Continua após publicidade

Abandono paterno: 10 relatos mostram como ele é prejudicial

Infelizmente, crescer sem a presença do pai ainda é a realidade que muitas crianças brasileiras enfrentam.

Por Luísa Massa
Atualizado em 25 abr 2018, 22h06 - Publicado em 11 ago 2017, 18h56

Quantas pessoas você conhece que foram vítimas do abandono paterno? Em 2013, o Conselho Nacional da Justiça (CNJ), tendo como referência o Censo Escolar de 2011, apontou que 5,5 milhões de crianças brasileiras não possuem o nome do pai registrado na certidão de nascimento. Entre todos os estados do país, o Rio de Janeiro apareceu no topo da lista.

Em 2016, o diretor Alexandre Mortaguatomou – que faz parte das estatísticas porque foi abandonado pelo pai quando nasceu – propôs lançar um documentário para discutir a questão. A ideia do filme “Todos Nós 5 Milhões” é trazer histórias de famílias que passaram por isso e mostrar a visão de especialistas. Infelizmente, o projeto não atingiu a meta proposta para o financiamento coletivo e por enquanto não foi lançado.

“Os prejuízos vão muito além do nome que não consta na certidão. O abandono material acarreta sérias consequências na subsistência da criança, que depende só da mãe para ser provida. No entanto, a longo prazo, o abandono afetivo acarreta traumas que jamais serão mensurados, já que a ausência paterna pode trazer inúmeros danos psicológicos”, ressalta Thaís Perico, advogada especializada em assessoria para mulheres e sócia do escritório Lima Perico Sociedade de Advogadas, de São Paulo.

Realmente, as consequências desse ato irresponsável se refletem na vida do pequeno, prejudicando-o de diversas maneiras e interferindo nos aspectos físico e psíquico do seu desenvolvimento. “Desde o útero, a criança já escuta e discrimina a voz dos pais devido à diferença de tonalidade. Portanto, o vínculo do bebê com a figura paterna se inicia ainda na vida intrauterina”, afirma a psicóloga Isis Pupo.

Mas e se existisse algum tipo de punição legal para isso? Será que os números seriam menores? “Atualmente, fala-se com frequência em reparação de danos morais pelo afastamento afetivo. Muitos juízes têm condenado os pais ausentes por isso, embora saibamos que não há quantia fixada capaz de reparar dano de foro íntimo. Ações de reparação poderiam abordar a questão do abandono de uma maneira coletiva e pedagógica, ou seja, ensinando outros pais a repensarem suas condutas”, reforça a advogada.

Para dar a voz a quem passa por isso com os filhos, pedimos às nossas leitoras que nos acompanham nas redes sociais para deixarem o seu depoimento e contarem o quanto a ausência paterna vem impactando a vida dos pequenos. Veja os relatos abaixo:

Continua após a publicidade

No meu caso, na época eram três crianças de 3, 5 e 6 anos. Casei muito nova e não fui feliz em meu relacionamento. Ter decidido pela separação não significaria o fim da paternidade, mas ser pai requer coragem e sabedoria – e ele foi covarde. Houve muitas perdas, sim, e quem perdeu mais foi ele, pois deixou de conviver com crianças espertas, alegres e amáveis. Eu fiz meu papel de ‘pãe’, amando-as e me doando sempre de coração.

Ayrla Marcia

Tinha 18 anos quando descobri que estava grávida. Feliz, falei para o pai da criança, porém ele não teve reação nenhuma – nem de alegria, nem tristeza. Depois de uns dias, ele chegou com um envelope com dinheiro e pensei que era para fazer o enxoval do meu filho, mas não: era para ir a uma clínica clandestina de aborto no lugar onde moro. Simplesmente peguei o dinheiro e comprei o enxoval do meu filho. Hoje ele tem 13 anos e recebeu o diagnóstico de TDAH, mas é muitíssimo inteligente. Deus me deu a benção de ter um filho. Naquela época era tão difícil – apenas estudava, não tinha emprego e sofri muito.

Franci Milson

Sou mãe e estou solteira desde o início da gestação. Tive um relacionamento com o genitor que durou quase 10 anos. Mas quando soube da gravidez, ele preferiu não participar e assim tem sido desde então. Minha filha nasceu há 1 mês e a minha família tem me apoiado e estado ao meu lado desde o começo. Ele pôde conhecê-la dois dias depois do nascimento, a registrou na semana seguinte, mas foi sua única participação como pai até o momento.

