser que ela tenha sido prejudicada pela falta de atenção direcionada durante a pandemia. Mas como pontua a pedagoga, tudo é estímulo para esse ensinamento – desde identificar as letras nos joguinhos ou nas embalagens da cozinha até o incentivo de observarem os pais lendo.

“A alfabetização está ligada com o letramento, com a maturidade da criança e com as relações que ela estabelece. Crianças que foram estimuladas dentro de casa a conversarem, fazerem alguma atividade, devem estar dentro desse processo, porque não assistir todas as aulas não ‘breca’ o aprendizado. Claro que a mecânica do escrever é um treino, mas será feito quando voltarem à escola”, esclarece Alessandra.

Como procurar um professor particular

Se depois de ponderarem e terem uma conversa com a escola, os pais decidirem por contratar um professor particular, o ideal é que seja uma pessoa de referência – indicada pela instituição ou por conhecidos – e que esteja de acordo com o que os responsáveis desejam.

“Normalmente, as próprias escolas têm um banco de professores particulares que atuam com as crianças, alinhados a determinadas metodologias. Há outras redes que também oferecem esse serviço”, lembra a pós-doutora em educação.

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O tempo de acompanhamento com o profissional é variável e depende do motivo pelo qual o professor foi contratado. Se for pontual, apenas para reforçar determinado conteúdo, a ajuda pode se encerrar assim que o aprendizado acontecer.

E em casos dos transtornos de aprendizagem?

Ter dificuldades em uma ou outra habilidade específica é natural, mas em casos específicos – como quando a criança tem algum transtorno de aprendizagem – nem sempre o professor particular é a pessoa indicada para dar o suporte necessário.

“Ele é um profissional da educação e alguns têm formação em psicopedagogia ou em algum tipo de tema auxiliar que trata mais profundamente desse tipo de questão. Todos têm uma base dos transtornos de aprendizagem, mas para ser um atendimento mais especializado, geralmente é preciso um profissional da área da saúde”, indica a pedagoga.

Assim, o professor particular pode até ajudar, mas sempre orientado pela equipe multidisciplinar que cuida desse aluno, como neuropsicólogo, psicopedagoga e neuropediatra. 

Suporte, mas com autonomia

Um último alerta para os pais que optarem pela ajuda do professor particular é que se tenha cuidado para que sua função não tire a autonomia do aprendizado das mãos do pequeno.

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“Ele tem que desenvolver características de responsabilidade e de comunicação. A tradução da outra pessoa é importante, mas sempre mantendo a oportunidade de que a criança explore por si o conteúdo e que crie uma relação importante com o professor”, diz Alessandra.

Assim, não se esqueça: dificuldades são inerentes ao processo de aprendizagem e até mesmo importantes para que ele aconteça por completo. “Porque se tirarmos todas as frustrações e desafios do caminho, retiramos também a possibilidade de que a criança exerça a inteligência e busque novos caminhos”, finaliza a pedagoga.

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