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Maternar, trabalhar, respirar

Publicitária, diretora executiva na Maternativa, Vivian Abukater é mãe de dois meninos que ensinaram que a maternidade é a melhor escola de negócios que existe e que conciliar o cuidados dos filhos com o trabalho não é só papel das mães.

Empreender não tem nada de romântico, principalmente se você é mãe

Toda mãe que escolhe abrir um negócio pode ter sucesso sim, mas é preciso ter coragem, estudar, circular e encarar a realidade com lucidez.

Por Vivian Abukater
Atualizado em 2 fev 2021, 17h06 - Publicado em 12 out 2020, 14h00
 (Malte Mueller/Getty Images)
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Quando o mercado de trabalho fecha às portas ou quando o desejo de estar mais próximo dos filhos é incontrolavelmente avassalador empreender muitas vezes aparece como solução para milhares de mães no Brasil. Mas será que esse caminho é para você?

Eu já empreendo desde 2012 e trabalho com o empreendedorismo materno desde 2015. Durante esses anos todos aprendi muita coisa e posso dizer com absoluta certeza: Empreender não tem nada de romântico, principalmente se você é mãe.

Olha o olho do furacão que estamos no momento. Pandemia mundial, crise econômica latente e depois de sete meses sem escolas, não deve ter sido surpresa para você as notícias dos últimos dias que têm demonstrado, com estatísticas, que mais uma vez o mercado de trabalho está fechando suas portas, principalmente para as mulheres mães.

O resultado tem sido uma grande procura de mães com desejo de abrir um negócio ou que estão iniciando como empreendedoras. São mulheres que foram demitidas ou que ficaram incapazes de trabalhar por serem mães solo ou por não terem nenhuma rede de apoio para o cuidado de seus filhos durante o isolamento social.

A busca por conhecimento e informações na comunidade da Maternativa, empresa da qual sou diretora-executiva disparou. Na mesma medida, também aumentou o número de relatos de mulheres que foram demitidas durante esse período e de mães que já são empreendedoras, mas que estão com grande dificuldade de manter a produtividade e as vendas em seus negócios.

Não dá para romantizar o empreendedorismo

Não me leve a mal, minha intenção de forma nenhuma é tirar as esperanças de ninguém. Estou aqui para ajudar qualquer mulher mãe que for iniciar uma trajetória como empreendedora, mas é preciso fazer isso de forma lúcida, sabendo o que vem pela frente.

Quando resolvi empreender já tinha meu primeiro filho. Foi uma decisão, uma escolha minha e mesmo tendo bastante bagagem – foram 12 anos no mundo corporativo, diploma de publicitária e de pós-graduada em administração – eu me assustei muitas vezes, levei e ainda levo vários tombos no caminho.

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Conciliar os cuidados com os filhos e um negócio simultaneamente é das tarefas mais difíceis da vida. Meu negócio rapidamente se tornou praticamente um novo filho que me pedia atenção e tempo e que, ao invés de sorrisos, me enviava boletos.

Eu resolvi escrever essa coluna com foco no empreendedorismo materno para dividir um pouco sobre o que aprendi e o que ainda sigo aprendendo. Quero começar por 3 ciladas que eu vivi  – e que vivem no nosso imaginário – mas já aviso, tem muito mais pegadinhas por aí além dessas.

Cilada 1Empreender vai me dar mais tempo para cuidar nos meus filhos
Eu descobri no dia a dia que esse pensamento não é totalmente verdade. Eu sentia desde o início do negócio e ainda sinto o tempo escorrendo pelos meus dedos. Quando trabalhava formalmente eu tinha hora pra chegar e hora pra sair. Mesmo levando trabalho para casa, tudo ficava mais dividido entre o que acontecia na empresa e o que acontecia na minha casa. A divisão era mais clara. A realidade de quem começa um negócio é que acaba trabalhando muito mais, porque o trabalho acontece muitas vezes dentro de casa.

Sim, é verdade que eu ganhei muito mais autonomia e flexibilidade, podendo escolher o que fazer do meu tempo. Mas também ganhei novas responsabilidades, tive que desenvolver disciplina para criar uma rotina, criar formas de organizar o tempo e colocar limites para mim e para meus filhos.

Cilada 2 Achar que o trabalho como empreendedora ou seu negócio vale menos do que um trabalho com carteira assinada.
Quando resolvi empreender levei algum tempo para ter coragem para contar para todo mundo o que eu estava fazendo e tornar público meu negócio. Eu vivia com algumas dúvidas na cabeça. O que as pessoas vão pensar? E se não der certo? Todo mundo vai achar que não sou boa o suficiente. E mais ainda: eu tinha um medo de falhar que era quase paralisante.

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O primeiro desafio da jornada é se assumir como empreendedora e valorizar seu trabalho, dar a ele a importância que você dá ou daria para um emprego com carteira assinada. Nós precisamos colocar de lado a autossabotagem, enfrentar o medo de falhar e ter coragem para colocar o bloco na rua!

Se você não dá importância ao seu negócio, ninguém mais vai dar. Se você não comunica que aquilo é um trabalho importante, isso acaba atrapalhando até em casa. Muitas vezes quem mora com a gente nos sobrecarrega com todas as atividades domésticas, porque, afinal, “você está em casa mesmo”, né? CILADA, CILADA, CILADA!