Thais Luz

É muito triste quando os pequenos perguntam pelo pai e damos várias explicações. Minha filha tem 3 anos e quando vê alguma coleguinha chamando o pai, ela também quer chamar o seu. Hoje a pequena chegou toda feliz da escola com o convite da festinha de Dia dos Pais e pergunta direto: ‘mãe, cadê o meu papai?’. Quando namorávamos éramos muito felizes – tudo até a descoberta da gravidez. Essa foi a última vez que tive contato com ele. Pensei que seria a melhor notícia do mundo, mas foi o fim para o meu ex-namorado quando disse que estava grávida. No dia seguinte, ele me ligou apenas para dizer que estava com o dinheiro do aborto. Desliguei o telefone e esse foi o último momento em que nos falamos. Hoje minha filha é minha grande felicidade.

Deborah Ferreira Serra

Infelizmente, a minha pequena foi vítima do abandono paterno. Penso muito no futuro e em como será a vida adulta dela com a ausência. Essa é minha maior preocupação porque sei que a presença paterna é importante para o desenvolvimento do indivíduo como um todo. Quem faz esse papel é o meu pai – homem que admiro muito e ela segue o mesmo caminho. Hoje ele é pai de duas e um avô maravilhoso!

Aline de Melo
Continua após a publicidade

Eu tenho dois filhos: um menino de 10 anos e uma menina de 3. Eles são filhos de pais diferentes, só que o pai do primeiro continuou participando após a separação. Mas o pai da caçula nunca quis saber dela desde que contei que estava grávida. Eu tentei aproximação, mas foi inútil. Ela o conhece, vê umas 5 vezes no ano, mas por insistência minha. Por ele, ela nem tinha nascido.

Renata Nascimento

Falo que a minha filha é abençoada e ela mesma diz: ‘tenho dois papais’. O pai biológico tinha uma participação mais presente na vida dela, mas desde que me casei, ele se afastou. Sempre a mando para passar 7 dias de férias na casa dos avós paternos, então, ele dá atenção nesse período. Mas o meu atual marido não faz diferença nenhuma dela não ser filha de sangue e oferece muito amor e cuidado. Não sei o quanto é difícil viver sem uma figura paterna, mas acredito que isso afeta muito o desenvolvimento psicológico e emocional. Mesmo assim, agradeço ao meu bom Deus por ter dado dois papais para a minha filha.

Carol Toledo

Conheci o pai da minha filha e estava tudo indo bem, mas quando falei da gravidez, ele pediu para não avisar ninguém e disse que eu deveria abortar. Não atendi aos pedidos e começou o sofrimento, pois pensava todos os dias como seria ter uma criança sem família. Passei toda a minha gestação sozinha, ouvindo-o pedir para ‘tirar’ o bebê. Depois que tive a minha filha, ainda escutei um monte dele e um dia até chegou a ofendê-la. Hoje, Heloísa está com um ano e é a minha motivação para seguir em frente. Ela é meu raio de luz a cada manhã, o meu motivo para sorrir. O infeliz não a registrou e não quer saber de visitá-la. O caso está nas mãos da Justiça e uma hora ele terá que pagar. Mas a justiça que mais espero é a divina – essa, sim, eu sei que pesa e dela eu espero que ele pague por tamanha crueldade. Às vezes, eu fico pensando quando a minha princesinha vier me perguntar onde está o papai dela e só de imaginar já me vêm lágrimas nos olhos. Mas eu peço forças a Deus para continuar a vencer todos os dias, pois a pequena é um anjo lindo na minha vida.

Mara Santos

Eu perdi o contato com o pai da minha primeira filha assim que desconfiei da gravidez. Ele nunca quis saber de mim e da pequena. Ainda o esperei para poder registrá-la e ele só foi reaparecer quinze dias após o nascimento. Mas mesmo assim, eu, com todo o amor de mãe e para não deixá-la sem o “pai”, fui e a levei para conhecê-lo. Só que ele não quis saber dela. Quando a minha filha tinha dois aninhos, eu conheci um rapaz e estamos juntos até hoje. Ele, sim, cuidou dela como se ela fosse realmente dele e juntos tenho mais três lindas meninas. E o detalhe que sempre me comoveu: ele NUNCA fez diferença entre as garotas. Pois é, ele é um pai maravilhoso.

Michele Regina Valentim

A Julia tem 3 anos e 6 meses e não teve nenhum contato direto com o pai. Dias antes dela nascer, nós nos separamos e desde então ele não acompanhou o desenvolvimento da pequena, mas sabe que ela é sua filha. Deposita a pensão e não mostra interesse em conhecê-la, abraçá-la, sentir seu cheirinho. Não entra na minha mente como é possível não mostrar instinto paterno, fechar os olhos e fazer de conta que a filha não é compromisso dele. Felizmente, a Ju é muito amada pelo meu irmão que oferece para ela o amor que o pai não dá. Ele, que é tio e dindo, é muito amado pela Ju e é isso que conforta o meu coração e me faz acreditar que um ser que abandona uma criança não é merecedor do amor puro e verdadeiro de um anjo.

Andressa Rakel
Continua após a publicidade

Publicidade