A minha filha nasceu em minhas mãos em um parto humanizado hospitalar. Fui a primeira pessoa a tocá-la e sorrir para ela. Poucos minutos depois, enquanto ela curtia a sua primeira mamada, meu dedo era apertado firmemente por sua mãozinha e ela me olhava como quem queria dizer:
– Então era você que ficava cantando pra mim toda noite?
Eu nunca saberei se ela curtia a minha cantoria, já a mãe dela eu tenho certeza que passou um sufoco com a minha voz de taquara rachada. À noite, ainda na maternidade, enquanto a minha esposa tomava banho, a Luísa repousava em meus braços, pele a pele, tranquila, relaxada, totalmente diferente do pai: travado, soando frio e planejando o que faria se aquele pingo de gente começasse a chorar. Mas deu tudo certo. Era o nosso momento, só nosso, momento que todo homem deveria vivenciar.
A vida nos dá muitas oportunidades de criarmos vínculos com os nossos filhos, todos os dias, basta estarmos presentes para elas.
Nos primeiros meses, eu passei algumas noites acordado cuidando da minha filha e confesso que não foi o fim do mundo. Desde a gravidez, tem gente que adora colocar pressão nos pais de primeira viagem: “Dorme agora, porque depois que nascer, você não dorme mais!”. É verdade, suas noites nunca mais serão as mesmas, mas quem nunca perdeu uma noite de sono para ficar em uma festa chata? Com bebida quente, música alta e rodeada de desconhecidos?
Depois que a Luísa nasceu, as nossas festas tinham leitinho quente, às vezes um chorinho de cólica, canções de ninar e as pessoas que mais amo ao meu lado. Ok, tinha alguns cocôs explosivos também, que desnorteavam qualquer pai de primeira viagem. Quanto a isso, tudo bem, nenhuma festa é perfeita. O que mais importa são as companhias, não é verdade?
Depois vieram os banhos em que eu me molhava mais que a minha filha. E me divertia mais também!
Vieram também momentos de muita sujeira na fase da introdução alimentar. Primeiras engatinhadas, primeiros passinhos, primeiros machucados, desmame noturno, por aí vai. São histórias que nunca me cansarei de contar, porque realmente são valiosas para mim.
O vínculo paterno é construído diariamente, através de ações simples do dia a dia, como uma troca de fraldas, um contar de história, um banho com jeitão de pai etc. Nessas pequenas interações, a criança vai percebendo no pai também um porto seguro e aí estabelecendo esse laço forte.
A ciência afirma que a interação entre pai e filho é um dos fatores decisivos para o desenvolvimento cognitivo e social de uma criança. Que essa relação facilita a capacidade de aprendizagem e a integração da criança na sociedade.
Se eu pudesse dar uma única dica aos pais de primeira viagem, seria: abrace as oportunidades de criar um vínculo com o seu filho, que são MUITAS! Você não conseguirá abraçar todas de uma vez, mas se você estiver presente para a importância do seu papel, com certeza conseguirá criar filhos melhores, terá uma família melhor e se tornará um ser humano melhor.
Fernando Strombeck é humorista, pai de primeira viagem da pequena Luísa, de 1 aninho, e autor do livro “Papai Comédia – da descoberta ao parto humanizado”