Tenha claro que seu trabalho não tem menos valor e não é porque você está em casa que precisa assumir todas as tarefas sozinha.

Cilada 3 – Começar um negócio em uma área que você conhece pouco ou que nunca trabalhou.
Eu preciso te contar que a cilada três foi o que quase me derrubou logo de cara. A vida toda eu trabalhei com gestão de negócios e marketing mas, vai entender o porquê, eu resolvi abrir uma lavanderia. Eu tinha voltado de uma viagem internacional onde lavava minhas roupas em serviços self-service e desconhecia esse modelo em São Paulo. Achei que era uma oportunidade de mercado. Fiz pesquisas de franquias e resolvi montar uma por conta própria.

Até custos de investimento inicial já estavam levantados quando encontrei uma amiga que me perguntou se eu tinha certeza que iria gostar de trabalhar nesse ramo. Eu rapidamente respondi que sim, então ela me fez uma provocação boa, sugerindo que eu passasse uma semana trabalhando em uma lavanderia para saber como negócio funcionava na prática. Foi isso que eu fiz.

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Conversei com o franqueado de uma lavanderia que tinha estudado e pedi para ir trabalhar por uma semana para acompanhar a rotina. Em quatro dias, eu tinha certeza absoluta que abrir uma lavanderia seria um grande erro.

Experimentar o negócio me fez perceber que mergulhar no desconhecido pode ser um grande problema. Fica a minha dica para sempre testar o ramo que você pretende atuar antes de começar.

Na Maternativa eu conheci inúmeras mães que começaram seus negócios em ramos infantis ou ligados a maternidade e que depois se arrependeram. Isso porque muitas vezes achamos que um interesse temporário pode ser duradouro.

Quando temos filhos ficamos mergulhadas nesse universo e é comum nos apaixonarmos por ele, mas às vezes esse sentimento passa. As crianças crescem e você tem saudades de se envolver com coisas diferentes do universo materno-infantil.

Não é para todo mundo, mas se for pra você, coragem…

Vou precisar colocar um pouco mais de pimenta e realidade nessa conversa. Como diz o ditado, “rapadura é doce mas não é mole” e começar um negócio não é nem doce e nem mole.

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Empreender, fazer bicos e se virar ainda é a solução para grande parte das mães no Brasil. De acordo com pesquisas do Sebrae, a maior parte das mulheres empreende por necessidade. Você sabe o que isso significa? Significa que a motivação para começar um negócio não é uma oportunidade identificada no mercado e sim uma alternativa para muitas mulheres buscarem autonomia financeira e levar renda para casa.

É importante dizer também que nem todas as mães escolhem empreender. Além das demissões, existe a dificuldade de encontrar trabalho após a chegada dos filhos. Horários pouco flexíveis que não são viáveis, falta de creches em período estendido, falta de dinheiro para pagar alguém para cuidar das crianças são situações que inviabilizam a rotina da família.

Posso dizer que já vi muitos casos de negócios de mães empreendedoras contrariarem as estatísticas e darem certo, pagando as contas da casa e sustentando suas casas e seus filhos. Empreender exige coragem e ter coragem é praticamente sinônimo da palavra mãe. Você pode até se sentir sozinha muitas vezes, mas também pode encontrar muito apoio ao lado de outras mulheres.

…e estude, circule, aprenda!

As empreendedoras no Brasil são mães. De acordo com pesquisas da RME (Rede mulher empreendedora) a grande maioria (75%) começa a empreender depois da chegada dos filhos.

Para empreender você precisa estar disposta a aprender, estudar e se relacionar. Eu comecei em 2012 e era bem solitário, mas em 2015 entrei no primeiro grupo de apoio ao empreendedorismo materno que surgiu no Brasil: A Maternativa, empresa que me tornei sócia anos mais tarde.

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Hoje em dia, existem muitos grupos que apoiam o empreendedorismo. Estão no Facebook , no Instagram e espalhados por todas as capitais e em muitas cidades do Brasil. Se não tiver um na sua cidade, virtualmente você poderá se juntar a muitos deles.

Depois de tudo isso, você pode estar se perguntando: Toda mãe pode ser empreendedora? Quando é melhor esquecer a ideia e batalhar por uma vaga de trabalho?

Vou dizer o que eu penso. Toda mãe que escolhe empreender pode conseguir ter sucesso sim, mas ela precisa estar ciente dessa decisão. Ter um negócio rentável não é tarefa fácil e leva tempo. Qualquer pessoa que vai abrir um negócio precisa parar, pensar e principalmente fazer as contas e ver quanto tempo ela é capaz de aguentar de trabalho duro com resultados que podem demorar.

Agora, se mesmo depois de ler tudo isso, você ainda sentir um impulso para um novo negócio, comece estudando! Entre nas comunidades e nos grupos de empreendedoras mães. Converse muito e com muitas pessoas, não tenha medo de perguntar tudo que quer saber, não tenha medo de planejar. O mundo não anda fácil e entre mulheres mães você vai encontrar acolhimento e ajuda, além de se conectar com um mundo novo de possibilidades.

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