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Cultivo Materno

Jornalista fundadora do Co.madre, Juliana Mariz acredita que mães não têm superpoderes, são mulheres de carne e osso sobrecarregadas e que merecem um lugar de destaque na sociedade

Maternidade é se olhar no espelho. Ou melhor, no retrovisor.

Bem-vinda, adolescência! Ri das indecisões da minha filha, porque me lembrei das minhas. Maternar é este convite à revisão da nossa própria história.

Por Juliana Mariz
14 ago 2021, 14h00
Foto de menina e mulher com filtro verde e aplicação de flores
 (Maskot/Getty Images)
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Minha filha fez 12 anos no começo do mês. Um pé está fora da infância, mas outro, algumas vezes, prefere se manter por lá. Posso considerá-la uma adolescente em estágio inicial. Está cheia de desejos que expressam tentativas de dar contorno à sua identidade. É bonito de ver, mas tomo cuidado ao olhar. Qualquer palavra em falso desperta uma miniexplosão.

Lembro, então, do termo “matrescência”, conjunto de transformações físicas e psicológicas que acontecem com a mulher quando se torna mãe. Eu me torno mãe todo dia. É gerúndio. O meu crescimento segue a todo o vapor e depende do dela. Esse convite ao autoconhecimento, à revisão da nossa própria história, ao desenvolvimento pessoal é o que de mais maravilhoso a maternidade proporciona.

Há 12 anos sou mãe. Me sinto mais leve e confortável nesse papel. Ganhei – de mim mesma – a autorização para ser eu mesma diante da minha filha mais velha. Saem certas armaduras que escondem inseguranças, somem certas couraças que acobertam medos. Enquanto ela se mostra cada vez mais como um ser único e autêntico, eu também revelo minha versão mais crua. Retiram-se arestas e fica apenas uma conexão forte construída há mais de uma década.

Bem-vinda, adolescência!

Antes de enviar esse texto, almocei sozinha com minha primogênita. Quando soube que estaríamos só nós duas, ela me disse que precisava me contar algo. Gelei, mas fingi normalidade. Estou ficando craque nisso. Na verdade, ela apenas queria questionar se poderia fazer um novo esporte. Em seguida, avisou que ia falar algo, mas que eu deveria prometer não brigar. E me contou que não queria mais cortar o cabelo, que estava indecisa, em uma crise existencial. Sim, ela usou essa expressão, crise existencial.

Bem-vinda, adolescência. Não dava mais para negar que eu tinha um exemplar dessa tribo na minha frente. Comecei a rir das indecisões dela porque passei a lembrar das minhas. Maternidade é se olhar no espelho. Ou melhor, no retrovisor.

Depois desse almoço, fui à farmácia e ela me acompanhou. A atendente do caixa disse que éramos muito parecidas e perguntou se éramos mãe e filha. Assenti e ainda questionei se ela tinha percebido a semelhança mesmo estando nós duas de máscara. Ela disse que sim e ainda emendou com o comentário de que minha filha tinha um olhar muito meigo. Nesse momento, relaxei e sorri. Minha filha fez 12 anos, está cheia de dúvidas e alguma espinha no rosto, mas conserva o mesmo olhar meigo de quando nos conhecemos. Respirei satisfeita.

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